Industria Textil e do Vestuário - Textile Industry - Ano XVI

Industria Textil e do Vestuário - Textile Industry - Ano XVI

Estilistas revelam suas estratégias como empreendedores para gerar negócios em um nicho de mercado competitivo 

Criado em 1999, o Dragão Fashion Brasil (DFB) celebra, em 2014, 15 anos de atividades, consolidado como um dos maiores eventos de moda autoral do País.  Essa edição, que aconteceu entre os dias 23 e 27 de abril, em Fortaleza (CE), contou com 41 desfiles de grifes com forte apelo regional e outros nomes já conhecidos em todo o País. Mesmo após todo esse tempo de atividade, o DFB não perde as características iniciais e continua destacando talentos da moda conceitual, que é representada pela elaboração mais específica e experimental, diferente do fast fashion encontrado em grandes redes de varejo ou de marcas com mais espaço no mercado. Eis o desafio: como obter sucesso nas transações comerciais com peças autorais, que não necessariamente têm o mesmo apelo com o grande público?

Para Claudio Silveira, diretor do Dragão Fashion Brasil, uma das fórmulas para esse tipo de criação é o incentivo da própria cadeia têxtil, que pode empregar profissionais criativos, reconhecendo esse trabalho.  “Esses criadores devem ser contemporâneos e modernos sem ser caricatos. Devem ter identidade própria e não perder oportunidades. Tudo isso sem perder a pegada autoral. Mas acredito que essas apresentações trazem a vontade das indústrias de empregar essas pessoas, isso aqui é uma vitrine”, destaca.  



Cláuidio Silveira, que há 15 anos conduz um dos maiores eventos de moda autoral do País

Mark Greiner, um dos estilistas presentes no line-up oficial do evento há muito tempo, é reconhecido pelos desfiles impactantes e pela exploração de materiais em suas apresentações. Na edição de 2014 do Dragão Fashion Brasil, ele trouxe à passarela a mistura do Cariri com o rock em peças fragmentadas em um mix entre rústico e frágil. Apesar de toda ousadia apresentada no evento, o profissional adota outra estratégia para conquistar espaço no concorrido mercado da moda cearense. “Possuo um ateliê, onde atendo minhas clientes para o desenvolvimento de vestidos sob medida. Hoje, todo o faturamento é proveniente de peças para festa ou espetáculo, como costumo dizer. Trata-se de um trabalho especial, pois as roupas podem demorar até quatro meses para ficarem prontas”, afirma. 



Mark Greiner e o designer de acessórios, Roberto Dias, durante desfile do DFB 2014 

Kalil Nepomuceno é outro estilista já conhecido no evento e no Estado do Ceará.  Ex-proprietário de uma loja de tecidos, ele afirma que essa era a única forma de estar em contato direto com a moda, sem necessariamente ter uma marca. Mas o sonho de atuar no setor nunca foi vencido e, enquanto vendia, ele mesmo criava peças para ateliês confeccionarem. Ainda não era o que queria. Decidido, abandonou o comércio têxtil e há quatro anos finalmente conseguiu criar seu próprio espaço para desenvolvimento. “Sou muito querido aqui no Estado. Mas porque trabalho com alta-costura e muito direcionada. São roupas de festas. Trabalho o ano inteiro e tenho uma agenda cheia todos os meses. Hoje, Kalil vive realmente de moda”, relata.



Kalil Nepomunceno e a designer de acessórios Jussara Regas no DFB 2014

Já o foco de Lindebergue Fernandes é outro. A roupa apresentada nas passarelas é praticamente a mesma comercializada para seus clientes. “Há um tempo tentei manter uma loja em um espaço coletivo com outros estilistas. Mas não consegui conciliar a agenda, pois  uma das formas que encontro para continuar sobrevivendo de moda é atuar como consultor de estilo para empresas de confecção do Estado”, ressalta. Ele ainda alerta para uma questão importante. “O público acha lindo tudo que é conceitual, mas não está disposto a pagar o preço por aquele trabalho mais elaborado”.  Além de desfilar no Dragão Fashion Brasil, que serve como uma vitrine para as coleções, Lindebergue vende as peças por meio das redes sociais. O consumidor escolhe o que chama a atenção e entra em contato com o designer para personalizar o modelo. Assim, a pessoa pode ir até a casa dele ou a uma das duas costureiras fixas que o atendem.



