Industria Textil e do Vestuário - Textile Industry - Ano XVI

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Mercado de luxo no Brasil pode triplicar com menos impostos

Segundo o presidente do Comité Montaigne, que congrega as lojas mais luxuosas de Paris, o Brasil perde a oportunidade de ampliar o consumo com taxas tão altas


AFP Photo
Loja da Chanel na Avenue Montaigne, em Paris: marca está entre as mais procuradas pelos turistas

 

 

A economia brasileira vai bem, obrigado. Poderia ir bem melhor, especialmente no setor de luxo, que poderia dobrar e até triplicar de tamanho se o governo finalmente realizasse uma revisão de tributos, como vem sendo discutido há algum tempo. “Como os produtos ainda são muito caros no país, os brasileiros gastam muito quando viajam. Eles são ótimos clientes”, afirma Jean-Claude Cathalan, presidente do Comité Montaigne, que reúne as principais lojas do mercado de luxo em Paris, ali na Avenue Montaigne.

 

 Divulgação
Jean-Claude Cathalan, presidente do Comité Montaigne, que reúne 65 membros entre as lojas mais famosas de Paris

 

 

De passagem pelo Brasil a convite do Luxury Marketing Council e da ESPM, Cathalan veio para falar sobre os fundamentos do luxo e aproveitou para ver de perto o avanço do setor, principalmente em São Paulo. Ele acredita que o mercado de luxo brasileiro está “crescendo mais rapidamente do que própria economia”. “O consumo e o poder de compra dos brasileiros se ampliou muito nos últimos três anos”, disse pouco antes de visitar a região dos Jardins. “A economia brasileira é muito segura, todos querem investir aqui”.

Mesmo com o grande interesse das marcas de luxo, ele acredita que o mercado ainda precisa de uma mudança crucial para que alcance seu potencial. A alta tributação sobre artigos de luxo faz com que a maior parte dos consumidores aguarde pela chance de viajar ao exterior para se abastecer lá fora ou nas lojas de duty free. “Se não fosse isso, eu acredito que as vendas poderiam dobrar ou triplicar muito rapidamente. No primeiro momento, o consumidor brasileiro chegaria às lojas daqui e teria a impressão de encontrar muitas ‘ofertas’, o que geraria um altíssimo consumo. Seria uma reação imediata”, diz.

O presidente do Comité Montaigne ressalta, porém, que apesar disso este é o ponto em que os grupos de luxo devem marcar território no Brasil. “É um bom momento para estar no Brasil e estabelecer um relacionamento com o consumidor”, afirma. “É uma questão de tempo para que esse mercado se torne ainda maior, mas ele existe, está lá. Quem entrar agora estará em uma posição muito melhor em cinco ou dez anos”.

 Getty Images
O Hotel Plaza Athénée, na Avenue Montaigne, em Paris: luxo e sofisticação que atraem turistas do mundo inteiro

 

 

Aposta no certo

Segundo Cathalan, 38% das vendas mundiais de produtos de luxo são feitas durante viagens. É um visitante que gasta, em média, 4 mil euros. Esse tíquete médio também é aplicado a turistas brasileiros em passagem por Paris. “Vemos muitos clientes brasileiros no Hotel Plaza Athénée, eles sabem como gastar seu dinheiro e se divertir”, diz.

O consumidor brasileiro de luxo segue a tendência de comprar basicamente as marcas tradicionais, como Louis Vuitton, Dior, Chanel e Hermès. “Há uma razão para isso. Eles sabem que não têm como errar ao comprar um produto de uma marca tradicional, enquanto há sempre um ‘risco’ envolvido ao comprar uma marca não estabelecida”, diz.

O Comité Montaigne reúne 65 membros estabelecidos ao redor da área da Avenue Montaigne, onde a moda de luxo começou a se formar a partir do final da II Guerra Mundial. A Dior foi a primeira e, não por acaso, ainda possui até hoje o espaço mais cobiçado da região. No total, as lojas somam algo em torno de 15 mil metros quadrados de puro glamour e sofisticação, tornando o metro quadrado, de 7 mil euros, um dos mais caros do mundo. São essas marcas que mantêm uma tradição que, do contrário, poderia ter desaparecido: a dos artesãos do luxo. São profissionais altamente treinados que produzem os melhores bordados, botões, sapatos e todos os detalhes que tomam as passarelas da Semana de Moda de Paris a cada ano. E que ajudam a manter a imagem de altíssimo refinamento e exclusividade nas criações das grandes marcas.

 

Reprodução/Google Maps
Maison Dior, na Avenue Montaigne, em Paris: endereço tradicional de compras dos brasileiros

 

 

“A alta costura é o resultado da criação de artistas”, diz Jean-Claude Cathalan. “As marcas perdem dinheiro com a alta costura, mas através da comunicação, elas expandiram seu nome e sua imagem, ampliando a linha de produtos mais acessíveis aos consumidores. É essa imagem que cria o desejo de comprar um perfume, por exemplo, que representa a porta de entrada nesse mundo exclusivo.”

 

 

 

Copa do Mundo e Olimpíada

A aproximação da Copa do Mundo em 2014 e dos Jogos Olímpicos em 2016 representam grandes oportunidades para gerar um consumo de luxo no Brasil. De novo, a pedra no caminho é a tributação para os artigos do setor. Diante dos altos preços, diz Cathalan, a maioria pode optar por gastar seu dinheiro na volta da viagem. “Será uma grande pena para o país”, afirma.

Cathalan elogia a disposição do brasileiro e acredita que essa abordagem amistosa são grandes diferenciais do setor de serviços, que muitas vezes se sobrepõem a qualquer treinamento. “A mentalidade brasileira é mais aberta do que dos europeus, por exemplo. Aqui é natural dar atenção à outra pessoa e essa característica é ainda mais importante no setor de luxo. É uma grande vantagem da qual o país pode tirar melhor proveito.” 

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