Industria Textil e do Vestuário - Textile Industry - Ano XVI

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A moda africana está cada vez mais presente como fonte de inspiração das coleções de grandes marcas internacionais, como Burberry. Mas o continente está também a explorar as suas capacidades de criação e a promover-se, como mostrou recentemente a Dakar Fashion Week, no Senegal.

Uma seta em Africa

 A moda africana está cada vez mais presente como fonte de inspiração das coleções de grandes marcas internacionais, como Burberry. Mas o continente está também a explorar as suas capacidades de criação e a promover-se, como mostrou recentemente a Dakar Fashion Week, no Senegal.

Quando Adama Ndiaye desistiu do seu trabalho como bancária na Europa por uma vida como jovem designer de vestuário no seu país natal, o Senegal, não havia qualquer desfile no qual pudesse mostrar as suas criações. Por isso, decidiu criar o seu próprio evento. «Oferecemos o bilhete, alugámos barcos, alugámos camelos», revela, explicando como atraiu outros designers para a cidade poeirenta e vibrante de Dakar, plantada junto ao Oceano Atlântico. «Foi um dia de desfiles e três dias de divertimento».

Mas com a moda africana a crescer e a ficar mais ousada em casa – e a começar a estar no radar das casas de moda e revistas de estilo no estrangeiro –, a Dakar Fashion Week, 10 anos depois, aumentou 13 vezes em orçamento e tem 30 designers vindos de todo o continente, tendo-se tornado num assunto bem mais sério. «Agora é apenas moda», afirma Ndiaye, entre diversos chamamentos na preparação para o desfile da noite. «Nos últimos anos, sente-se que a moda africana está a ficar maior, mais forte e melhor», acrescenta.

Num esforço para tornar a extravagância mais acessível, a semana começou com uma passerelle construída na Boulevard Centenaire, em Dakar, mais acostumada a receber soldados em paradas que celebram a independência do Senegal de França do que modelos deslumbrantes.

Os designers mostraram modelos com influências de toda a África e mais longe, misturando estilos modernos com improvisações coloridas das vestes tradicionais. Blocos residenciais aborrecidos foram animados com lasers laranja, amarelo e azul, com a música a atrair milhares de pessoas para fora das casas. «Isto é fantástico. Todos adoramos moda. Nunca fizeram isto antes aqui», indica Mbarka Mbodji, um vendedor de rua que vende espetos de carne e saquetas de água fresca na esquina com vista para a passerelle improvisada. Os desfiles terminaram no outro lado do espectro, perante uma plateia de elite vestida a preceito nos jardins bem arranjados de um dos hotéis mais caros da cidade.

Negócio crescente
Embora ainda haja poucos números precisos para a indústria em geral, esta, tal como o próprio desfile da marca de Ndiaye, Adama Paris, tem registado um crescimento constante na última década e agora vende em lojas de Paris, Nova Iorque, Tóquio e Londres.

Os estampados e motivos africanos estão a surgir em desfiles internacionais com grandes nomes como Burberry e Vivian Westwood a construírem coleções com muita influência africana nos últimos anos.

No final deste ano, a conferência anual de luxo do International Herald Tribune, um encontro entre os líderes da indústria, irá focar-se em África enquanto produtor e eventual consumidor de artigos de luxo. «África sempre foi uma influência estilística. Mas é ainda recente os designers estarem a ser reconhecidos pelo seu próprio mérito. Pela primeira vez, não é apenas sobre uma palmadinha nas costas mas sobre parcerias», refere Helen Jennings, editora da Arise, uma revista africana de estilo.

Embora muitos deem as boas-vindas à ideia de que os designers de moda africanos estejam a ser notados em eventos de moda de Dakar a Lagos, passando por Joanesburgo, a indústria, como outras no continente, apoia-se em grande parte no informal e sofre com a falta de financiamento, acesso aos mercados e, afirmam muitos, não são levados suficientemente a sério. «Não é o talento que não existe. Mas o próximo passo é aumentar a produção. Se o designer não tiver financiamento, não vai chegar ao próximo nível», sublinha Jennings.

Ndiaye queixa-se que assegurar crédito é suficientemente difícil para negócios normais no Senegal, por isso os designers, cujos trabalhos são vistos pela maioria como apenas passatempos, terão sempre dificuldades. Para ter o seu trabalho com um acabamento de qualidade, tem de ir a Marrocos devido à falta de fábricas locais, acrescenta.

A televisão estatal prometeu transmitir a noite de abertura em direto. Mas as modelos estiveram em frente às ventoinhas, no ar húmido de Dakar, durante várias horas antes de terem permissão para desfilar. Seidnaly Sidhamed, um designer nigeriano mais conhecido como Alphadi e descrito por Jennings como o «avô» da moda africana, acredita que os políticos africanos podiam fazer mais para promover a formação, financiamento e produção, mas não o fazem porque percebem pouco desta indústria. «Em vez de lutarem e pensarem apenas em si próprios, têm de pensar na cultura», afirma.
 
Uma nova marca para África
A ascensão da proeminência da moda africana não tem decorrido sem controvérsia. Algumas casas de moda têm sido acusadas de roubar ideias de designers africanos que não recebem os créditos quando os seus modelos são lançados em desfiles de elevado perfil.

A Vogue Italia dedicou recentemente uma edição a “Rebranding Africa” (ou “uma nova marca para África”) mas suscitou críticas por ter revertido a velhos estereótipos e ter colocado o Secretário-Geral das Nações Unidas Ban Kimoon, um sul coreano, na sua capa. «A moda é um mundo elitista que não gosta de inovação», sustenta Marie-Jeanne Serbin-Thomas, editora da Brune, outra revista africana de moda. «As pessoas estão a usar tecidos africanos mas não o reconhecem por temer que desvalorize (o seu trabalho)», prossegue. «A imagem de África é ainda de produtos baratos, mal feitos, em que as pessoas não vão gastar o seu dinheiro. As coisas estão a mudar mas há ainda essa mentalidade. Para muitos, África significa safari ou selva. Mas a criatividade que se vê aqui não tem nada a ver com isso. Isto é moderno, é internacional».

Alphadi, que nasceu na cidade de Timbuktu, no norte de Mali, agora controlada por rebeldes islamitas que impõem uma sharia (lei islâmica) restrita, dedicou a sua coleção à luta de dezenas de milhares de mális deslocados por meses de confrontos. No fundo, acredita que a sua indústria pode ter um lugar no continente como motor de crescimento e emprego. Mas afirma que as mentalidades têm de mudar em casa, assim como no estrangeiro. «Os africanos sempre quiseram usar Chanel ou Yves Saint Laurent. Se lhes dissermos que África também é bom, eles vão usar isso», conclui, segurando uma bandeira do Mali.

Fonte:|http://www.portugaltextil.com/tabid/63/xmmid/407/xmid/41238/xmview/...

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