A artista nasceu em Caetanópolis (MG), vive e trabalha em Belo Horizonte desde 1980, é criadora respeitada, mas com presença rarefeita no circuito de galerias tanto local quanto nacional. Sônia sintetiza sua própria história numa frase: “Chutei o balde, abandonei tudo para me dedicar exclusivamente à arte”. Para ela, a arte é uma atividade egoísta, avessa a conviver com outras atividades.”Como arte cobra dedicação, complica tudo, às vezes até o casamento”, observa.
Unindo tecidos diferentes (já houve época em que se valeu de roupas usadas) com nós, torções, costuras, Sônia Gomes cria objetos, esculturas e instalações. Lança mão de texturas, cores e formas, para criar peças que têm poder de evocar referências amplas. Tanto podem se referir a culturas regionais quanto universais. Podem chamar à discussão sobre a história da arte ou dar vazão a considerações sobre o papel do inconsciente nas elaborações humanas.
É uma arte que pode ser fruida por seus aspectos lúdicos, delicados e estéticos e também como meditação dramática, brutal, sobre força e fragilidade. São abstrações, mas aceitam olhares que buscam figurações. “Meu trabalho é como o Brasil: tem um lado popular e outro erudito. Transitamos muito bem entre esses dois aspectos”, observa.
A paixão de Sônia Gomes pelos tecidos é antiga. O material esteve nas brincadeiras com retalhos, na infância, no hábito de “vestir os objetos”. Foi experimentado com intensidade, na adolescência, nas roupas que ela fazia para usar e em seu encanto por brechós e trajes usados. “Roupa nova para mim tinha de ter aspecto de envelhecida. Gostava e ainda gosto de tecidos que já vêm com uma história, um tempo.” A artista não esconde o prazer que tem ao visitar lojas de tecidos: “Adoro ver aquele caos formado pelos tecidos soltos nas bancas e ir descobrindo cada um deles”. Em trabalhos recentes, tem somado panos a outros materiais.
CONVITE PARA A BIENAL O convite para participal da Bienal de Veneza veio após o curador-geral do evento, Okwui Enwezor, enviar e-mail pedindo que Sônia falasse de trabalho apresentado na mostra Made by...Feita por brasileiros, em 2014, na capital paulista. Em seguida, silêncio. “Como não mandaram dizer nada, cheguei a pensar que o sonho de ir a Veneza era algo muito distante para mim”, conta a artista. No final de 2014 veio a confirmação do convite e o pedido para que apresente trabalhos inéditos.
“Quando confirmaram o convite, pensei: eu na Bienal de Veneza?. Parecia um sonho. Mas, depois, me lembrei também de que trabalho muito, há muito tempo. Vou todo dia ao ateliê. Então, em algum momento teria retorno pelo que faço. Fazer arte, para mim, é necessidade financeira. Vivo do que faço. Sinto que é a minha arte que segura minha vida emocional. Se não fosse o trabalho de arte, não teria motivo para estar viva.”
Como já tinha uma viagem marcada para a África do Sul, só a partir de janeiro ela pode se dedicar integralmente à realização das obras que vai mostrar. A primeira ideia, a partir das fotos que recebeu do local onde vai serão colocadas as obras, foi cobrir as colunas do prédio com tecidos. O curador sugeriu algumas peças de chão. Está pronto um conjunto de trabalhos, com peças apoiadas na parede, penduradas no teto e de chão, que são, para a artista, criaturas, colunas, trouxas.
A presença de artistas mineiros na mostra principal da Bienal de Veneza, a convite de curadores internacionais, tem sido recorrente há três edições. Estiveram na exposição Paulo Nazareth e Rivane Neueschenwander. Além da mostra principal, a Bienal de Veneza, abre espaço para representação dos países. A delegação oficial do Brasil é formada por Antônio Manuel, Berna Reale e André Komatsu, artistas escolhidos pelos curadores Luiz Camilo Osório e Cauê Alves.
http://divirta-se.uai.com.br/app/noticia/arte-e-livros/2015/03/11/n...
Tags:
Bem-vindo a
Industria Textil e do Vestuário - Textile Industry - Ano XVI
© 2024 Criado por Textile Industry. Ativado por