Metamorfose da cor

[Romildo de Paula Leite]

Numa estação marcada pela mudança na forma como nos definimos e como interagimos com os outros, as cores para a estação fria de 2017/2018 renovam-se e transformam-se para refletirem esta nova realidade.

As paletas de cores fortes e pop das estações anteriores ganham tons mais ambíguos e complexos no outono-inverno 2017/2018, adaptando-se aos temas da estação, propostos pelo gabinete de tendências WGSN (ver A estação de todas as mudanças). Os azuis-marinhos aproximam-se dos roxos, o roxo chega quase a preto e os pastéis ganham tonalidades acinzentadas – o azul-fumo, o rosa-velho e o rosa-giz incorporam tons cinza subtis. Cores com profundidade e intensidade subjacentes, que dão a sensação de textura e se tornam perfeitas para os períodos de transição entre o verão e o outono e o inverno e a primavera.

No tema Design Matters, a estação foge mesmo das cores fortes, que são substituídas por meios-tons que parecem ser suavizados por processos naturais – esbatidos pelo tempo, oxidados pelas condições meteorológicas, desvanecidos após serem reciclados ou cobertos por giz.

Os tons acinzentados destas cores dão-lhes uma profundidade inusitada e uma sensação de composição em camadas, que fazem com que quanto mais se olha para eles, mais interessantes se tornam. O cinzento do metal e o azul-uniforme são as âncoras desta paleta de cores, que se desmultiplica em tons médios verde-juta e roxo-neblina e integra apontamentos de rosa-pó e pera.

As cores do outono são essenciais, como sempre, mas adotam uma definição mais acentuada em Earthed, resultando em tons naturais intensos, como o verde das árvores de folha persistente, açafrão e ocre. Esta paleta é inspirada por perspetivas microscópicas da natureza e vistas da Terra a partir do espaço sideral.

Os vermelhos, que são uma cor fulcral, afastam-se dos tons primários e surgem numa enorme variedade de tonalidades, desde o fogo, que tem a intensidade de uma lareira de inverno, ao rubi profundo, quase castanho. O carmim e o hena têm um carácter romântico e nostálgico, reminiscente das folhas de ácer que mudam de cor no outono.

Nocturne explora o tema da escuridão de uma perspetiva positiva – a beleza na melancolia, os benefícios da disrupção e da abstração. As cores tornam-se matizadas, como se vistas à noite, com apontamentos ocasionais mais claros, como se surgisse um candeeiro inesperado por entre as árvores. É uma paleta de tons mais escuros, com roxos que se aproximam muito do preto. Os azuis tornam-se numa cor da moda, com tons que se destacam, como o azul tinta, que funciona como uma cor indispensável para o vestuário casual e de noite.

As combinações inesperadas compõem as propostas de cor de INfusion, onde convergem o real e o virtual. Isto resulta numa mistura eclética de cores com um aspeto luxuoso e cuidado, onde os tons mais escuros ficam de fora e desponta um certo otimismo à medida que o inverno dá lugar à primavera. O equilíbrio marca esta paleta, com tons diferentes mas complementares: o azul-fumo é contrabalançado com um verde-azulado, o rosa-velho é acompanhado por coral e o verde-jaspe é compensado por um verde-bilhar mais forte.

O WGSN destaca ainda um conjunto de cores que não podem faltar nas coleções para o outono-inverno 2017/2018. Segundo o gabinete de tendências, os neutros mais claros abraçam um certo toque natural e térreo – desde a variação do branco do marfim ao cru e areia. O caqui-azeitona fica algures entre o castanho e o verde, em linha com o foco mais vasto da estação em cores com qualidades duplas. O calcário e a ardósia oferecem uma transição para os tons mais escuros de azul-marinho e preto.

Fonte: WGSN 

http://www.fashionup.pt/metamorfose-da-cor/

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[Sergio Casa Nova (Design Prof.)]

Muito boa matéria.