Materiais de nova geração ganham terreno

[Romildo de Paula Leite]

Um estudo recente revela que os materiais de próxima geração podem representar 8% do mercado de fibras até 2030 e sugere que a ação coletiva da indústria em toda a cadeia de aprovisionamento é essencial para a transição.

[©Syre]

A plataforma Fashion for Good e a consultora empresarial Boston Consulting Group (BCG) divulgaram o relatório “Scaling Next-Gen Materials in Fashion: An Executive Guide”, revelando que os materiais de próxima geração poderão representar 8% do mercado total de fibras até 2030, traduzindo-se aproximadamente em 13 milhões de toneladas.

O documento destaca o impacto significativo dos materiais na pegada ambiental da indústria – são responsáveis por 92% das emissões totais da indústria da moda através da extração, processamento e produção.

A adoção estratégica de materiais de próxima geração pode levar a uma redução de cerca de 4% no custo total de produção, ao longo de cinco anos, em comparação com a inação o que, para os autores, demonstra a importância da transição para estes materiais para que as marcas mantenham a sua vantagem competitiva.

«A indústria da moda encontra-se num momento crítico em que os materiais de próxima geração já não são apenas uma oportunidade, mas um imperativo comercial. A oportunidade existe, mas requer uma ação individual e coletiva ao nível da procura, dos custos e das alavancas de capital para conseguir a adoção», afirmou Katrin Ley, diretora-geral da Fashion for Good.

A expansão destes materiais, que os autores definem como «novos e inovadores, com, desejavelmente, resultados ambientais e/ou sociais mais positivos quando comparados com as opções convencionais e que requerem mais avanços tecnológicos e otimização de custos para uma adoção generalizada», é dificultada por obstáculos financeiros, técnicos e operacionais. Assim, o guia apresenta um plano estratégico para os líderes da indústria enfrentarem estes desafios, avaliando os materiais e as suas capacidades para impulsionar a transição do sector têxtil.

São identificadas três alavancas principais que devem ser coordenadas, para ampliar a escala dos materiais de próxima geração – a procura, que sinaliza mercados estáveis; o custo, que pode otimizar processos em toda a cadeia de abastecimento e debloquear economias de escala; e o capital, que, através de um financiamento estratégico alinhado com cada fase de adoção, pode assegurar um crescimento sustentável.

O estudo acrescenta ainda que é necessário um esforço harmonizado de toda a cadeia de valor, apesar de considerar que muitas marcas carecem de orientação e recursos para a transição. Desta forma, a Fashion for Good e a BCG destacam as parcerias da Inditex com a Ambercycle, a da Puma com a Woodspin e a criação da Syre, pela H&M e a Vargas Holding, enquanto exemplos de acordos que enviam uma mensagem clara ao mercado, ao mesmo tempo que «oferecem às marcas benefícios estratégicos como o acesso preferencial, a influência sobre os ajustes de qualidade e a expansão geográfica».

Sobre a segunda alavanca, o custo, o relatório sugere que as marcas, coletivamente, devem coordenar o aprovisionamento, a fim de aumentar a eficiência e o acesso a produção de baixo custo. A colaboração pode viabilizar o acesso a matérias-primas de baixo custo para materiais reciclados de nova geração. Ao agregar os fluxos de resíduos pós-industriais, as marcas podem garantir um fornecimento consistente e competitivo, transformando os resíduos num recurso valioso.

No que diz respeito ao capital, as duas entidades responsáveis por este documento de 32 páginas, enfatizam a importância de criar consórcios para financiar soluções, uma vez que reduz o risco individual e proporciona às empresas inovadoras um financiamento essencial para expandir as suas operações e desenvolver infraestruturas.

De acordo com Sebastian Boger, líder global do sector de moda e de luxo do BCG, «escalar os materiais de próxima geração não é apenas uma questão de sustentabilidade, é uma questão de permanecer relevante num mercado em mudança. Mas estes materiais não se expandirão sozinhos. A ação de toda a indústria é fundamental».

“Scaling Next-Gen Materials in Fashion: An Executive Guide” prevê que a procura destes materiais supere a oferta até 2030, tornando urgente a ação coordenada e uma abordagem unificada.

«A ação individual permite que as marcas conduzam estratégias de materiais de próxima geração que se alinham com os seus objetivos comerciais, assegurando uma vantagem competitiva. Simultaneamente, a ação coletiva amplifica o impacto – reunindo a procura, harmonizando as estratégias de aprovisionamento e consolidando os recursos para reduzir os riscos e obter economias de escala», concluem os autores.

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