Transformar gírias e regionalidades em roupas e acessórios é um desafio que muitos jovens do Sul de Minas têm assumido. Eles montam grifes próprias e de maneira independente, por meio das roupas e acessórios recriam expressões e fontes de renda.
“Interiô é mato”. A forma escrita em conjunto com a oralidade da palavra Interiô, que significa interior, resumem o sucesso da grife criada há cinco anos pelo empresário Roberto José de Lima, 26 anos, conhecido como Bebeto, que também é músico.
Com desenhos e frases criativas, ele encontra mercado junto a grupos e artistas da região. “As pessoas se identificam com o orgulho de morar em Minas Gerais e a grife propõe justamente isso”, explica.
A marca, que começou a ser divulgada no boca a boca, hoje tem adeptos em várias cidades e até mesmo em municípios do interior de São Paulo, para onde Bebeto viaja e expõe as roupas em feiras e eventos de hip-hop.
O crescimento da marca também permite que ele comercialize as roupas em lojas de Poços de Caldas (MG) e as produza também em larga escala para grupos de dança, que adotam moletons e camisetas da marca como figurino em apresentações por todo país. Recentemente ele lançou, por meio das redes sociais, a campanha “Vista-se por dentro”, que estimula os usuários da marca a tirarem fotos com as roupas e postarem em redes sociais como o Facebook.
“A maior dificuldade foi no começo. Até conseguir a confiança das pessoas, quebrar a barreira entre uma brincadeira que deu certo e uma marca que as pessoas querem vestir. Hoje eu tenho a minha própria estamparia, funcionários, costureiras e loja virtual. Resolvi sair da informalidade e me profissionalizar”, conta.
A fórmula deu certo. Tanto que hoje, além de confeccionar as roupas da própria grife e vestir alguns artistas locais, Bebeto terceiriza confecções para outras pessoas. “Já fiz roupas para o grupo de rap Inquérito, que é do interior de São Paulo, mas percorre todo país com shows, para a marca Suburbano Convicto, da capital paulista e até mesmo para o Portal Rap Nacional, que fica em Itajaí (SC)”, lembra.
O economista Rafael Sangiotto acredita que a expansão do mercado para este tipo de grife tem a ver com a identificação que as pessoas encontram nas roupas.
“As pessoas criam uma marca, normalmente, por dos motivos: fortalecer uma ideia e ganhar dinheiro. O que normalmente dá certo quando há planejamento e um público apto a consumir”, considera.
A jornalista Lúcia Ribeiro, 25 anos comprova isso. Ela é uma das adeptas da grife. “Eu visto a marca Interiô porque achei sensacional ideia de sair às ruas com um produto de qualidade, sem falar que a marca tem a mão de alguns amigos meus que batalharam muito para ver as roupas no meio da galera. Eu me sinto muito confortável com as camisetas, tanto que comprei duas de uma vez só. Se o objetivo da marca é deixar a pessoa linda, conseguiu comigo”, dispara.
Para estilista Lorena dos Santos 32 anos, os empresários têm notado que público que acompanha movimentos e é ligado à culturas urbanas é cada dia mais expressivo. “Sabemos que o mercado ainda não atende a necessidade deste público com excelência, por isso vemos tantas marcas investindo, de forma significativa e em larga escala. Vale destacar que o hip-hop preza muito isso e dissemina, através das roupas, mensagens coerentes, atuais e criativas”, pontua.
Dona de uma grife independente, a Lolita Az Avessas, que também mescla a música com a moda, Lorena acredita que a criatividade é o que impulsiona jovens empresários no ramo da moda. “Eles tem atitude e querem mostrar isso. A roupa é uma das maneiras encontradas para eles se expressarem. Eu mesma mesmo a minha grife com a cultura hip-hop, visto que a rua é a maior fonte de informação que um estilista precisa para construir qualquer tipo de trabalho. É ali que existe a diversidade. Um exemplo é que a grife desenvolve figurinos para a cantora Zaika dos Santos e estabelece esse diálogo ao abordar a sustentabilidade”, considera.
Parcerias, investimentos e moda
O empreendedorismo sempre fez parte da vida de Erison Ribeiro. Aos 22 anos ele é empresário há dois anos e mantém uma loja em uma galeria de Poços de Caldas, voltada ao estilo hip-hop.
Antes disse, ele já se aventurava em confecções próprias e criou a K.O., marca inspirada na expressão “Não vem com caô”, e representada por um diamante quebrado. “Diamante não quebra, logo é mentira. Resolvi fazer esse trocadilho e investir na marca. Graças a Deus tem dado certo, tanto nos figurinos femininos como nos masculinos”, relata.
Ele conta também que tudo começou com uma paixão por moda e por hip-hop e da brincadeira surgiu a profissão. “Hoje tenho também a marca que leva o nome da minha loja, a Dog Style, com confecções masculinas, femininas, estampas e bordados. “Resolvi criar esta nova marca para divulgar a loja e para o pessoal entender um pouco mais sobre o estilo que eu vendo e quero propagar na região”, afirma.
Na loja, ele recebe amigos, conhecidos, promove pequenos encontros e eventos e propaga o ideal contido nas marcas. Além, é claro, de faturar o suficiente para manter-se longe do vermelho. “O mais importante é que trabalho com o que eu gosto, vendo as minhas roupas e invisto no estilo que acredito”, pontua.
O bacana é que Ribeiro é parceiro de Bebeto, e muitas das estampas, inclusive da K.O., são feitas na estamparia da Interiô, como um trabalho personalizado. Juntos, inclusive, já estiveram à frente do desfile de modas “Alternativa B.”, realizado em 2011 para adeptos da cultura hip-hop em Poços de Caldas e que reuniu quarto marcas diferentes e 16 modelos.
Quem também faz questão de fortalecer as novas marcas é Marília Wugirl, da cidade de Tatuí (SP). Ela trabalha com moda e sempre que pode, visita Poços de Caldas para participar de eventos, como o desfile Alternativa B. “Eu e meu marido gostamos de fortalecer a cultura hip-hop e nosso trabalha com moda favorece isso. Foi uma honra ser convidada para o desfile”, diz.
E a frase dela é compleada pela de Ribeiro. “Com o desfile encontramos uma forma de sermos nós mesmos. É algo que está no coração, no nosso modo de viver e de ser”, finaliza.
FONTE: PORTAL G1
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