Industria Textil e do Vestuário - Textile Industry - Ano XVI

Industria Textil e do Vestuário - Textile Industry - Ano XVI

Têxtil e Vestuário à procura da próxima geração de materiais

Os desafios, ambientais e de escassez de matérias-primas como o algodão ou o poliéster, estão a gerar um ambiente propício ao desenvolvimento de materiais de terceira geração, que estão a ganhar uma renovada importância na indústria da moda.

[©CircularSystems]

Em 2020, foram produzidas, em todo o mundo, 109 milhões de toneladas de fibras, de acordo com um estudo recente da Textile Exchange, que revela que a «produção de fibras praticamente duplicou nos últimos 20 anos» e que «embora não seja ainda claro como a pandemia e outros fatores poderão impactar o desenvolvimento no futuro, espera-se que aumente mais 34%, para 146 milhões de toneladas, em 2030, se a indústria regressar ao negócio como habitual».

Este aumento na produção de fibras, explica, «tem impactos significativos nas pessoas e no planeta. A consciência de uma necessidade urgente na utilização de meios e na separação entre crescimento e consumo de recursos está a aumentar. Contudo, a mudança não está a acontecer à escala e rapidez necessárias», salienta o estudo.

Segundo os dados da Textile Exchange, as fibras sintéticas dominaram o mercado em 2020, tal como acontece desde meados dos anos 90, representando 62% da produção de fibras mundiais. Só o poliéster teve uma quota de 52%, equivalente a cerca de 57 milhões de toneladas em 2020, enquanto a poliamida, a segunda fibra mais usada, representou 5,4 milhões de toneladas, ou cerca de 5% do mercado mundial de fibras.

As fibras naturais à base de plantas tiveram uma quota de mercado de cerca de 30% no ano passado, dominada pelo algodão (26 milhões de toneladas, ou 24% de quota), enquanto as fibras celulósicas artificiais representaram cerca de 6% do mercado, equivalente a 6,5 milhões de toneladas, e as fibras de origem animal ficaram-se por uma quota de 1,57%.


Mylo [©Mylo]

As questões associadas à pegada ambiental destas fibras – numa conferência, Jeremy Lardeau, vice-presidente do Higg Index na Sustainable Apparel Coalition, afirmou que 60% a 80% das emissões de carbono da indústria da moda dizem respeito à extração, processamento e produção de matérias-primas – têm levado investigadores e atores da indústria a procurar alternativas.

O estudo State of the Industry da Material Innovation Initiative (MII) refere que o mercado de matérias-primas de nova geração deverá crescer para 2,2 mil milhões de dólares (cerca de 1,87 mil milhões de euros) até 2026, equivalente a cerca de 3% de todo o mercado de materiais, que rondará os 70 mil milhões de dólares.

Desde 2015 foram investidos 1,29 mil milhões de dólares em materiais de nova geração, aplicados por 95 investidores, quer individuais, quer de private equity, capital de risco e marcas de moda. Só em 2020, e apesar da pandemia, foram angariados 504 milhões de dólares, quase o mesmo valor que no conjunto dos anos anteriores, salienta o estudo.

«À medida que enfrentamos mudanças climáticas potencialmente terríveis, a indústria dos materiais de próxima geração deve ser acelerada», afirma Nicole Rawling, CEO e cofundadora da MII. «Investimentos significativos, parcerias e mais empresas e investigadores de materiais a estudarem os desafios que a indústria enfrenta são muito necessários. A colaboração na inovação sustentável vai resultar tanto num futuro próspero para as empresas de materiais, marcas e investidores bem-sucedidos, como num futuro passível de ser vivido na Terra», acrescenta.

PRR impulsiona matérias-primas alternativas

Em Portugal, o tema tem sido debatido no âmbito do Plano de Recuperação e Resiliência (PRR). Centrado, no que à indústria têxtil e vestuário diz respeito, na bioeconomia, e atribuindo uma dotação orçamental de 145 milhões de euros para este tema, o PRR pretende, neste âmbito, «promover uma alteração de paradigma para acelerar a produção de produtos de alto valor acrescentado a partir de recursos biológicos (em alternativa às matérias de base fóssil). Através de uma transição para a Bioeconomia Sustentável é possível apoiar a modernização e a consolidação da indústria por meio da criação de novas cadeias de valor e de processos industriais mais ecológicos, apresentando-se assim como uma oportunidade para toda a Europa».


Piñatex [©Heimtextil]

O documento indica, citando os dados da Agência Europeia do Ambiente, que «o consumo de vestuário, calçado e têxtil-lar na União Europeia utiliza, anualmente, 1,3 toneladas de matérias-primas e mais de 100 metros cúbicos de água por pessoa. Acresce que as emissões associadas a este segmento tendem a aumentar: em 2017 estima-se que o conjunto dos sectores gerou cerca de 650 kg de dióxido de carbono equivalente por pessoa, sendo que apenas 25% destas emissões são contabilizadas em território europeu».

Em Portugal, aponta, «cerca de dois-terços de todas as fibras utilizadas na ITV são de origem fóssil, sendo as restantes fibras naturais, maioritariamente algodão». Tendo em conta as questões ambientais associadas às fibras sintéticas – como a utilização de recursos de origem fóssil e, portanto, finitos, e a libertação de microplásticos nos oceanos – e ao algodão, nomeadamente o elevado consumo de água e solo, «é urgente procurar fibras alternativas de origem renovável, com melhores credenciais ambientais» e, por isso, o PRR pretende «criar, em Portugal, as condições favoráveis para a produção eficiente de fibras naturais sustentáveis através de matérias-primas alternativas (biomassa florestal e agrícola) e para a produção de têxteis funcionais a partir de resíduos agroindustriais através da adoção de uma cultura de inovação, de incorporação digital e de evolução permanente de processos de produção».

Uma área que tem vindo a ser explorada, há vários anos, por diversas empresas e entidades, tanto fora como dentro de Portugal, que têm empenhado esforços para se manterem na vanguarda do desenvolvimento de materiais alternativos.


https://www.portugaltextil.com/itv-a-procura-da-proxima-geracao-de-...

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