Em 2004, a surfista peruana Sofía Mulánovich se consagrou com o título de campeã mundial e causou uma revolução no país. O mercado de surf no Peru se transformou e ainda colhe os frutos da vitória, 11 anos depois. Com apoio do poder público, de grandes patrocinadores e de entidades organizadas por atletas, o surf movimenta com força o turismo, o lazer, as escolas, a indústria e o comércio peruano. O esporte é levado tão a sério que, em 2013, o governo aprovou uma lei histórica, para impedir a construção de novas edificações na faixa litorânea e proteger os picos de surf.
No Brasil, o título do primeiro campeão mundial do surf brasileiro, Gabriel Medina, desperta esperança entre surfistas e empresários, e surge uma questão: o que falta para o esporte estourar no País e movimentar com força a economia, como no Peru?
A conquista de Gabriel Medina pode servir de alavanca para que o esporte ganhe visibilidade e conquiste investimentos a longo prazo. As expectativas do presidente do Instituto Brasileiro do Surf (Ibrasurf), Alexandre Zeni, são altas. "Esperamos essa vitória há 50 anos. As fábricas de prancha receberam muitas encomendas neste verão, e as escolas de surf nunca tiveram tanta procura", conta. No entanto, Zeni explica que um só Gabriel Medina não é suficiente. "É o trabalho de base que poderá render frutos no futuro", esclarece.
Para o presidente da Academia Brasileira de Marketing Esportivo (Abraesporte), José Cocco, o efeito Medina pode ser comparado ao que aconteceu após a vitória do tenista Guga, em menores proporções. "Houve uma febre, o tênis se estruturou, mas não houve investimento suficiente para criar novos campeões", resume. Cocco também ressalta que é difícil prever a durabilidade do efeito Medina no desenvolvimento do esporte, já que a e estrutura esportiva no País, em geral, não é profissionalizada para aproveitar os bons ventos.
Leis de incentivo ao esporte e editais lançados pelos governos municipais e estaduais podem ser instrumentos para a realização de eventos e projetos de gestão do surf, a partir das categorias de base. Cocco destaca, no entanto, que é preciso organização, liderada pelas entidades representativas do surf, junto aos órgãos públicos.O Ibrasurf estima que o surf movimenta R$ 7 bilhões no Brasil. É difícil, no entanto, medir o tamanho do mercado, porque o esporte é, também, um estilo de vida, que fascina além dos 3 milhões de praticantes. Como destaca o presidente do Ibrasurf, Alexandre Zeni, a imagem do surf - jovem, saudável e libertária - dita tendências de consumo e faz com que o mercado cresça, em média, 10% ao ano. Patrocínio de surfistas e competições, ensino do surf, comércio de moda surf e fábricas de pranchas e acessórios são alguns dos segmentos que integram esse mercado.
De acordo com o Ibrasurf, 90% dos consumidores do mercado do surf no Brasil nunca pisaram em uma prancha. Somente o setor de confecções da moda surf movimenta R$ 2,5 bilhões, e representa 15% da indústria têxtil, segundo a Associação Brasileira da Indústria Têxtil (Abit). Não é raro, por exemplo, observar uma loja popular vender camisetas de algodão ou cadeiras de praia estampadas com ondas e pranchas.
Da mesma forma, cresce o número de empresas que não têm relação direta com o esporte, mas se aproveitam da imagem do surf para ampliar os negócios. É o caso, por exemplo, de metade dos patrocinadores de Gabriel Medina. Das 10 marcas que apoiam o campeão mundial, cinco comercializam produtos que nada têm a ver com o esporte: refrigerante, serviços de telecomunicações, carros, smartphones e cosméticos. "O surf já foi considerado um esporte de preguiçosos, e hoje vende saúde, jovialidade e superação de desafios. Qualquer empresa que se comunica com jovens quer estar associada a esta imagem", explica Zeni.
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