Industria Textil e do Vestuário - Textile Industry - Ano XVI

Industria Textil e do Vestuário - Textile Industry - Ano XVI

Milhares de incêndios estão a devastar a floresta da Amazónia, lançando uma crise no Brasil que é agora alvo de escrutínio internacional. A atração da moda pelo couro poderá ter alimentado este desastre, pelo que as marcas estão a tentar reverter os danos ambientais causados.

De acordo com a Earth Alliance, mais de 9 mil fogos estão em atividade na Amazónia, devido aos níveis inauditos de desflorestação que secaram a região. «A cada minuto, o equivalente a um campo de futebol e meio daquela que é chamada “o pulmão da Terra” é incinerado», notícia o jornal The Guardian.

Um relatório de investigação, publicado em julho, pelos media nacionais, mostrou que a empresa brasileira JBS SA, a maior produtora de carne e couro do mundo, comprava gado a fazendeiros a operar em terrenos que o governo proibiu de serem usadas para pastagens. A empresa negou a veracidade da informação, apesar de reconhecer a dificuldade em rastrear a origem de alguns bovinos.

Marcas protegem a floresta

De qualquer forma, algumas marcas procuram unir esforços no sentido de reverter ou, pelo menos, minimizar o desastre causado. No final de agosto, a VF Corp, detentora da Timberland, Vans e North Face, anunciou a cessão de relação comercial com o Brasil no que diz respeito ao couro, até quando «tiver a confiança e a garantia que os materiais usados nos produtos não irão contribuir para o impacto ambiental no país».

A este movimento, seguiu-se a H&M uma semana depois, explicando que «devido aos graves incêndios na parte brasileira da floresta amazónica e às conexões com a produção de gado, decidimos proibir temporariamente o couro do Brasil». Esta restrição deverá manter-se até que a empresa obtenha garantias credíveis de que o couro importado não contribui para danos ambientais. Segundo a empresa, o seu aprovisionamento provém maioritariamente da Europa, enquanto apenas uma pequena parte tem origem no Brasil.

Por sua vez, a marca de calçado ecologicamente responsável Allbirds lançou, em parceria com a Just, empresa de água sustentável, uma coleção-cápsula que beneficia os esforços de combate às chamas na floresta amazónica. Ambas as marcas divulgaram os seus materiais sustentáveis e as suas práticas da cadeia de aprovisionamento para comporem esta edição limitada que reúne os valores partilhados. A Allbirds recorreu a componentes retirados de árvores certificadas pelo Forest Stewardship Council (FSC), solas SweetFoam à base de cana-de açúcar, plástico e papel reciclados, enquanto a Just substituiu a garrafa de plástico por uma caixa feita a partir de plantas. As duas empresas comprometeram-se a reduzir drasticamente as respetivas pegadas de carbono, através de ajustes na sua cadeia de aprovisionamento e apoio a programas de compensação, tendo obtido o certificado de Empresa B, que representa um elevado nível de compromisso de desempenho social e ambiental, operações transparentes e responsabilidade. No final, 100% dos recursos provenientes da venda desta coleção serão doados ao projeto Amazon Forest Fund pela Earth Alliance, um grupo ambiental copresidido pelo ator Leonardo DiCaprio e pelos filantropos Laurene Powell Jobs e Brian Sheth.

Para além destas, também a LVMH, a maior empresa de artigos de luxo, prometeu doar 10 milhões de euros para ajudar a combater os incêndios da Amazónia, a somar aos 20 milhões do G7, liderados pelo presidente francês Emmanuel Macron. A LVMH de luxo afirma que a proteção do ambiente «requer ações coletivas concretas quando surgem perigos, a fim de proporcionar recursos para os especialistas locais, bem como trabalho conjunto para salvar o planeta».

Por outro lado, surgem pequenas iniciativas, como a plataforma sem fins lucrativos Stella McCartney Cares, da designer britânica, focada na consciencialização para o cancro da mamã e para a sustentabilidade, «com o objetivo de criar mudanças positivas na indústria da moda e no mundo em geral, inspirando e capacitando indivíduos, estudantes, profissionais e empresas a adotarem práticas sustentáveis». Entre as marcas reunidas no pacto de sustentabilidade na Cimeira do G7, está a Zara, do grupo Inditex, que se comprometeu a fazer a transição para tecidos sustentáveis até 2025.

Desastre previsível

No entanto, especialistas advogam que este resultado já era previsível há mais de uma década. Com efeito, em 2009, o grupo ambientalista Greenpeace já havia publicado o relatório Slaughtering the Amazon (Massacrando a Amazónia), que concluía que a procura de couro estava a devastar a floresta por si só, e não apenas como um subproduto da carne bovina. Apesar das leis que a protegiam, incluindo o código florestal do Brasil, vários trabalhadores de gado limpavam a floresta tropical ilegalmente no sentido de abrir terreno para a exploração da carne bovina e do couro, que depois eram vendidos no mercado.

Para adicionar achas à fogueira, «todo o empreendimento foi sustentado por bancos financiados pelo Estado», aquando do mandato do antigo presidente brasileiro Lula da Silva, denuncia o The Guardian.

Agora, numa época em que as questões sustentáveis têm importância crescente, o governo de Jair Bolsonaro está sob crítica internacional e é motivo de protesto social, com o pretexto de que as medidas concretizadas não são suficientes para proteger a maior floresta tropical do mundo. Neste sentido, o governo brasileiro teme que a publicidade negativa em torno do desastre e as possíveis sanções internacionais afastem o investimento das empresas, o que, aliás, já é uma realidade.

https://www.portugaltextil.com/moda-reage-para-proteger-a-amazonia/

Para participar de nossa Rede Têxtil e do Vestuário - CLIQUE AQUI

Exibições: 272

Responder esta

© 2024   Criado por Textile Industry.   Ativado por

Badges  |  Relatar um incidente  |  Termos de serviço