Se há uma tendência na moda brasileira hoje, é a da discussão se é ou não cultura. Ainda que o debate tenha se tornado um clássico do setor - há tempos, profissionais da área debatem políticas de incentivo à área e até se reuniram com a ministra da Cultura, Marta Suplicy, no final de 2012 para pedir que desfiles fossem apoiados por meio da Lei Rouanet -, só agora o tema ganha atenção de diversos setores da sociedade.
A discussão se aqueceu no final de agosto, quando os estilistas Pedro Lourenço, Ronaldo Fraga e Alexandre Herchcovitch tiveram aprovados seus projetos para captação de recursos para apresentar seus próximos desfiles por meio da Lei Rouanet. A questão até então mais restrita ao mercado fashion se tornou nacional. Houve quem comemorou, defendendo a moda como expressão cultural. Houve quem se indignou e questionou o método de avaliação dos projetos.
Já para a maioria dos profissionais do setor, a questão não se encerra quando o assunto é o incentivo à moda como expressão cultural, mas sim como cadeia produtiva que une diversos setores, como a indústria têxtil, a de comércio, artesanato e a cultural. Parte da polêmica pode ter fim com a criação do Plano Setorial de Moda, que deve ser anunciado ainda este ano e aberto à consulta pública. Atualmente em desenvolvimento pelo Colegiado Setorial de Moda, o plano pode, em uma iniciativa inédita, estabelecer regras claras para o apoio a projetos de moda.
Órgão ligado ao Conselho Nacional de Política Cultural e pertencente ao Ministério da Cultura, o Colegiado foi criado em 2010 com a função de debater, acompanhar e definir diretrizes e estratégias para o setor da moda brasileira. Composto por cinco representantes do poder público e quinze civis (entre eles estilistas, acadêmicos e profissionais), tem como um de seus maiores desafios a criação do inédito Plano Setorial de Moda.
“A questão não é se moda é cultura ou não. Isso já é certo. É preciso discutir a quem e como dar o incentivo. Não se questiona se um desfile seria expressão cultural, mas até que ponto seu eixo principal é mais ligado ao setor industrial ou cultural?”, declarou Lucas da Rosa, professor de Moda da Universidade de Santa Catarina e membro do Colegiado Setorial de Moda, em conversa com o Grupo Estado. Segundo Rosa, o plano deve começar a funcionar ainda em 2014, tornando-se um conjunto de leis e normas que vão balizar pelos próximos dez anos o setor de moda.
“Estamos fazendo tudo com cuidado para que não haja mais confusões. O Plano Setorial não está pronto ainda e não vai impor limites, mas vai dar indicativos do que se aproxima mais da cultura e da arte e o que é mais industrial”, comenta Rosa. “O projeto do Pedro vai ser 100% captado por meio das leis culturais. Mas será que todo desfile precisa ser captado pelo viés da cultura? Ele pode ter uma pequena parcela, mas não todo dinheiro captado pelas leis de cultura”, comentou professora Francisca Dantas Mendes, da Universidade de São Paulo.
Entre os principais objetivos do Plano Setorial de Moda, está o incentivo a novos criadores, à produção em pequena escala, à moda sustentável, artesanal e regional. “Estamos refinando e focando em eixos de trabalho, como ‘moda e educação’, ‘moda e formação’, ‘moda e difusão’. No caso do artesanato, em vez de descaracterizá-lo, vamos aproximá-lo mais da moda. Nosso viés é o setor fashion como expressão cultural, não como industrial. E, a partir daí, os projetos de incentivo poderão ser híbridos, e captar recursos junto a órgãos como o Sebrae e a Apex”, explicou Rosa. Por falar em outros setores, a convergência de recursos é outro tema polêmico. Afinal, para a grande maioria dos profissionais do setor fashion e têxtil, a discussão também diz respeito à moda como política pública que envolve todas as etapas da produção.
“A indústria têxtil, a mão de obra, a educação de moda. Toda a cadeia produtiva precisa de incentivo”, diz Francisca. Um dos maiores desafios da equipe que está delineando o Plano Setorial é a comparação com modelos internacionais, que conseguiram, por diversos meios, desenvolver seu setor de moda tanto como indústria criativa quanto mercado. Países como Inglaterra, EUA, Japão, Itália, França e até China e Índia são base de comparação e exemplo (leia abaixo).
