Industria Textil e do Vestuário - Textile Industry - Ano XVI

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"Justiça é machista", reclama Aline Place, que afirma ainda que a violência patrimonial contra a mulher é mais comum do que se imagina.

Violência patrimonial sofrida por Aline atingiu a marca de prestígio criada por ela, que tinha um sucesso financeiro omitido por seu ex
Violência patrimonial sofrida por Aline atingiu a marca de prestígio criada por ela, que tinha um sucesso financeiro omitido por seu ex
Foto: Divulgação / Divulgação


"Eu o conhecia há 30 anos e confiava totalmente nele, mas só quando pedi o divórcio pude ver quem a pessoa era realmente", conta Aline Place. A fala da estilista carioca de 47 anos encontra eco nas histórias de incontáveis mulheres em todo o mundo - principalmente por envolver violência patrimonial, um tipo de violência contra a mulher que ataca diretamente no bolso da vítima e/ou em sua forma de sustento. No caso de Aline, a violência sofrida atingiu a marca de prestígio criada por ela e um sucesso financeiro omitido por seu ex. Atualmente, são diversos processos na justiça, dos dois lados.

A dolorosa saga de Aline começou em 2011. Mãe solo, ela vendia bijuterias para lojas e recebia ajuda financeira do pai enquanto cursava a faculdade de moda. "Foi quando tive a ideia de criar roupas com quadros famosos e assim nasceu a marca Saia com Arte. Uma amiga virou minha sócia e passou a cuidar da parte financeira e administrativa, enquanto eu cuidava das coleções", conta. Com a demora para obter retorno do investimento, a amiga acabou desistindo do negócio e Aline entrou em depressão.

Amor do passado

Foi nessa mesma época que o ex reapareceu em sua vida, depois de um namoro rápido na adolescência. Envolvida e apaixonada, mas também com o nome comprometido, a estilista aceitou a proposta de passar a marca - registrada no nome da ex-sócia - para o nome dele. Logo, foram viver juntos. "Abri a primeira loja na rua Santa Clara e pouco tempo depois uma loja no Barra Shopping. A marca decolou, começou a sair em revistas de moda e muitas atrizes passaram a usar minhas peças. A criação das peças sempre foi 100% minha eu trabalhava o dia inteiro, por anos, sem parar", diz Aline.

Estilista foi impedida de entrar na própria empresa por um segurança
Estilista foi impedida de entrar na própria empresa por um segurança
Foto: Divulgação / Divulgação


Quando se casou com o ex, o filho de Aline tinha 10 anos. Os dois nunca se deram muito bem, mas à medida que o garoto foi amadurecendo, passou a questionar os motivos de tudo estar no nome do parceiro da estilista. Com brigas cada vez mais frequentes e pontadas crescentes de desconfiança, a relação foi desmorando e Aline pediu o divórcio. E, então, o inferno começou.

"Ele se tornou agressivo, grosseiro e passou a me tratar como empregada dele na empresa. Aí descobri que não tinha absolutamente direito a nada e que minha marca tinha um sucesso financeiro muito maior do que eu imaginava. Ao mesmo tempo, soube que ele tinha feito milhões em dívidas também e, para piorar, com o nome do meu pai como fiador", diz Aline, que relata que certo dia foi impedida de entrar na empresa por um segurança e em outra ocasião recebeu um empurrão violento do ex. Ele também chegou a ameaçar o filho dela de morte.

Com dívidas milionárias, sobretudo de aluguéis A Saia com Arte acabou indo à falência e o processo de divórcio litigioso corre na justiça. Em busca de um recomeço, Aline dediciu abrir outra marca, dessa vez com seu nome civil, mas descobriu que o ex já tinha feito o registro  Instituto Nacional da Propriedade Industrial (INPI) sob alegação de que se trata de um nome   arbitrário para designar o comércio de artigos e vestuários em geral. 

Coleção Mulheres Roubadas foi inspirada em imagens de figuras femininas célebres que foram vítimas de violência patrimonial
Coleção Mulheres Roubadas foi inspirada em imagens de figuras femininas célebres que foram vítimas de violência patrimonial
Foto: Reprodução/Instagram / Reprodução/Instagram


Mulheres Roubadas

A estilista soube ainda que o ex-marido havia comprado o domínio dos sites alineplace.com e alineplace.com.br por dez anos. "Fiquei sem as lojas, os direitos e todo o estoque da Saia com Arte. Pelo menos, no INPI, consegui reverter a situação e gerei uma nova marca, a Aline Place", relata, cansada de uma batalha que parece estar longe de chegar ao fim.

Embora não possa compartilhar sua trajetória com riqueza de detalhes, por questões judiciais, Aline faz questão de narrar o que consegue e de transformar a dor em criatividade. Em 2021 ela lançou a coleção Mulheres Roubadas, inspirada em imagens de figuras femininas célebres que também sofreram violência patrimonial. Zelda Sayre, Billie Holiday, Frida Kahlo, Camille Claudel, Colette e Margaret Keane são as retratadas pela coleção, cuja renda parcial é revertida para instituições que ajudam mulheres vítimas de violência. 

Aline tem uma medida protetiva em vias de renovação que impede o ex de se aproximar dela. Ficar cara a cara com ele nas audiências, entretanto, é um processo desgastante que vem sendo suportado à base de terapia e medicamentos para ansiedade. "Ele ferrou com a minha vida e com a minha cabeça", lamenta. "Sei que fui muito ingênua e aprendi na marra que amor e dinheiro não devem se misturar nunca. A justiça é machista e tenho certeza de que se estivéssemos em papéis inversos, os resultados seriam outros. Mas tenho me dedicado ao trabalho, trocado experiências com outras mulheres em situações parecidas e hoje estou bem melhor do que já estive antes", pontua.

https://www.terra.com.br/nos/meu-ex-ficou-com-minha-marca-de-milhoe...

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