O encontro foi promovido pelo presidente francês Emmanuel Macron, durante a cimeira do G7 em Biarritz, que decorreu de 24 a 26 de agosto, meses depois de sugerir a François-Henri Pinault, CEO do grupo Kering, a criação desta coligação sustentável. «Acreditamos que temos uma responsabilidade para avançar com as melhores práticas no sector do luxo e esperamos criar um movimento que encoraje outros a segui-lo», tinha afirmado Pinault na Cimeira de Copenhaga.
Novos compromissos globais
Juntas estas marcas representam mais de 30% do volume de negócios da moda. Cada signatário compromete-se a atingir metas em três grandes áreas: combater as alterações climáticas, restaurar a biodiversidade e evitar a poluição dos oceanos. Mais concretamente, estes são alguns dos objetivos específicos:
- atingir zero emissões de carbono até 2050;
- alcançar 100% da energia renovável em todas as suas operações
- criar incentivos aos seus fornecedores para fazer a mudança para energias renováveis até 2030;
- eliminar plásticos de um só uso até 2030;
- apoiar a inovação para eliminar a poluição por microfibras resultante da lavagem de materiais sintéticos;
- apoiar abordagens regenerativas da agricultura e programas para proteger espécies em risco e ecossistemas.
Limitações
Este pacto «sem precedentes», como foi caracterizado pelo grupo Kering, apresenta, contudo, algumas limitações que podem condicionar o seu efeito.
Por um lado, não é juridicamente vinculativo. Ou seja, trata-se apenas de um conjunto de guias, cujo incumprimento não é penalizado, ainda que as empresas sejam obrigadas a apresentar relatórios do seu progresso. Marie-Claire Daveu, diretora de sustentabilidade do Kering defende que «não podemos pressionar os grupos diretamente. Mas ao praticar uma transparência melhorada e coletiva, há um incentivo para que os signatários cumpram os objetivos e não se deixem ficar para trás».
Por outro lado, o grande problema está na cadeia de aprovisionamento, a fase do processo produtivo que provoca um maior impacto ambiental. A maioria das empresas assinantes não detém a propriedade direta das cadeias de aprovisionamento, logo torna-se pouco claro o nível de controlo que possam ter sobre as mesmas. Apesar de estarem previstos alguns incentivos financeiros para pressionar os fornecedores a cumprir os objetivos, pode criar-se uma resistência na sua adaptação.
É importante também notar a hipótese da sustentabilidade estar em desacordo com o crescimento. Um relatório recente da Boston Consulting Group e outros dois grupos revelou que os esforços da indústria da moda não estão a ser suficientes para compensar o crescimento. «A indústria precisa de acelerar o ritmo. As marcas estão a apresentar melhorias lentamente e, ao mesmo tempo, temos assistido a um aumento elevado da produção», refere o documento. Um dos grandes problemas da indústria assenta na quantidade de roupa que é produzida. Sem que haja uma redução da produção, será difícil mitigar o impacto.
Por fim, apesar da conquista em ter mais de 30% da indústria da moda nesta coligação, isto significa também que a grande maioria não está aqui representada. Há que ter em conta que este é também um trabalho de alguns meses e há possibilidade de mais marcas se juntarem ao grupo.
Até ao momento, são signatárias do “The Fashion Pact” as marcas Adidas, Bestseller, Burberry, Capri Holdings Limited, Carrefour, Chanel, Ermenegildo Zegna, Everybody & Everyone, Fashion3, Fung Group, Galeries Lafayette, Gap, Inc, Giorgio Armani, H&M Group, Hermès, Inditex, Karl Lagerfeld, Kering, La Redoute, MatchesFashion.com, Moncler, Nike, Nordstrom, Prada Group, Puma, PVH, Corp, Ralph Lauren, Ruyi, Salvatore Ferragamo, Selfridges Group, Stella McCartney e Tapestry, Inc.
Este novo compromisso deverá ser implementado no próximo ano, antes da coleção outono-inverno. Segundo o documento, «não reinventará a roda, mas criará uma estrutura abrangente de ação», construída sobre iniciativas já existentes como a Apparel Impact Institute, C&A Foundation, Ellen MacArthur Foundation, Fair Fashion Center, Fashion For Good, Sustainable Apparel Coalition, Textile Exchange, The United Nations Framework Convention on Climate Change (UNFCCC), UN International Labour Organization/Better Work e ZDHC.
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