Industria Textil e do Vestuário - Textile Industry - Ano XVI

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Silvia Costanti/Valor / Silvia Costanti/Valor

Mario Queiroz: lançamento da coleção na Pinacoteca do Estado, em São Paulo, tem intenção de mostrar que a moda masculina pode sim se aproximar da arte

A moda masculina pode até não ter a variedade de possibilidades que a feminina dispõe. Mas isso não é motivo para cair na mesmice dos paletós cinzentos, das calças cáqui e das camisas listadas. Tudo bem: essas peças podem formar a base do guarda-roupa. Mas há muito mais do que isso à disposição do consumidor atento. E isso se deve ao trabalho de alguns estilistas - verdadeiros "heróis da resistência" - que acreditam que moda se faz de ideias renovadas e não de velhas convicções sobre a elegância.

Quando idealizou sua primeira coleção masculina para a varejista Riachuelo, lançada na semana passada, o estilista Lorenzo Merlino já tinha um foco em mente. Além de criar peças acessíveis ao público da loja - em sua maioria oriundos das classes B e C -, Merlino sabia que precisava preencher um gap. "As mulheres dispõem de roupas que podem transitar entre o trabalho e o lazer", diz Merlino. "Já os homens precisam se contentar com um visual restrito: ou formal ou descontraído demais. Não há variedade de roupas que fiquem num meio termo". E por "meio termo" entenda-se peças sem a caretice costumeira do escritório, que não façam feio num happy hour ou mesmo numa balada noturna.

Entre os 20 modelos que compõem a coleção, há uma calça que exemplifica essa ideia: feita de malha pesada, ela tem o corte e os acabamentos de alfaiataria. Mas foge do lugar comum. "Ela passa por uma calça de lã e pode ser combinada a um paletó formal, no escritório. Para um programa pós-trabalho, basta combiná-la com uma jaqueta e o visual já muda", diz Merlino. Pensando na necessidade contemporânea de ser flexível - "quase todo mundo vai do trabalho direto para o compromisso noturno" -, Merlino criou tricôs que substituem paletós, camisas polo com desenho mais urbano (e menos esportivo).

Divulgação

Coleção de Mario Queiroz (as duas à esq.) e de Lorenzo Merlino (as duas à dir.): variações que podem fugir da caretice típica da moda masculina mainstream

Fugindo mais uma vez do lugar-comum dos grandes varejistas - sempre menos flexíveis para ousar -, Merlino optou por criar modelagens mais próximas ao corpo, porém sem serem justas demais. "Essa proporção deixa o homem mais longilíneo", diz o estilista. Traduzindo para uma linguagem mais corriqueira: são roupas que emagrecem, uma boa notícia até para machos conservadores. A cartela de cores é sóbria, com toques de verde, marinho e até lilás. Apesar do volume da produção - de 30 mil peças -, o estilista garante que a qualidade foi prioridade. "Acompanhei a produção de perto, para cuidar da modelagem e do acabamento. Não acredito em moda barata com tecido ruim."

Na mesma semana de lançamento da coleção de Merlino para a Riachuelo, outro estilista de moda masculina apresentou sua coleção de verão 2013: Mario Queiroz. Dissidente da São Paulo Fashion Week - ao menos momentaneamente -, Queiroz lançou sua coleção na Pinacoteca do Estado. A intenção era mostrar que a moda masculina pode sim se aproximar da arte, no melhor dos sentidos. Queiroz teve como ponto de partida o trabalho do artista venezuelano Carlos Cruz Diez, o que acrescentou mais cores à coleção. Diversificar o guarda-roupa masculino, aliás, foi um dos objetivos da coleção. "Não economizei nas cores. Não queria mostrar roupas que pudessem ser vistas em outras lojas masculinas", diz Queiroz, que assume o seu lugar de estilista mais autoral, focado em um nicho. Como não tem intenção de concorrer com varejistas de grande difusão, Queiroz posiciona-se na vanguarda. "Imagino que mesmo o homem com estilo tradicional pode, às vezes, querer algo diferente", afirma o estilista. "Se todas as lojas terão paletós azul-marinho, eu vou ter o dourado e o cor de rosa, feitos com extrema qualidade."

Na coleção de Queiroz - que chega à loja do estilista na primeira semana de setembro - há calças de modelagem solta no corpo, mas também modelos justos. Entre as apostas mais fortes estão os shorts e as bermudas de tecido casual. Algumas bermudas, aliás, foram feitas para substituir as calças sociais, na combinação com blazers da mesma cor. "Uma tendência em que acredito é a das calças mais curtas, para usar com sapatos sem meia", diz Queiroz, a exemplo do que já foi mostrado pelas grifes masculinas internacionais. Na camisaria, há boas opções de peças quadradas, de magas curtas, com duas ou três cores misturadas.

Segundo Queiroz, é preciso desmistificar a roupa masculina. "Peças de alfaiataria não servem apenas para trabalhar", diz o designer. Além disso, nos últimos anos, outras profissões surgiram ou se desenvolveram. "Há muito homem que não quer se vestir como o pai e o avô", afirma Queiroz. "E há também um público muito importante crescendo: o dos jovens 'prolongados'. Está aí Caetano Veloso, jovial aos 70 anos, que não me deixa mentir."

Fonte:|http://www.valor.com.br/cultura/2786898/resistencia-contra-velhas-c...

 

 

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