Industria Textil e do Vestuário - Textile Industry - Ano XVI

Industria Textil e do Vestuário - Textile Industry - Ano XVI

Embora cada vez mais marcas ocidentais de luxo, como a Prada, recorram à produção feita na China, nem todos estão convencidos das suas virtudes, sobretudo os designers mais reputados do país, que recorrem a Itália na hora de selecionar as matérias-primas e a confeção mais delicada. 

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“Made in China” não convence

Tem sido chamado o segredo sujo da moda, mas segundo Miuccia Prada, em breve toda a gente vai fazê-lo. O “made in China” é bom para a figura suprema da Prada e para uma série de outras figuras influentes da indústria. Mas para as empresas e designers chineses que tentam tornar-se players mundiais de estilo, produzir vestuário de gama alta no mercado interno é complicado. As barreiras alfandegárias, questões de perceção de marca e o sourcing de certos tecidos combinam-se para formar um obstáculo a que concorram internacionalmente com um produto exclusivamente feito em “casa”.

Uma Wang, a designer chinesa mais conhecida internacionalmente, afirma que a natureza do seu negócio dita que um modelo seja 40% “made in China” e 60% “made in Italy”. O trabalho criativo, incluindo a produção de amostras, é feito sobretudo na sede de Wang em Xangai. Mas ela passa metade do ano em Milão, a supervisionar a produção e a lidar com fornecedores.

Para Wang, cujas vendas são realizadas sobretudo fora da China, os impostos sobre importações e exportações são o principal problema. «Um artigo produzido na China, quando chega às lojas, tem mais 30% em taxas sobre o preço», afirma a designer.

O aumento de custos é ainda maior se tiverem sido importados tecidos high-tech, uma área onde Itália é reputada, que são sujeitos a taxas têxteis na China. Por isso, para Wang, com 58 lojas em todo o mundo mas apenas seis na China, manter-se em Itália faz sentido. Mesmo que as barreiras alfandegárias fossem eliminadas, não poderia trazer a produção para mais perto de casa.

«A qualidade, para fazer roupas, a costura básica, não é um problema na China», afirma. «Mas para o tecido é 100% Itália. Para as matérias-primas tenho de dizer que a China ainda não está nesse nível. E agora estou habituada à troca – dois fusos-horários, duas culturas, duas gastronomias! É fantástico», explica.

Zhu Chongyun, outra empresária chinesa na área da moda, começou a partilhar o estilo de vida de Wang entre dois continentes após a aquisição da conhecida casa italiana Krizia no início de 2014. Zhu, sediada em Shenzhen, afirma que quer manter a identidade italiana da Krizia. «Não queremos enganar o público a pensar que porque a Krizia é agora detida por uma chinesa vai ter mais da cultura asiática – não é isso que queremos», sublinha Zhu.

Há sete anos, Alfred Chan, o dono canadiano do grupo Ports Design Ltd, cotado na Bolsa de Hong Kong, declarou que as principais casas de moda do mundo deviam «assumir o desafio da Pepsi» e tentar a produção na China. A Armani (para as suas linhas de difusão), a Burberry e a Prada, entre outras, fizeram-no e gostaram. Miuccia Prada disse ao Wall Street Journal em 2011 que «mais tarde ou mais cedo, toda a gente vai fazê-lo porque a produção chinesa é boa».

Exatamente que proporção de vestuário e acessórios de homem e senhora de topo de gama são produzidos na China é difícil de medir devido às formas complexas e mutáveis como esses dados são avaliados. É evidente, contudo, que poderosas tendências da indústria estão a levar mais produção na direção da China.

O pós-crise financeira mundial de 2007 afetou um sector dominado por conglomerados geridos com o lucro em mente e que desejam poupanças de custos. A crise também tornou os novos ricos da China mais importantes enquanto consumidores de produtos de luxo. Uma estimativa aponta que as compras combinadas de consumidores e turistas chineses irão representar 50% do volume de negócios mundial do sector em 2015.

Tudo isso torna relevante que uma das empresas que declinou o desafio Pepsi apontado por Chan seja a sua própria subsidiária, a Ports 1961. Originalmente uma marca canadiana, a Ports 1961 mudou a sua sede de Nova Iorque para Milão há cerca de dois anos e meio e está no processo de se tornar tão italiana como o café expresso.

«Para nós, é uma questão de posicionamento», afirma Salem Cibani, o jovem CEO da empresa. «A nossa linha comercial (Ports International) é luxuosa e muito bem confecionada com alguns tecidos caros. Mas quando estamos a produzir em Itália, há certas coisas artesanais que estamos a fazer a um nível muito elevado de designer que não são propriamente realizáveis na China. Além disso, os melhores materiais vêm de Itália. Levá-los para a China e importar de volta é também um exercício que leva tempo e aumenta os custos. Sim, Itália é mais cara, mas para o que se obtém, o valor ainda existe», acredita.

Esta visão é apoiada pelo magnata italiano da caxemira, Brunello Cucinelli, um titã do sector do «luxo absoluto» que ele vê manter-se na Velha Europa. «Os franceses produzem champanhe há 500 anos e é muito, muito especial», afirma. «Quando ouço as pessoas dizerem que outros “champanhes” são iguais, simplesmente não é verdade. O meu avô e a minha avó eram simples agricultores mas já faziam roupas. Faz parte da nossa cultura. Nestas coisas, leva séculos a chegar a um certo nível», resume.
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