Industria Textil e do Vestuário - Textile Industry - Ano XVI

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Lições do outro lado do Atlântico: O que Portugal pode ensinar à indústria têxtil do Vale

Paulo Vaz
Presidente da Associação Têxtil e Vestuário de Portugal (ATP), Paulo Vaz participou da Febratex Summit nesta semana em Blumenau (Foto: Giselle Seibel, Divulgação)

A concorrência com produtos bem mais baratos – apesar da qualidade inferior – de origem asiática, especialmente da China, quase fez a indústria têxtil entrar em colapso. A leitura, comum entre empresários do ramo do Vale, se aplicaria perfeitamente ao Brasil do início dos anos 90 pós-abertura do mercado. Mas, neste caso, vem de alguém com conhecimento de causa no outro lado do Atlântico: Paulo Vaz, diretor-geral da Associação Têxtil e Vestuário de Portugal (ATP). Ele esteve em Blumenau nesta semana, onde falou sobre as transformações da indústria têxtil de seu país em um painel da Febratex Summit.

O case português revela semelhanças com o mercado têxtil brasileiro que vão além da língua. Como aqui, lá a influência chinesa no segmento desestabilizou muita gente, com a diferença deste movimento ter se intensificado na virada do século – bem depois de quando ocorreu no Brasil, portanto. Isso acabou, por necessidade, provocando mudanças profundas no modelo de negócio das empresas: era se aprimorar e encontrar uma nova vocação ou sucumbir aos asiáticos. A saída do buraco passou pela diferenciação, explica Vaz:

— Deixamos de ter um modelo baseado na eficiência e no preço para ter um modelo mais focado no valor. E como você obtém valor? Através de inovação tecnológica, design, serviço e uma presença cada vez maior nos mercados internacionais.

O setor se abraçou e firmou uma espécie de pacto informal com o governo. Começou pedindo menos interferência estatal nos negócios e medidas de desburocratização principalmente para abertura de empresas. Como os recursos públicos eram escassos, elencou como prioridade apoio em duas áreas: inovação tecnológica, para ajudar no desenvolvimento de produtos de valor agregado, e internacionalização. A parceria entre indústrias e poder público foi tão bem alinhada que se manteve estável mesmo com a alternância de partidos de diferentes cores no comando do país, lembra o diretor da ATP.

Os resultados não tardaram a aparecer. Além de recuperar o que havia perdido na crise, Portugal vem batendo recordes de exportações. Só em 2018, vendeu 5,3 bilhões de euros a outros países, o equivalente a 70% do seu próprio volume de negócios. O montante equivale a algo próximo de R$ 23 bilhões na atual cotação. E é cinco vezes superior às vendas externas brasileiras no último ano – segundo dados da Associação Brasileira da Indústria Têxtil (Abit), foram US$ 980,4 milhões, número pouco superior a R$ 4 bilhões.

Hoje mais de 400 empresas portuguesas participam de 85 feiras em 35 países. Há um investimento anual de 16 milhões de euros apenas para promoção no exterior. Nos últimos quatro anos, segundo Vaz, as indústrias têxteis de Portugal desembolsaram por volta de 2 bilhões de euros em novos equipamentos, máquinas, mudanças de layout e melhorias de gestão, tudo mirando maior competitividade no mercado internacional. O polo se concentra principalmente no Litoral Norte do país e reúne companhias de todos as áreas da cadeia produtiva – fiações, tecelagens, malharias, confecção e têxteis. Elas atuam em sinergia, apoiadas por centros tecnológicos, algo que agora começa a se intensificar por aqui.

Para o diretor da ATP, a indústria brasileira tem potencial para trilhar caminho semelhante, mas antes precisa garantir uma presença internacional mais proporcional ao seu tamanho. Por ter a dimensão de um continente, o mercado doméstico muitas vezes bastou para a sobrevivência das empresas do ramo, que acabaram não se abrindo para o mundo – em parte isso também teve influência de políticas comerciais, admite Vaz. Ele acredita que o acordo comercial entre Europa e Mercosul é uma grande oportunidade para o país começar essa mudança.

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