Industria Textil e do Vestuário - Textile Industry - Ano XVI

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Jean Paul Gaultier: Uma carreira às riscas
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A mariniére, pronta a vestir, de Jean Paul Gaultier conta com 38 riscas, desenhadas numa passerelle horizontal. Com a icónica camisola à marinheiro, o estilista deixou um aviso à navegação. Depois de 38 anos a acenar no final dos desfiles chegou a altura de dizer adeus, ao prêt-à-porter. Uma despedida sentida, em Paris, na apresentação das coleções primavera/verão 2015. O estilista abre a cortina do cinema Le Grand Rex e deixa cair o pano, por cima das manequins. Um espetáculo de variedades, onde os anos 80 piscam a pálpebra azul à laca dos anos 90. Onde o kitsch aperta a mão ao fixe. Inimigo dos estereótipos, melhor amigo da mulher e amante da criatividade. Seja bem-vindo à despedida de Jean Paul Gaultier, o grande coração do métier. O grande senhor que deixa o pronto a vestir, mas que, por amor à camisola de marinheiro, vai continuar em alta. Em alta costura.

Gaultier faz uma vénia às mulheres, às quais conhece o corpo, as medidas e as manias. Dá uma faixa de Miss a todas as que desfilam, a quem se senta a assistir e aos que pagam para ver. Neste espetáculo de variedades não há nada a provar e tudo para celebrar. Setenta e oito coordenados recordam uma carreira que não vai em modas. O criador dá corda aos pedais e faz a Tour de France, com todos os que o ajudaram a desenhar a trigésima oitava risca na camisola. Neste espetáculo de variedades, a Miss Meteo muda de humor conforme o tempo. À passagem da Miss Wag, o bling bling reflete-se na aliança de casamento das mulheres dos jogadores de futebol. A Miss Vintage brinda às rugas, com um copo de vinho amadurecido e deixa-se pairar acima das videiras. A Miss Smoking aparece de fato preto e com um cigarro aceso na boquilha, a calar a boca às chamas da indústria. A Miss Lucha Libre chega a partir tudo, antes da eleição da Miss Jean Paul Gaultier. A Miss eleita foi a modelo Coco Rocha. O Mister pode, muito bem, ser você.

  • Miss Lucha Libre. De máscara ou de capa. As rainhas da luta diária, com pulsos de ferro. Entraram prontas para tudo. Para o dia e para a noite.

Um espetáculo que marcou o fim de uma era, na moda do pronto a vestir. O último desfile de Jean Paul Gaultier, para quem a imagem da moda não é um cabide pendurado e tem sempre alguém dentro, alguém em reação. Reações históricas, agora penduradas em cabides, nos arquivos da marca. Começou em 1976 e criou uma atmosfera própria. Shows onde a diversão dança ao som da seleção musical. Sempre quis que fosse a personalidade a contar a história. Sempre interpretou as correntes sociais, elevando-as a um expoente criativo. Um talento de olhos e riscas azuis. Um talento amarrado ao mundo da moda, com nó de marinheiro.

Uma alma de artista e uma aura feita à mão, com tecidos nobres. Para muitos, a personificação da boa pessoa, da boa energia e da simpatia. Os sorrisos eram os acessórios mais vistosos em cada desfile. Jean Paul Gaultier, transformava cadeiras de pernas cruzadas em aplausos de pé. Partiu preconceitos com o martelo da justiça e acompanhou rugas, preferências sexuais e curvas voluptuosas até ao pódio. Fez-nos pensar. E rir. Vai continuar comprometido com o espírito dos desfiles de alta costura, que exigem mais criatividade na investigação. Diz que talvez vá fazer coleções cápsula, mais acessíveis, figurinos para teatro, concertos ou decoração. “Vai dar-me mais tempo para fazer outras coisas. Não podia parar e não fazer nada. Se assim fosse, só podia estar louco. Podia morrer.” Este capitão despiu a camisola mariniére e amarrou-a às velas do navio “Haute-Couture”. Este capitão não abandona o barco. Palavra de marinheiro.

Patricia Tavares – Jornalista de Moda (www.patriciatavares.pt)

http://pt.euronews.com/2014/10/12/jean-paul-gaultier-uma-carreira-a...

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