Industria Textil e do Vestuário - Textile Industry - Ano XVI
Um novo ciclo está se formando nas araras das lojas de moda brasileiras. Cada vez mais, grandes varejistas estão apostando em coleções de jeans circular, um modelo de produção que reaproveita peças usadas ou sobras industriais para gerar novas roupas. A prática, que até pouco tempo atrás era restrita a projetos pontuais, agora começa a ganhar escala e espaço nas vitrines, impulsionada por metas ambientais mais rigorosas e pela pressão de um consumidor mais consciente.
O conceito é simples: o cliente leva uma calça usada a uma loja participante, onde a peça é depositada em uma caixa de coleta. O tecido é então desfibrado, transformado novamente em fios de algodão e usado na confecção de novas peças, que retornam às lojas para fechar o ciclo. A iniciativa, conhecida como economia circular do jeans, busca prolongar a vida útil do material e reduzir o desperdício de tecidos, um dos maiores desafios da indústria têxtil.
Entre as empresas que lideram o movimento estão Riachuelo, C&A e Youcom, que, em um curto intervalo, anunciaram novas coleções com o tecido reciclado. A Riachuelo apresentou sua maior linha de jeans circular, feita com quase 10 toneladas de aparas de fábrica. A C&A lançou 50 mil peças confeccionadas a partir de roupas coletadas em seu programa ReCiclo, e a Youcom apostou em uma coleção inédita com jeans reciclado tingido de preto, resultado de um ano de desenvolvimento técnico.
O entusiasmo do setor tem explicações práticas. O jeans é considerado um dos tecidos com maior potencial de reciclabilidade na indústria, segundo especialistas do Senai CETIQT. Mesmo após passar por processos mecânicos de trituração, suas fibras mantêm resistência e durabilidade semelhantes às do algodão virgem — um desempenho comparado por alguns profissionais à reciclagem do alumínio na metalurgia. Essa característica o torna especialmente valioso em um cenário de escassez de matérias-primas sustentáveis.
Ainda assim, o caminho para a circularidade enfrenta obstáculos. O custo elevado do processamento, a falta de infraestrutura industrial e a limitação tecnológica para tingimentos e misturas mais complexas são barreiras apontadas pelas varejistas. “A cadeia ainda está se adaptando”, explica Taciana Abreu, diretora de sustentabilidade da Riachuelo. Segundo ela, os investimentos em maquinário e pesquisa são essenciais para ampliar o uso do fio reciclado, que hoje representa cerca de 25% da composição da coleção Pool Loop da marca.
A C&A também vem investindo em inovação para tornar o jeans circular mais competitivo. Desde 2021, a empresa já colocou em circulação cerca de 250 mil peças com materiais reciclados, e afirma que os avanços na tecnologia dos fios vêm diminuindo diferenças perceptíveis de textura e qualidade em relação ao jeans tradicional. “Hoje o produto chega às lojas com o mesmo padrão de qualidade, mas com menor impacto ambiental”, afirma Cyntia Kasai, gerente sênior de ESG da varejista.
Já na Youcom, a aposta vai além da reciclagem: a marca oferece 15% de desconto a clientes que entregam uma calça usada em troca. A proposta, chamada Jeans for Change, cria um incentivo direto para que os consumidores participem do ciclo de reaproveitamento. Segundo Bárbara Barreira, diretora de estilo da empresa, o tingimento do jeans reciclado em preto foi um avanço significativo, mesmo com as limitações da tecnologia mecânica usada no Brasil. “É um processo que ainda impõe desafios, mas representa um passo importante para uma moda mais consciente”, diz.
O movimento pelo jeans circular ocorre em um momento estratégico, marcado pela chegada da sueca H&M ao Brasil — uma gigante global da moda conhecida por suas coleções sustentáveis. Apesar da coincidência, especialistas afirmam que o avanço das iniciativas locais não é mera resposta à concorrência estrangeira. “A sustentabilidade deixou de ser diferencial e passou a ser obrigação”, analisa Patrícia Cotti, professora da FIA Business School. Com consumidores mais atentos e dispostos a cobrar responsabilidade ambiental, o jeans circular surge não apenas como tendência, mas como um símbolo de transformação da moda brasileira rumo a um futuro mais sustentável.
Fonte: Ana Gimonski | Foto: Divulgação/Estadão
Por: anna
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