Industria Textil e do Vestuário - Textile Industry - Ano XVI

Industria Textil e do Vestuário - Textile Industry - Ano XVI

Em 2014, a Louis Vuitton completa 25 anos no Brasil. É uma história consistente num país em que muitos estão debutando no mercado de luxo. Mesmo com uma trajetória de fôlego, a estrutura por aqui está bem enxuta desde janeiro. O escritório do Brasil não responde mais pela América Latina, como ocorria desde 2005, quando a bandeira LV de sede regional migrou de Buenos Aires para São Paulo. Funções foram extintas, profissionais, realocados, e agora os executivos daqui estão sob a supervisão de Nova York.

Há dois anos a busca por profissionais na área do luxo vivia seu auge no país. A chegada de várias marcas e a falta de mão de obra especializada promoveu uma canibalização entre os "players". Foi a época em que vendedores de uma butique se tornaram gerentes na concorrência e em que as ex-funcionárias da Daslu receberam "zilhões" de propostas. Muitos profissionais tiveram de ser importados. E aprender português às pressas. Isso sem falar nas surpresinhas burocráticas que encontraram no caminho. Hoje, a demanda por esses "trabalhadores" esfriou.

"Não só a busca por profissionais foi reduzida porque menos marcas estão chegando como também as empresas reavaliaram o tamanho de seu 'back office' em função dos custos trabalhistas e operacionais", diz Gisele Vantine, sócia responsável pelo mercado de luxo na Fesa, consultoria especializada em busca e seleção de altos executivos. Quem imaginava uma estrutura de diretoria digna de um país emergente e cheio de novos ricos acabou por ficar com um mezanino. Transformou um espaço da própria butique em escritório comercial e manteve a sede regional em Miami ou Nova York.

"Em função disso, o gerente da loja acaba por assumir um papel que vai além das vendas. Ele tem de gerir a marca e cuidar de todas as áreas", diz Gisele. Na Sephora, rede do grupo LVMH, por exemplo, o cargo de diretora geral, antes ocupado por Andrea Bedricovetchi foi extinto, e desde dezembro quem responde como gerente regional pela empresa é Flávia Bittencourt.

As empresas passaram a operar diretamente, mas com uma equipe bem menos "inflada" do que planejavam num primeiro momento. "Quando as multinacionais chegam, elas querem ganhar mercado. Apostam em profissionais de inovação e marketing. Mas, diante das incertezas do país, adotam uma postura mais defensiva. E isso vale também para o mercado de luxo", diz Angela Pegas, sócia da Egon Zehnder, que cuida da área de varejo e luxo na consultoria.

A busca por profissionais da área arrefeceu, mas isso não significa que tem gente dando sopa por aí. Encontrar o profissional adequado continua sendo uma luta de foice. A começar pela remuneração nada glamourosa. "Ela é 30% menor do que na área de bens de consumo. E, quando há bônus, ele é de, no máximo, um salário", diz Gisele.

Quando as empresas transformaram suas "franquias" em subsidiárias, sacrificaram suas margens para oferecer preços atrativos. É aquela equação para praticar no varejo um valor no máximo 20% superior aos EUA e, com isso, convencer a brasileirada a comprar aqui em dez prestações. Então, para manter esse modelo, os custos foram reduzidos, incluindo aí salários. Com o câmbio desfavorável, o torniquete ficou ainda mais apertado. "O problema é que mesmo assim os salários ainda são altos em comparação ao resultado dessas operações no Brasil", diz Angela Pegas.

Mas as exigências, uau, só crescem. "Eles precisam ter boa formação, vivência internacional, fluência em idiomas, um círculo social interessante e uma imagem pessoal compatível com o conceito da marca", explica Gisele. Só recentemente, conta, algumas grifes concordaram em oferecer uma verba anual para um guarda-roupa de fino trato para atrair candidatos. Porque, até então, o cidadão tinha de ser ilustrado e lustroso por conta própria e ainda se contentar só com o 13º salário. "São funções mais 'sensuais' que rentáveis. Por isso, os estreantes na área são aqueles seduzidos pelo glamour. No geral, é um mercado viciado nas mesmas pessoas", afirma Gisele.

Segundo ela, até o fim do ano, quando muitos contratos completam dois anos, o ciclo da dança das cadeiras vai se intensificar. Um tempo razoável para ver como as operações se consolidam. Algumas alterações, contudo, já começaram a ser feitas, como na grife americana Tory Burch. Evelyse Britto deixou a direção geral e foi substituída por Cristiano Ferrario (ex-Dolce & Gabbana, Grupo Iguatemi e Louis Vuitton). Amy Berardi também saiu da diretoria de marketing da empresa.

Mas quem deve fazer a roda girar é a Ralph Lauren. A grife, que anunciou sua vinda para o país, busca um profissional com viés mais "financeiro" para tocar o negócio. Até recentemente estava fazendo seu processo de seleção de executivos via Nova York, com entrevistas por Skype. Será que a conexão funcionou?

angelaklinke@uol.com.br

http://www.valor.com.br/cultura/3531840/luxo-e-mercado-de-trabalho-...

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