Lindebergue Fernandes, que trabalha usa tecidos mais acessíveis para conquistar o público

Há cinco anos com um ateliê próprio e com participações na Casa de Criadores, Ivanildo Nunes faz da dificuldade uma superação para chamar a atenção para a sua primorosa mescla de alta-costura com artesanato típico do Nordeste. “O obstáculo da falta de matéria-prima se tornou um diferencial. Pois, eu conto com a ajuda de comunidades de bordadeiras para incrementar os vestidos que crio. Assim, a criatividade aflora cada vez mais. Trata-se de uma forma de valorizar a cultura artesanal, que é uma tradição e pode acabar por falta de incentivo. Então, o DNA das roupas Ivanildo Nunes é a exclusividade. Faço peças sob medida que podem demorar meses para serem finalizadas”, disse.


Ivanildo traz forte trabalho artesanal em suas peças para valorizar as roupas e as comunidades 

Público x Conceito

Como já observado anteriormente pelos estilistas, diversos fatores são levados em consideração para conseguir firmar-se em um mercado tão competitivo como da moda autoral.  Para alcançar espaço junto ao público, cada um adota uma estratégia diferente, mas afinal, quem compra esses produtos?

“Trabalho com roupas para festa. É algo muito experimental. Então, as pessoas têm que valorizar muito essa vestimenta, ter uma consciência de que não é apenas uma peça, mas uma expressão cultural. A classe A é meu principal foco para poder desenvolver tais produtos que precisam de tantos cuidados e conseguem pagar por isso”, relata Mark.



Mark mistura elementos conceituais com moda festa no desfile Cariri Rocks

“As pessoas consomem a minha moda. Tenho um público fidelíssimo, de mulheres do Norte e Nordeste que compram vestidos de festas, noivas e debutantes. A classe B conta com as minhas principais compradoras, pois possuem forte desejo de consumo. Pretendo lançar ainda uma linha prêt-à-porter para ficar mais acessível e atender o sonho das demais que não contam com recursos financeiros”, garantiu Kalil.



Kalil se inspirou no ouro na última coleção do DFB

Aproximadamente 95% da demanda total de Ivanildo Nunes é de vestidos sob medida, com detalhes em bordados manuais e tecidos nobres, o que faz as peças custarem a partir de R$ 4.500 até R$ 25 mil. “Com tanta elaboração apenas consigo atender a classe A, pois dependo dos ajustes e provas das clientes para finalizar a encomenda. Mas em até dois meses devo apresentar uma linha de prêt-à-porter exclusivo, onde todas as roupas serão diferentes e assim, posso abrir espaço para outras pessoas com diferente poder aquisitivo”, divulga.



Ivanildo investe na transformação da mulher nos vestidos apresentados no desfile do evento cearense

Lindebergue possui um perfil diferente de consumidor. “Atuo com tecidos acessíveis e parcerias com tecelagens como a Vicunha para produzir os looks que custam entre R$ 80 e R$ 700. Minha moda é casual e conceitual, por isso, quem me procura são estudantes de design, publicitários e pessoas mais descoladas. Faço algumas noivas com a pegada mais ‘hype’ também”, alega.



Lindebergue mixa referências urbanas, artesanato em suas criações 

Para Claudio Silveira, esse nicho tem espaço tanto como modelo de negócios próprio para os designers, tanto em indústrias.“A moda autoral no Ceará é crescente tem e identidade. Além disso, sempre converso com empresas para que absorvam esses estilistas e tragam essas mentes pulsantes criativas para dentro da equipe de estilo”, completa.
 

*Créditos de imagem: Roberta Braga / Silvia Borilo / Ricardo K.

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