Moda ainda pouco circular

[Romildo de Paula Leite]

Apesar de falarem muito de sustentabilidade e circularidade, as marcas de moda estão a fazer poucos progressos a fechar o ciclo, de acordo com um novo estudo da Kearney, que sustenta que a indústria mantém ainda o mesmo paradigma linear do passado.

Patagonia [©Patagonia]

Na terceira edição do seu Circular Fashion Index (CFX), que pretende medir o progresso da indústria da moda mundial na sustentabilidade e circularidade, a Kearney afirma que «infelizmente, o paradigma é ainda muito linear».

Para além dos consumidores não saberem o que torna um produto sustentável, nem como podem contribuir para a circularidade, com quase metade dos inquiridos nos EUA, França e Itália a afirmarem não saber se os produtos virgens eram melhores ou piores do que os reciclados, as insígnias mantêm também praticamente os mesmos comportamentos do passado. Nas 200 marcas analisadas, a média é de apenas 2,97 pontos numa escala de circularidade que vai até 10.

«Consistente com os nossos resultados de 2022, as marcas não estão extensivamente a ativar nenhuma das sete alavancas da circularidade. Em vez disso, estão todas a operar no intervalo entre 2% e 6%. Além disso, não estão a conseguir educar os consumidores não só sobre a importância da sustentabilidade, mas sobre ações como a reciclagem, upcycling e aluguer de vestuário», sublinha o coautor e partner da Kearney, Brian Ehrig. «Mais de um terço dos consumidores continua a desconhecer estas opções. Há muito a fazer e as marcas podem melhorar», acrescenta.

O estudo da Kearney mostra que as marcas estão essencialmente focadas em fazer novos produtos em vez de promover um mercado secundário que responda ao pós-consumo.

«Para as empresas, têm de começar com a circularidade em mente – reparação, reutilização, reciclagem, revenda – quando desenham os produtos. Para os consumidores, têm de ser educados como cuidar do seu vestuário, como pensar em reparação como opção fazível em vez de deitar algo fora, e como usar o seu próprio guarda-roupa como fonte de valor através da revenda», acrescenta Brian Ehrig.

Patagonia lidera

No top 10 das marcas, a Patagonia volta a ocupar o primeiro lugar, tal como em 2022, pelos seus esforços na promoção da circularidade, desde o design às soluções de pós-consumo, tendo recebido uma pontuação de 8,65.

Levi’s Tailor Shop [©Levi’s]

No segundo lugar surge a Levi’s (8,3 pontos), em parte pelas chamadas Levi’s Tailor Shops, de reparação, e pela utilização de matérias-primas recicladas e regeneradas.

O terceiro lugar pertence à The North Face, com 7,9 pontos, que tem estado a trabalhar no restauro e revenda de produtos usados através do seu canal Renewed.

OVS, Gucci, Madewell, Coach, Esprit, Lululemon Athletica e a retalhista sueca Lindex completam, por esta ordem, o quadro das marcas com melhor performance.

Em termos de países, mais de 80% das 200 marcas analisadas neste estudo estavam sediadas nos EUA, França, Itália, Índia, Alemanha e Reino Unido e, excetuando as indianas, que tiveram classificações significativamente inferiores, os resultados são semelhantes entre as restantes. As marcas francesas, contudo, registaram a classificação média mais elevada (3,43), seguidas das americanas (3,32) e das alemãs (3,05).

«As marcas ainda estão a revelar baixas classificações em todas as geografias e segmentos de mercado», aponta Dario Minutella, coautor do estudo e diretor na Kearney. «Apenas 19 das 200 marcas que analisamos tiveram uma classificação superior a 5 numa escala de 10 e apenas as que ficaram no top três tiveram uma pontuação acima de 7 em todas as áreas. O CFX deste ano mostra que são necessárias medidas concretas para fechar o ciclo e fazer avançar a indústria para uma maior sustentabilidade e circularidade», realça.

A legislação prevista em mercados como a UE deverá dar um empurrão a esta mudança, já que as marcas vendidas nos 27 países terão de fazer alterações para cumprir as leis regionais, com impacto nas suas operações em termos gerais. «Serão forçadas a avançar globalmente para artigos sustentáveis», conclui Brian Ehrig.

The North Face Renewed [©The North Face]

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