Industria Textil e do Vestuário - Textile Industry - Ano XVI

Industria Textil e do Vestuário - Textile Industry - Ano XVI

É como se pássaros pudessem ter sido congelados em vôo e, soterrados, vivessem aprisionados, mumificados. O amor de que lhes falo é insidioso, se infiltra nos veios da terra e insufla de vida flamejante estas aves que rasgam o solo em tremores febris para que se saiba de uma só coisa: a vida ali não se extinguiu. Isto é o Amor: um risco alado nos céus.

Pode-se amar algo que se desconhece? A Moda, da qual tanto se fala, muitas vezes sem a devida propriedade, diz-se muito frequentemente “amada”. O que é o amor e como ele se expressa por isto que se convencionou chamar “moda”?

Ama-se o dinheiro que a moda é capaz de gerar? O glamour, relativamente enfraquecido recentemente, de eventos de moda? A aquisição de produtos que carregam a aura das marcas ligadas à moda? A experiência, algo teatral de determinados desfiles de moda, como aqueles engendrados por Ronaldo Fraga, por exemplo, que nos comovem para além das peças ali apresentadas e fazem com que mergulhemos numa experiência estética raramente associada à “moda”? A minúcia e a ourivesaria de vestidos como aqueles desfilados por R. Rosner na última edição da SPFW?

Ou amamos a imagem, ou melhor, as imagens da moda que nos seduzem a ponto de consumirmos como velas acesas e pouco importa que tais imagens se desenhem sobre passarelas, sobre calçadas e ruas de grandes cidades, em cenas de filmes emblemáticos como aqueles concebidos por Alfred Hitchcock, onde mulheres de beleza incomum compõem quadros “voyeurísticos” em que o olhar é cúmplice privilegiado de quem assiste ao filme e fazem daquele que vê co-autor de desvelamentos de crimes, mistérios, segredos?

Perguntas quase tão numerosas ou irrespondíveis como aquelas que fazemos quando nos sentimos “vítimas” e “presas” do “amor”. O amor pressupõe uma certa danação, uma certa aflição e inevitável tristeza. Ousaria, portanto, dizer que amor de fato nunca se o sente pela “mercadoria” da moda.

Os grandes criadores de moda, ainda que precisem vender para sobreviverem como empresas, amam algo, que deixa na mercadoria comprada por um outro -alguém que não comungou deste ato criativo uma impressão de um gesto de poesia – que não se pode confinar ou submergir no consumo pensado fria e objetivamente. Para certos criadores, a moda, ainda que precise compactuar com regras ergonômicas, aproxima-se da poética da arte. Criar objetos que nos digam algo de alguém em algum lugar, nem que este lugar exista unicamente no sonho de um real criador de moda.

Se não acreditasse que há na moda quem possa criar assim, mesmo que por brevíssimos momentos de êxtase, eu não insistiria no meu amor pela moda, o qual se incendeia a cada nova aparição de algo que rompa com a esterilidade excessiva que ameaça transformar-nos todos em bonecos robotizados e sem alma.

Viva, pois, todos aqueles que são capazes de fazer da moda uma tradução de um olhar, de um pensamento que paire para além da venda mecânica de produtos destituídos de todo e qualquer investimento poético.

http://finissimo.com.br/2013/03/27/moda-e-risco-em-nome-do-amor/

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