Industria Textil e do Vestuário - Textile Industry - Ano XVI

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Modelo no SPFW, Erika Hilton fala de lugar de ‘diva pop’, moda e crise estética na política antes de desfile

Deputada federal conversou com Marie Claire sobre local que ocupa na moda e na política, nesta sexta-feira (10).

Eriak Hilton para Apartamento 03Eriak Hilton para Apartamento 03 — Foto: Divulgação/Marcia Fasoli

Convidada para a apresentação da Apartamento 03, marca que esteve nesta sexta-feira (10) no São Paulo Fashion Week, a deputada federal Erika Hilton cruzou a passarela mostrando que a moda não precisa ser sisuda —, aliás, ela pode ser vibrante como o azul escolhido como tema pelo estilista Luiz Claudio Silva para a coleção. Nesta edição, a deputada federal também estará na passarela da LED, no domingo (12).

"Acho que dentro da moda tive pouca influência na diminuição da 'sisudez', mas ela vem se repensando justamente pelos movimentos que a sociedade vem fazendo. A população negra, indígena, LGBTQIAP+, a gente sempre viveu em situação de subalternidade em todos os aspectos, desde os direitos civis à representação imagética no ambiente da moda. Mas mesmo dentro desse contexto histórico, político, social e econômico, a gente seguiu caminhando", destacou, em entrevista para Marie Claire.

"Sem nós, não existe moda"

Para ela, a inserção de corpos diversos no segmento teve um quê de pressão desses grupos minoritários e minorizados. "Não à toa estamos aqui, e esses movimentos que fizemos foram pressionando esse universo a entender que sem nós não existe moda. Não existe moda sem diversidade, sem pluralidade, nós consumimos e fazemos parte desse processo. E se nos deixarem de fora, custa caro, porque estamos em um país que é majoritariamente feminino e negro e a gente precisa fazer parte".

Apartamento 03 - SPFW N 56 — Foto: Divulgação/Marcia FasoliApartamento 03 - SPFW N 56 — Foto: Divulgação/Marcia Fasoli

Categórica, Erika diz que a indústria da moda percebeu um apelo comercial para, então, colocar essa população em espaços de representação -- por exemplo, nas passarelas. "Sinceramente, não acho que o primeiro passo da moda foi um passo social comprometido, não pensaram que precisavam de representatividade negra, trans, gorda", avalia.

"Acho que foi capital: 'Esse povo consome, a gente precisa vender e precisamos incluir para vender', mas com esse movimento a gente foi chegando e se apropriando da moda. Temos inúmeras estilistas e marcas negras, trans, que ocupam as passarelas do SPFW e se apropriaram desse lugar, foram cavando isso."

A possibilidade de uma moda plural e política

Hilton também traz o debate político para a sua fala, principalmente no que diz respeito à necessidade de mudança estrutural para que a população se sinta parte do que é decidido por pessoas que elas mesmas escolheram para representá-las. Ela comenta sobre sua estratégia de se aproximar de seu eleitorado - e além dele - para que sejam vistos e também a enxerguem como aliada e parte da luta por um país mais justo, diminuindo o distanciamento entre políticos e povo.

Para isso, ela afirma saber ter o posto de 'Beyoncé do povo' -- inclusive, brincando que tem levado beleza a uma "política feia" -- mas que quer se manter perto daqueles que são afetados diretamente pelas decisões que acontecem em Brasília.

"Tenho feito esse movimento na política e a provoco a se repensar, apesar dela não querer isso e estar estagnada. Faço ela perceber o quanto é feia, não tem realidade com as pessoas e precisa mudar. É cinza, fria, não aproxima e não quer aproximar. Quanto mais a portas fechadas for, melhor para a corrupção, para a quebra de direitos, porque o povo não sabe e não participa", pontua Hilton.

"Digo que a crise [em Brasília] é estética, porque a estética atrai, a imagem chega primeiro do que a fala às vezes, e quando a política não se pensa com estética, ela mostra um desleixo para a parte de fora e fica distanciada. Tenho conseguido fazer com que a massa de jovens que me acompanha e movimenta minhas redes e falas sejam atraídos não pelo projeto de lei que aprovei, mas pela repercussão do que falo, porque essa provocação com a moda e intersecção vem fazendo com que eles se sintam cada vez mais participativos e representados".

"Eles olham para alguém que nomeiam como 'diva pop, a Beyoncé' deles, e tá ali pertinho, em Brasília, não em uma tela, num videoclipe, longe. Eles vão me encontrar num shopping, num mercado, numa feira, e isso é importante, é um fenômeno necessário para que as pessoas entendam que a política é para elas, sobre elas e pode ser feita por pessoas de verdade."

Cultura no Brasil

A respeito da situação cultural do Brasil, Erika não esconde que se faz necessária uma reestruturação política nos próximos anos para que volte a ser uma ferramenta de transformação.

"Acho que temos possibilidades a longo prazo de avançar em um debate de tornar a moda política e cultural. Assim como a política se pensa 'cinza' para afastar, [a população do tema] não querem usar a cultura como instrumento de transformação justamente para não moldar essas mentes pensantes. Mas acho que é um processo possível e me coloco à disposição para construir esse lugar", diz. "Mas não é uma coisa de curto prazo, é de médio a longo prazo, porque precisamos modificar um pouco a cara e a configuração desse Congresso para avançar com políticas como essa."

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