Industria Textil e do Vestuário - Textile Industry - Ano XVI

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Moda e solidariedade fundem-se nas últimas iniciativas de apoio à Ucrânia

Completam-se seis semanas desde o início da invasão russa à Ucrânia. E longe de ver luz no fim do túnel, o mundo descobre progressivamente a atrocidade dos crimes perpetuados na região de Bucha, entre outras. Uma matança de civis cuja escala é ainda desconhecida na sua magnitude, mas que incrementa tanto a pressão internacional como a preocupação pela localidade de Mariupol. Face à brutalidade, a resistência ucraniana joga-se também fora das suas fronteiras e as iniciativas de apoio multiplicam-se. Também na indústria da moda e do luxo, setores que viveram a paulatina suspensão das atividades das suas empresas no território russo e o lançamento de diversos donativos e projetos solidários. Concretamente em Paris, as últimas iniciativas correm a cargo de profissionais do setor de origem ucraniana.



A pop-up estará aberta de 10 a 13 de abril - Artcodeua


“A moda não importa, agora temos de lutar”, afirma há poucas semanas a designer de moda ucraniana Lilia Litkovskaya, fundadora da marca que ostenta o seu apelido, o que coincidiu com a sua presença na feira Tranoï durante a Paris Fashion Week. Regular na semana da moda parisiense, Lilia desta vez não fez a viagem como aconteceu normalmente nas suas visitas anteriores à capital francesa. Quando a guerra eclodiu a 24 de fevereiro, a designer deixou o seu atelier em Kiev e dirigiu-se para a fronteira polaca com a sua filha de dois anos e meio. Foi uma viagem de 12 horas que lhe permitiu escapar ao horror que se aproximava, mas significou deixar para trás vários membros da sua família, mormente o marido, que permaneceu na Ucrânia para lutar contra a invasão do exército russo.
 
À sua chegada a Paris, Lilia tornou-se embaixadora do design ucraniano com o objetivo de mostrar o trabalho de outros colegas, dando visibilidade à situação no seu país de origem e ganhando apoio. Tudo isto no difícil contexto de uma semana de desfiles de moda contra o pano de fundo do horror da guerra. Lilia mobilizou a indústria para se juntar a ela na manifestação de apoio à Ucrânia. E o seu stand na Tranoï não apresentou a sua alfaiataria, mas uma enorme bandeira ucraniana, flores amarelas e azuis e múltiplos códigos de barras QR dando acesso a informações sobre vários designers ucranianos e o seu trabalho. Uma iniciativa no âmbito do projeto ArtCode.Ua, lançado pelo designer em meados de fevereiro para promover a criatividade local. Até à data, a plataforma já conta com mais de 10K de seguidores no seu perfil de Instagram e colabora com 500 pintores, escultores, designers e criativos de outros campos.

Em conformidade com este projeto, a plataforma organizará um evento efémero de solidariedade na capital francesa, de domingo (10 de abril) a quarta-feira (13). Uma loja pop-up localizada no número 9 da Rue Geoffroy Marie, no 9.º Arrondissement, com a participação de marcas de moda ucranianas como a própria Litkovskaya, Bobkova, Katerina Kvit, Dzhus, Shur Shur, Ksenia Schnaider, Gudu e Nadya Dzyak, ou as marcas de joalharia Silver Stories e Chego Jewelry, entre outras. Aberta das 11 às 20 horas, a loja efémera doará 40% das receitas arrecadadas durante os quatro dias a projetos de apoio à Ucrânia. "Perante tais momentos de desolação, os ucranianos refugiam-se no permanecerem unidos e ajudarem-se mutuamente", a organização explica sobre a iniciativa coletiva.

Criar sinergias a modo de resistência



"Apoiamos os designers ucranianos a superar muitos desafios e trazemos os seus produtos a partir dos seus ateliers em toda a Ucrânia, alguns deles situados nas zonas de combate. Reunimos novamente as nossas equipas em locais seguros para continuar o nosso trabalho. Esta é a nossa forma de ajudar o nosso país e as nossas equipas nestes tempos difíceis", explica Litkovskaya.



A designer Ksenia Schnaider - Ksenia Schnaider


Sob esta ideia de criar sinergias, nos últimos dias também viu luz o projeto Angel For Fashion, uma nova plataforma de e-commerce impulsada pela empreendedora Jen Sidary com a ideia de apoiar o design de moda ucraniano e potenciar que a indústria local mantenha o seu movimento. “O nosso objetivo é que se compre com a confiança de saber que se está a apoiar estas empresas, pois o dinheiro vai diretamente para suporte da marca e dos seus funcionários criativos", disse a fundadora do projeto, que já vende online o vestuário de 30 estilistas, incluindo a Frolov, Elena Burenina, Gunia Project e Valery Kovalska.
 
"Sem dúvida, a vida deve continuar e a criatividade livre deve desenvolver-se. A moda sempre refletiu mudanças sociais e espero que a comunidade responda ao terror e em breve veremos muitas coleções que apelam à paz", disse a designer Ksenia Schnaider, uma das participantes do projeto, à FashionNetwork.com, sobre o papel que a indústria deve desempenhar neste delicado contexto. Fundada em Kiev em 2011, a sua marca homónima é conhecida pela sua filosofia sustentável e trabalho em ganga: "A guerra é o momento em que todos os seus medos se tornam realidade ao mesmo tempo e tudo começa a acontecer de verdade. Todos temos medo de algo: de perder os nossos empregos, de estar separados dos nossos entes queridos, de crianças a morrer, de incerteza, de fome, de humilhação e de assédio público...", explicou sobre os efeitos da invasão ilegal.
 
Desde o início da guerra, como muitas outras mulheres com filhos, a empresária teve de deixar a sua cidade natal. Depois de viajar por três países e permanecer em nove lugares diferentes, Ksenia instalou-se na Alemanha com a sua filha. "Estou a tentar ajudar a minha equipa, organizando trabalho e vendas à distância para manter a minha marca viva, bem como voluntariado para ajudar outras famílias ucranianas. Agora estou num lugar seguro, mas o meu coração está na Ucrânia, não posso estar bem enquanto coisas terríveis ainda estão a acontecer lá", concluiu.
 
Outro evento de solidariedade também terá lugar na quinta-feira (14). Sob o título "As tendências não tão evidentes da indústria da moda em 2022/2023", uma masterclass será dada pela estilista de moda ucraniana Margarita Muradova, cofundadora da plataforma educativa de moda Modeisme e conhecida pelo seu trabalho, na última década, com marcas de moda como a Chanel, Givenchy, Etam e Cartier. Desenvolvido em colaboração com a associação Aide et Supporte, o evento doará as receitas às Forças Armadas Ucranianas e à associação de voluntários Zgraya. Os lugares já estão disponíveis a um preço de 100 euros por pessoa.

https://pt.fashionnetwork.com/news/Moda-e-solidariedade-fundem-se-n...

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