Na mais recente edição da Semana de Moda de Milão, dedicada ao verão 2026 (nosso verão 2027), a moda falou mais baixo — e, justamente por isso, foi ouvida com mais atenção. Em tempos globalmente marcados por incertezas e crises, as passarelas milanesas apresentaram uma estética sóbria e reconfortante. A tônica foi a serenidade, expressa em tecidos leves, cortes clássicos e uma paleta dominada por tons neutros e pastel. Ainda assim, pequenas explosões de cores vibrantes apareceram estrategicamente, indicando que mesmo nos momentos mais calmos há espaço para a esperança e a vitalidade.
Marcas como Dolce & Gabbana, Prada e Armani traduziram esse desejo coletivo por desaceleração em coleções que evocam conforto e introspecção. Enquanto a Dolce & Gabbana levou à passarela pijamas luxuosos como símbolo máximo do desejo por descanso, a Prada apostou em um minimalismo refinado, e a Armani reafirmou sua elegância atemporal com uma das maiores coleções de sua história — nada menos que 116 looks. O jeans, por sua vez, apareceu de forma discreta, mas foi suficiente para sinalizar um novo caminho para o denim: mais suave, menos rígido, mais emocional.
O clima de contenção se refletiu também nos bastidores da temporada, com ausências de peso no calendário oficial. Marcas como Fendi, Dsquared2, JW Anderson, Versace e Gucci optaram por não participar — uma decisão que pode ser lida como resposta ao atual momento da indústria. Seja por estratégias de reposicionamento ou pausas criativas, suas ausências reforçaram ainda mais a ideia de que o silêncio, neste momento, pode ser tão expressivo quanto um desfile grandioso.
Após a apresentação da Prada, a fala de Raf Simons sintetizou o espírito da semana: “Às vezes, é bom parar para refletir e desacelerar um pouco.” Miuccia Prada completou: “Inclusive nos tempos em que a moda exagera.” A palavra mais repetida da temporada foi “calma” — não como ausência de movimento, mas como postura crítica frente a um mundo agitado. Em meio à tensão geopolítica, crises no setor de luxo e inquietações em torno da inteligência artificial, a moda parece ter escolhido ser porto seguro, e não mais catalisadora de ruídos.
Até mesmo nomes estrangeiros como Ralph Lauren aderiram a esse novo compasso, trocando os EUA por um palazzo em Milão para apresentar uma coleção repleta de cáquis, riscas de giz e nostalgia refinada — em sintonia com os números que apontam crescimento das vendas na Europa e na China. Em vez de gritar tendências, a moda em Milão preferiu sussurrar certezas: que o conforto não é inimigo do luxo, que a calma pode ser revolucionária e que, diante do caos, vestir-se bem talvez signifique vestir-se com suavidade.
Fonte: Ana Gimonski | Foto: Divulgação
Por: anna
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