Entrelaçando conchas com fios de seda e sementes que seriam descartadas, o grupo de marisqueiras liderado por ela trabalha há mais de uma década produzindo colares, bolsas e outros acessórios de moda que foram pouco a pouco chamando a atenção de designers de moda pelo país.
As marisqueiras fazem parte de uma comunidade ribeirinha de 500 famílias que tiram o sustento das praias e do rio salgado que corta a região. Enquanto a maior parte dos homens vive da pesca, as mulheres trabalham desde pequenas coletando mariscos. “Ainda criança a gente ia para a praia buscar marisco como se fosse brincadeira. À medida que fomos crescendo, percebemos que isso era uma forma de comprar coisinhas para a gente”, diz a costureira Maria da Conceição da Cruz.
Foi procurando uma fonte de renda extra que as marisqueiras descobriram uma nova função para as conchas que coletavam. Em 2009, com auxílio do departamento de design da Universidade Federal do Pernambuco, da Agência de Estudos e Restauro do Patrimônio (Aerpa) e do designer Ticiano Sá, começaram a projetar as primeiras peças.
As mulheres decidiram logo no começo do projeto que o respeito ao meio ambiente estaria presente em todas as etapas de produção dos acessórios – desde a coleta das conchas até ao uso de sementes que seriam descartadas. Cecília conta que a preocupação em não tirar mais do que a natureza permite é tamanha que escolheram não buscar um crescimento exponencial do negócio. “Fazer mil colares por mês seria impossível, mas por volta de 40 dá, depende da quantidade de conchas que a maré nos traz”, afirma. “Isso, dentro de uma indústria poluente como é a da moda, já é um grande passo rumo ao consumo sustentável, e mais: sustentável de ponta a ponta”, completa.
![Tia Minda — Foto: Divulgação](https://s2.glbimg.com/MUHQ-ytE7IaaSIlaGOeN5BjzTJE=/0x0:984x656/984x0/smart/filters:strip_icc()/i.s3.glbimg.com/v1/AUTH_7d5b9b5029304d27b7ef8a7f28b4d70f/internal_photos/bs/2022/A/y/CHFihhRIAlIl4GsGRUbg/img-1426-pb.jpg)
Tia Minda — Foto: Divulgação
Por esse motivo, os fornecedores também são escolhidos a dedo. Na coleção deste ano, inspirada no cotidiano da própria comunidade, as mulheres criaram peças mais leves e que não irritam a pele. Para isso, trabalharam com fio e palha de seda. “Nosso fornecedor é ecologicamente responsável com os bichos-da-seda e tinge os fios com produtos naturais, como café, espinafre e casca de cebola”, explica a coordenadora.
Para ela, o trabalho com os acessórios é uma forma de complementar renda e voltar ao mercado de trabalho após ter suas filhas gêmeas, hoje com 11 anos. “Comecei a trabalhar aos 18 numa fábrica de camarão. Depois de três anos, parei e fui ter minhas filhas”, diz a artesã, que hoje também trabalha como fotógrafa.
O ponto de virada para o grupo veio em 2011, quando expuseram as peças pela primeira vez na Fenearte, a feira internacional de artesanato de Pernambuco. “Fizemos em 2015 o primeiro desfile de acessórios da feira, foi o mais comentado daquela edição. Não paramos mais. Este ano, entre joias e bolsas, fizemos 40 entradas na passarela”, diz a organizadora.
Por Carolina Ingizza, da Revista Marie Claire
https://umsoplaneta.globo.com/cultura-design-e-moda/noticia/2022/12...
Para participar de nossa Rede Têxtil e do Vestuário - CLIQUE AQUI