O roraimense Ramon Barboza, de 25 anos, não tem dúvidas de que a paixão pela moda o permitiu mudar de vida. Ele, que na infância não tinha dinheiro para comprar revistas sobre corte e costura ou adquirir as roupas que sonhava ter, hoje empilha pedidos de clientes e fãs dos seus vestidos, que chegam custar até R$ 12 mil.
Filho de servidora pública e de um ex-garimpeiro, Ramon diz que não se lembra do primeiro contato que teve com a moda. "Foi tão natural e espontâneo que não sei dizer quando foi que comecei a gostar de moda. Lembro que aos quatro anos já gostava de vestir bonecas. Aos sete, desenhava e aos oito anos costurava as roupas das bonecas", narra.
Na mesma época, o jovem conta que sentia na pele os reflexos de não ter dinheiro suficiente para aprender mais sobre moda. "Tudo era muito difícil e limitado para mim, mas eu me esforçava. Lembro que desde pequeno assitia a muitos programas de TV e foi assim que aprendi meus primeiros conceitos sobre moda", relata.
Anos mais tarde e já em situação melhor, Ramon começou a ganhar mesada da mãe e gastar tudo em tecido, linha e agulha. "Eu cheguei a uma fase em que comprava vestidos para transformar em outras peças", descreve o jovem que é autodidata e diz nunca ter feito cursos de corte, costura ou design voltado à moda. "Aprendi tudo sozinho".
Preconceito
Quando começou a produzir vestidos - sua grande paixão - Ramon tinha apenas uma cliente: a própria mãe. "Ela usava os vestidos só para me agradar, mas com um porém: só vestia se fosse em casa, jamais para sair porque eles eram malfeitos", relembra.
Na mesma época, o preconceito e as críticas eram constantes, mas a vontade de fazer carreira no mundo da moda era maior. "Pelo fato de ser homossexual, sempre tive de enfrentar comentários do tipo 'essa profissão [estilista] não é coisa de homem'. Foquei em não me importar, porque acredito que o preconceito vem de dentro da própria pessoa, então escolhi não dar ouvidos a isso", conta.
Aos 23 anos, e depois de muita persistência e treinos com a máquina de costura da avó, Ramon 'pegou gosto de vez pelo trabalho' quando fez um intercâmbio na Europa. "Cursei arquitetura na UFRR [Universidade Federal de Roraima] e terminei o curso fora do Brasil. Aproveitei muito o tempo em que fiquei na Europa para estudar e conhecer tudo que podia sobre moda, mas também me mantive focado na arquitetura, que hoje também exerço".
Ao voltar para o Brasil, o jovem começou a investir na produção de vestidos para mulheres 'ousadas, extravagantes, sensuais e viajadas'. "O meu grande público são as noivas, as jovens que vão se formar e misses", conta, acrescentando já ter feito vestidos até para uma Miss Brasil. "Já produzi mais de 180 vestidos e os mais caros, que são os de noiva, custam até R$ 12 mil".
Planos
Fã de grandes estilistas como Zuhair Murad, Yves Saint Laurent e Channel, Barboza tem vontade de largar a profissão de servidor público e se manter apenas com os trabalhos de arquiteto e estilista.
Futuramente, a ideia do jovem é abrir pontos de venda nos grandes centros nacionais e até internacionais. "Quando comecei a produzir, fazia tudo sozinho, desde o desenho, até a costura e o acabamento. Hoje, conto com a ajuda de bordadeiras, que me auxiliam na produção, e futuramente quero vender minha marca fora de Roraima", planeja.
Aos outros jovens que também sonham em seguir a profissão e enfrentam dificuldades, Ramon aconselha: "É preciso ter coragem para lutar pelo que se quer. Os elogios são o que me movem, mas às vezes as pessoas vão fazer críticas duras e você deve aprender a lidar, porque pode tirar um grande aprendizado disso".
http://g1.globo.com/rr/roraima/noticia/2015/10/jovem-de-familia-pob...