Industria Textil e do Vestuário - Textile Industry - Ano XVI

Industria Textil e do Vestuário - Textile Industry - Ano XVI

Em Los Angeles, Norma Ulloa passa 11 horas por dia numa fábrica de vestuário onde costura etiquetas em peças da retalhista americana Forever 21. Num dia bom, podem passar pelas mãos daquela funcionária 700 t-shirts. Ulloa recebe 6 dólares (aproximadamente 5,05 euros) à hora. Serão estes os custos da moda rápida?

O trabalho garante a Norma Ulloa um valor muito aquém do salário mínimo de Los Angeles, de acordo com uma queixa registada pela funcionária no Estado norte-americano da Califórnia.

Não obstante, a queixa da Ulloa é apenas uma das cerca de 300 apresentadas desde 2007 pelos trabalhadores que exigem salários em atraso na cadeia de aprovisionamento da Forever 21, segundo um artigo do Los Angeles Times.

Como outros grandes retalhistas, a Forever 21 consegue contornar as reivindicações salariais dos trabalhadores das fábricas graças um labirinto de intermediários que vai desde os repositores das prateleiras das lojas às costureiras.

A empresa acaba por tirar partido de uma lei estadual com 18 anos que foi originalmente destinada a acabar com a exploração em fábricas de vestuário, mas não teve o efeito esperado. A lei permitiu que os trabalhadores recuperassem os salários do dono das fábricas e de qualquer empresa de confeção que fizesse negócios com esse dono. A Forever 21, contudo, afirma ser retalhista, não fabricante.

A Forever 21 é uma das retalhistas que afirma inspecionar as unidades de produção que fazem parte da sua cadeia de aprovisionamento como parte da sua «responsabilidade social para melhor proteger os trabalhadores», mas parece não aplicar os mesmos parâmetros a Los Angeles.

Guerra de preços

À medida que os retalhistas em todo o país enfrentam uma concorrência cada vez mais aguerrida por parte do comércio eletrónico, marcas de moda rápida como a Forever 21 estão a pressionar fortemente os fornecedores para baixar os preços.

O Departamento de Trabalho dos EUA investigou 77 fábricas de vestuário em Los Angeles, entre abril e julho de 2016, e descobriu que os trabalhadores recebiam apenas entre 4 a 7 dólares por hora e que trabalhavam 10 horas por dia a costurar peças para marcas como a Forever 21, Ross Dress for Less ou TJ Maxx.

Esses salários são o custo oculto das peças baratas que fazem de retalhistas como a Forever 21 propostas impossíveis de resistir.

Um vestido Forever 21 feito numa dessas fábricas de Los Angeles investigadas pelo governo custa 24,90 dólares. Mas fazer esse vestido com os trabalhadores a ganharem o salário mínimo estatal de 7,25 dólares subiria o preço da peça para os 30,43 dólares.

A Forever 21 teria assim de pagar mais 50% para que os donos da fábrica pagassem aos trabalhadores o salário mínimo, de acordo com as descobertas da investigação.

O Departamento de Trabalho descobriu violações laborais em 85% das fábricas que visitou durante o período de quatro meses e obrigou a que os fornecedores pagassem 1,3 milhões de dólares em salários atrasados, horas extraordinárias e danos –, mas não foi capaz de chegar às marcas.

«Todo este problema passa pelo retalhista», afirmou David Weil, do Departamento de Trabalho, que liderou a investigação. «Forçam os custos de produção para que sejam tão baixos como querem, devido ao seu poder na cadeia de aprovisionamento, e como resultado, os trabalhadores arcam com todo os custos e riscos do sistema», completou.

Além da investigação, houve 67 queixas arquivadas desde 2012 por trabalhadores que afirmaram ter recebido menos do que o salário mínimo para fazer roupas para a Ross Dress for Less. Outras 14 reclamações de funcionários que trabalhavam para a TJ Maxx e para a Marshalls foram arquivadas.

Depois da investigação estatal no ano passado, a Forever 21 afirma ter deixado de trabalhar com alguns dos fabricantes envolvidos e deu a outros uma segunda oportunidade caso «corrigissem a situação e voltassem a cumprir», afirmou um porta-voz da Forever 21. A retalhista exige que os seus fornecedores produzam vestuário «em plena conformidade com todas as leis e regulamentos aplicáveis», acrescentou o porta-voz.

A TJX Cos., a empresa-mãe da TJ Maxx e da Marshalls, adotou uma abordagem diferente. Depois da investigação do Departamento de Trabalho, começou a inspecionar as fábricas de Los Angeles usadas pelos seus maiores fornecedores, assegurou um porta-voz da empresa.

Já um porta-voz da Ross ressalvou que a empresa «não controla o que os fornecedores terceirizados pagam aos seus funcionários, contratados ou subcontratados».

Los Angeles e a clandestinidade

Grande parte da confeção de vestuário norte-americano deslocalizou-se, apesar de Los Angeles ter mantido um pequeno nicho do negócio porque é capaz de produzir pequenas coleções rapidamente. Para manter os preços baixos, as fábricas dependem de trabalhadores imigrantes dispostos a costurar por alguns dólares por hora.

Os trabalhadores são principalmente latinos clandestinos, muitos dos quais devem a sua sobrevivência à Forever 21.

O fio que liga Norma Ulloa à Forever 21 começa num showroom no San Pedro Mart, ocupado pela Fashion Debut. O empresário Sung Cho iniciou a empresa de confeção há 16 anos. Entretanto, mudou a maior parte da sua produção para a China, mas ainda responde a uma ou duas encomendas por mês da Forever 21 e fabrica essas roupas em Los Angeles, onde consegue garantir uma resposta rápida. A filha de Cho, Joyce, sublinha que a Forever 21 normalmente paga entre 9 a 12 dólares por uma parte superior de senhora.

Esses preços baixos são detalhados em documentos que Norma Ulloa descobriu na sua fábrica, a Dream High Fashion, que faz peças para a Fashion Debut.

Naquelas unidades, a maioria dos trabalhadores é pago à peça, de acordo com a investigação de 2016 do Departamento de Trabalho. Esta prática é legal desde que os empregadores garantam o salário mínimo aos funcionários.

Ulloa recebe aproximadamente 6 dólares à hora – o mínimo estadual subiu de 8 para 10,50 dólares desde que trabalha naquela fábrica. Quando chegou a Los Angeles, vinda do México, há duas décadas, tinha a certeza de que passaria um ano nos EUA, a poupar o dinheiro de que precisava para construir uma casa e regressar ao país natal.

Mas, entretanto, desistiu desse sonho e não tem ideia de quando ou como se vai reformar. «O único trabalho aqui é a costura», lamentou.

Quando Ulloa apresentou a sua queixa, levou etiquetas de mais de duas dúzias de marcas, entre elas duas etiquetas Forever 21, que disse ter tirado da fábrica.

A sua queixa incluiu ainda faturas que encontrou na fábrica, revelando encomendas da Forever 21 à Fashion Debut.

Norma Ulloa pediu aproximadamente 89 mil dólares em salários e penalizações. A Fashion Debut ofereceu 2 mil dólares para resolver o caso. Até ao momento não foi alcançado qualquer acordo.

FONTELA TIMES
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