Industria Textil e do Vestuário - Textile Industry - Ano XVI

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Investimento de grandes empresas de consumo cresce 47%

Varejo e indústria investem mais neste ano, mas incertezas do novo governo pesam em 2023

Por Adriana Mattos

Empresas do setor de consumo, maior empregador do país e responsável por mais de 60% do Produto Interno Bruto (PIB), retomaram a capacidade de investimento após 2021, passada a crise da pandemia, atingindo em 2022 um dos mais altos níveis dos últimos anos. Apesar desse cenário, líderes do segmento projetam maior prudência na liberação de recursos nos primeiros meses de 2023, até que se tenha clareza sobre a condução da política econômica e o compromisso com a estabilidade fiscal do governo eleito.

Segundo levantamento do Valor nos balanços das dez maiores varejistas e indústrias dos segmentos de bens duráveis, moda, alimentos e bebidas, foram investidos R$ 19,66 bilhões no ativo imobilizado (equipamentos, móveis, como lojas e centros de armazenagem) e no intangível (marcas e patentes, softwares) de janeiro a setembro. A soma é 47% superior a um ano atrás.

Os dados, coletados nas demonstrações do fluxo de caixa dos últimos cinco anos, ainda incluem pagamento de aquisições e aumento de capital em controladas, mas desconsideram títulos e valores mobiliários e venda de ativos.

O total é o dobro do desembolsado até setembro de 2019, último ano antes da crise sanitária. O crescimento nas varejistas é maior do que nas indústrias.

Nas varejistas, o caixa aplicado em investimentos até setembro alcançou R$ 11,1 bilhões, 56% superior ao apurado um ano antes, e próximo do total desembolsado no acumulado do ano passado (R$ 11,2 bilhões). Na indústria, foram R$ 8,6 bilhões até setembro, alta de 38% frente ao mesmo período do ano anterior – porém, ainda depende dos desembolsos dos últimos três meses para superar 2021. No ano passado, os investimentos somaram R$ 10,6 bilhões.

Apesar do ambiente de demanda ainda fraca no ano, houve uma retomada de lançamentos, pelo lado das fabricantes, e de reabertura de lojas, pelas redes. Para citar alguns exemplos, a fabricante de fogões e geladeiras Whirlpool (dona de Brastemp e Consul) voltou a criar novas linhas em 2022, após isso ficar em segundo plano em 2020. Pagamentos de aquisições, de startups e negócios no varejo, aceleraram os desembolsos no ano.

A análise do Valor incluiu os balanços das cinco líderes nos dois setores. Entre as redes, GPACarrefourMagazine LuizaViaAmericanas, e entre os fabricantes, Ambev (bebidas), Natura (cosméticos), Whirlpool, Alpargatas (calçados) e M.Dias Branco (alimentos) – as maiores em suas respetivas áreas.

Há diferenças no ritmo de crescimento entre os grupos, e os próprios balanços explicam os dados.

Pesou nos desembolsos do varejo neste ano a aceleração dos gastos do Carrefour, que fechou a compra da rede Big (ex-Walmart), com pouco mais de R$ 4 bilhões liberados até setembro. No Magazine Luiza, houve pagamentos de aquisições dos últimos anos, somando R$ 540 milhões de janeiro a setembro, mais de três vezes o ano anterior.

A Americanas veio em seguida, com uma alta de 30%, para R$ 1,8 bilhão até setembro, efeito, em parte, da alta de 103% nos intangíveis de um ano para cá, que incluem desenvolvimento de websites e sistemas.

Na visão do GPA, a necessidade de acelerar investimentos no “core” do negócio em 2022, que envolve novos conceitos de lojas e do modelo digital do Pão de Açúcar, e na conversão de pontos fechados do Extra no Pão, levou a uma aumento nos desembolsos. Para 2023, o grupo projeta investimentos no mesmo nível ou levemente acima de 2022, ao se descontar o gasto com essas conversões. Incluindo esse valor, haverá recuo.

“Baixando a poeira da polarização política e com uma realidade mais estável, inflação controlada e sinais claros de compromisso [do governo Lula] com o equilíbrio fiscal, a confiança cresce e o investidor volta”, diz Marcelo Pimentel, CEO do GPA.

Na indústria, há diferentes desempenhos. Na Alpargatas e na Whirlpool o caixa aplicado em investimentos sobe. Na Ambev, o fluxo de caixa para investir, em R$ 4,5 bilhões, recua 5% sobre um ano antes. E frente ao acumulado de R$ 7,8 bilhões em 2021, seria preciso ampliar a soma em mais de R$ 3 bilhões até o fim de 2022 para equiparar ao valor de 2021. A empresa não se manifestou.

Na Natura, a queda é de 13% de janeiro a setembro versus mesmo intervalo de 2021. Em reestruturação, a empresa vem revisando projetos em marcas neste ano. Procurada, a Natura não comentou.

Neste momento, o tema da capacidade de investimento é foco de discussão dentro dos conselhos de administração porque, entre outubro e dezembro, é preciso definir o orçamento do ano seguinte. Incertezas sobre as diretrizes do novo governo tem impacto na definição do orçamento de 2023, que considera variáveis como juros, inflação e PIB. “O ambiente está um pouco confuso, e de certa forma, isso é até natural pela migração de governos”, diz Jorge Gonçalves, presidente do IDV. “Não se fala em congelar investimentos em 2023, o varejo tem que ser otimista. Mas estamos num período que chamo de ‘observação curta’”.

Os primeiros sinais mostram projeções mais duras para o consumo no início de 2023. O IDV, maior entidade do varejo do país, projeta recuo de 6,4% nas vendas em janeiro sobre o ano anterior, descontada a inflação (IPCA).

A questão central, na visão de Fernando Pimentel, presidente da Abit, associação do setor têxtil, é a falta de visibilidade para os negócios. “Está todo mundo em compasso de espera”, diz. “Para o direcionamento dos investimentos para 2023 é preciso saber os nomes do novo governo e os sinais iniciais que estes devem passar inicialmente ao mercado. A outra questão é a gestão das contas públicas. Se vamos ter alguma âncora fiscal que gere confiança nos investidores. O mercado não briga com ninguém, ele dá preço e pune falta de visibilidade”, diz.

Pedro Moreira, presidente da Abralog, de empresas de logística, observa que os juros futuros subiram, após o governo eleito passar sinais contraditórios sobre a questão fiscal. “Os investimentos não estão parados, nem ficarão, só que a perspectiva é de um primeiro semestre com menos recursos investidos e uma melhora possível no segundo semestre. As grandes empresas conseguem até manter gastos maiores, mas as outras têm mais dificuldade nesse ambiente, sem sabermos qual será o plano de renovação de frota e o projeto de investimentos em infra-estrutura”.

Fonte: Valor Econômico

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