Kendrick Lamar e o retorno do jeans bootcut: tendência ou ousadia passageira?

[Romildo de Paula Leite]

Kendrick Lamar não chamou atenção apenas por suas rimas afiadas e sua performance intensa no Super Bowl. Entre versos provocativos e uma presença de palco magnética, o rapper roubou a cena ao vestir um jeans bootcut da Celine. O modelo, que por anos foi relegado ao limbo fashion, agora ressurge em um dos maiores palcos do mundo, levantando a questão: será que a peça está pronta para voltar ao mainstream?

Na cultura pop, o bootcut já tem seu espaço garantido. O modelo, que ajusta na coxa e abre levemente na barra, aparece em “A Complete Unknown”, cinebiografia de Bob Dylan, revelando que o próprio cantor já customizava seus 501s para caberem sobre as botas antes mesmo da Levi’s oficializar a tendência nos anos 1960. No entanto, convencer o público masculino a adotar um novo corte de calça nunca foi tarefa fácil. Afinal, se há algo que os homens prezam na moda, é a estabilidade – e o domínio das calças largas ainda se mantém firme.

Os dados do mercado mostram que as modelagens amplas seguem no topo, impulsionadas pelo revival dos anos 2000 e pelo conforto que oferecem. No entanto, estilistas e marcas já ensaiam uma virada de chave. Depois de anos de supremacia do baggy, cortes mais ajustados e estruturados voltam a ganhar espaço nas passarelas e nas ruas. Para quem acompanha tendências, o movimento é natural: a moda opera em ciclos, e o retorno do bootcut se encaixa perfeitamente nesse jogo de alternâncias.

Além da estética, o jeans sempre foi um termômetro cultural. O skinny rockstar dominou os anos 2000, enquanto o oversized surfou na onda da nostalgia Y2K. Agora, o bootcut aparece como uma alternativa elegante, combinando a nostalgia dos anos 70 com a sofisticação contemporânea de marcas como Celine. A dúvida que fica é se os homens comuns vão abraçar a tendência ou se ela permanecerá restrita a fashionistas e estrelas do entretenimento.

Se depender de Kendrick Lamar, a resposta já foi dada. Mais do que uma peça de roupa, seu jeans no Super Bowl foi um símbolo de ruptura e experimentação – algo que, no fim das contas, é o verdadeiro motor da moda. E se a história nos ensinou algo, é que basta uma grande referência para transformar um detalhe de styling em um fenômeno global.

Fonte: Ana Gimonski | Foto: Divulgação

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