“Não há nada parecido com o que estamos fazendo. Em geral, órgãos que incentivam a produção do setor são ligados à indústria têxtil. Alguns têm participação dos ministérios culturais”, comenta Rosa. “Os EUA têm o Council of Fashion Designers, que é formado por diversos profissionais”, comenta o estilista Carlos Miele, que desfila há mais de uma década suas coleções na Semana de Moda de Nova York.
“O modelo americano, do livre mercado, premia talentos e facilita as etapas da criação e comercialização.” A pesquisadora de moda Carol Garcia observa que tanto na Itália quanto na Inglaterra, a sociedade é bastante participativa e há um amplo envolvimento, inclusive, do setor acadêmico. “Eventos de moda sempre envolvem todos os segmentos interessados nas indústrias criativas como um todo.”
Já a estilista Lena Santana, formada em moda pela Surrey Institute of Art and Designs de Londres, vê na educação de moda no Brasil um dos maiores entraves. “Antes de pensarmos no escoamento, na mídia, temos de pensar na educação e formação. Muitos de meus alunos não sabem nem mesmo costurar”, comentou Lena, que voltou há pouco ao Brasil e dá aula de moulage na PUC-Rio. Lena vê na participação de feiras internacionais um dos principais pontos de incentivo à cadeia produtiva.
“Tinha incentivo do British Fashion Council para participar de feiras como pequena produtora, pois tenho passaporte inglês. E observava os brasileiros. Temos criatividade, mas muitas vezes, nosso acabamento fica a desejar, não conseguimos cumprir prazos, nem ser competitivos em relação aos preços dos chineses e indianos.”
Para melhorar esse quadro, a Associação Brasileira de Estilistas acaba de criar a Academia ABEST de Formação Empreendedora, que oferece cursos de profissionalização no setor e tem como grande trunfo investir no valor agregado da moda brasileira. “Investimos no life style e nas características únicas e reconhecidas de seus produtos finais”, declarou Valdemar Iódice, atual presidente da entidade.
Estadão Conteúdo
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Muitos de meus alunos não sabem nem mesmo costurar”,isto e uma coisa que acontece com frequencia nos cursos de moda se um aluno sequer sabe costurar como ele vai comandar uma equipe de producao, vejam os exemplos de balenciaga, chanel e tantos outros moda e um oficio tambem,porque cultura como diz o lucas isto nao e mais discutivel, o que se discute e se aquele trabalho ou aquele desfile tem ligacao cultural ou nao, pois voltando a discussao de agosto o que o hercovitch tem a ver com cultura e o pedro lourenco foi a gota dagua, o escandalo dos escandalos, que espero que nem uma empresa queira ser apoiadora desta vergonha, pois vamos estar aqui denunciando a mesma.
Temos criatividade, mas muitas vezes, nosso acabamento fica a desejar, não conseguimos cumprir prazos, nem ser competitivos em relação aos preços dos chineses e indianos.”
eu sempre falao que nos temos que ter um tripé, design original, pois brasileiro e viciado em copiar, qualidade em tudo desde uma modelagem perfeita ao acabamento e terceiro e saber reconhecer nossas limitaçoes e so vender o que se pode entregar, eu ja dispensei pedido de 300 mil reais, pois sabi que nao tinha condiçao de entregar no prazo que eles queriam e infelizmente o brasileiro vive querendo dar um jeitinho e para exportar nao tem jeitinho, faz 7 anos que exporto e nunca atrasei um pedido em 1 dia, mas sei de muitos casos o contrario e ainda pago o preço de quem faz estas m......... pois suja a imagem nossa la fora, mas alem de tudo nos temos ainda uma receita federal que tem a finalidade de dificultar a saida de produtos, acredito que o brasil é unico no mundo que faz isto, temos um banco do brasil que e uma desgraça total e esta piada que e o exporta dificil dos correios que leva em media 30 dias para uma mercadoria chegar aqui do lado na colombia, o governo nao precisava ajudar so em nao dificultar ja estaria de bom tamanho, porque exportar no brasil é uma verdadeira odisseia.
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