Industria Textil e do Vestuário - Textile Industry - Ano XVI

Industria Textil e do Vestuário - Textile Industry - Ano XVI

O abrandamento da economia mundial, a quebra de encomendas do estrangeiro e o aumento dos custos salariais e matérias-primas estão a deixar muitos exportadores na China à beira do abismo, onde a única solução é adaptar-se para não desmoronar-se.
 

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Mudar ou morrer – Parte 1

 A empresa de produção de vestidos de Chen Lifeng sobreviveu à crise financeira mundial mas pode encerrar vítima do abrandamento económico, o que a China considera necessário para assegurar o seu futuro crescimento. A Ningbo Tengsheng Garments está a enfrentar dificuldades com a queda das vendas no estrangeiro, o rápido aumento dos salários e os custos mais elevados das matérias-primas que erodiram já as reduzidas margens de lucro.

«A situação é mais sombria do que em 2008/2009. As novas encomendas estão em quebra mas os salários estão a subir. Muitas empresas estão ainda pior e algumas entraram em bancarrota», explica Chen, de 31 anos, cuja fábrica na província de Zhejiang produz 4 a 5 milhões de dólares (3 a 3,8 milhões de euros) em vestidos anualmente. «Estamos a fazer o nosso melhor, mas francamente não sei durante quanto tempo podemos manter o nosso negócio», afirma Chen, apontando para máquinas de costura vazias na fábrica – um terço da capacidade.

Empresas como a de Chen enfrentam a extinção se não forem capazes de evoluir com a próxima fase de crescimento da China. Pequim está a cumprir promessas antigas de redirecionar a sua economia para o crescimento interno em vez das exportações. Isso irá envolver um duro princípio base do capitalismo: destruição criativa. As empresas que não se adaptarem irão falhar.

Pequim parece preparada para aceitar isso. O crescimento económico está a abrandar e os próximos números deverão revelar que a produção do primeiro trimestre cresceu ao ritmo mais lento desde 2009, no final da crise financeira mundial.

Ao contrário de 2009, quando o governo embarcou numa onda de consumo para impulsionar o crescimento, a China pouco tem feito para evitar que a economia abrande e adotou mesmo um objetivo de crescimento económico mais baixo, reconhecendo que três décadas de expansão anual de 10% do PIB terminaram.

A cidade de Ningbo prosperou sob o anterior modelo de crescimento, alimentado por exportações de bens de trabalho intensivo, produzidos pelos trabalhadores com baixas qualificações e mal pagos. Mas a cidade tem investido fortemente para criar uma zona altamente tecnológica.

No centro da cidade, fora da cintura industrial, centros comerciais cheios de consumidores afluentes desejosos de marcas de moda dão uma mostra do que Pequim espera que surja agora: uma economia impulsionada pelo consumo.

O centro comercial Raffles City deverá abrir este ano em Ningbo, uma cidade de 6 milhões de pessoas, mais 4 milhões de trabalhadores migrantes, que se situa a cerca de 250 quilómetros de Xangai. Uma “rua de vinho” que vende 2.000 tipos de vinho importado de mais de 20 países abriu em junho do ano passado.

O Primeiro-Ministro Wen Jiabao indicou no mês passado que a sua herança política ficará marcada pela necessidade de reformas estruturais, para que a China deixe de se apoiar nas exportações de produtos de gama baixa e impulsione os produtores a subirem na cadeia de valor. Li Keqiang, que deverá suceder a Wen no início do próximo ano, indicou num fórum no mês passado que a China não pode adiar as reformas para reequilibrar a sua economia.

Aumentar os salários é parte da equação e o mais recente plano quinquenal da China aponta para um crescimento médio anual de 15%. Mas isso pode empurrar os pequenos negócios para o abismo.

As novas encomendas para exportação no negócio de Chen caíram este ano 30% a 40% até agora em comparação com o ano anterior. Os salários mensais dos trabalhadores, por outro lado, subiram 10% a 20%, a somar aos 40% a 50% já registados no ano passado.

Para além do salário mensal de 3.000 yuan (cerca de 364 euros), a empresa privada tem de contribuir com mais 250 yuans para os fundos de segurança social de cada trabalhador – cuidados de saúde e pensões – e fornecer alojamento para os seus 130 trabalhadores, acrescenta Chen. Isso deixa pouco dinheiro para a empresa automatizar as linhas de produção, quanto mais desenvolver marcas para rivalizar com a “Shanshan” ou a “Youngor” – marcas nacionais líderes que são o símbolo da prosperidade da indústria de vestuário de Ningbo.

Países como o Vietname, Camboja e Bangladesh começaram a ter preços mais baixos do que a China em artigos de mão-de-obra intensiva como vestuário, o que significa que subir na cadeia de valor é essencial para sobreviver.

Os dados oficiais mostram que as exportações têxteis cresceram apenas 1,4% em termos anuais no primeiro trimestre, em comparação com o crescimento geral das exportações de 7,6%. As exportações de maquinaria e produtos de eletrónica, com maior valor acrescentado, cresceram a um ritmo duas vezes superior.

You Zhongguang, vice-diretor da Ningbo Xingwei Plastic Products Co, uma das maiores exportadoras chinesas de facas, antecipa vendas de 180 milhões de yuan este ano, em comparação com os 163 milhões de yuan de 2011, mas vê o aumento dos salários como o seu principal desafio. «A capacidade para obter lucro está cada vez mais pequena, a nossa margem de lucro bruta é de apenas 10%. Tendo em conta o aumento dos salários e das matérias-primas, a margem é muito pequena», indica. Para impulsionar a produtividade, a empresa planeia gastar cerca de 5 milhões de yuan este ano para automatizar as linhas de produção, explica.

Automatização da produção mas também a deslocalização para outras regiões, quer dentro da China, quer no estrangeiro, são alguns dos princípios que as empresas chinesas estão a adotar para se manterem competitivas, sobretudo numa altura em que a mão-de-obra é também escassa, como revela a segunda parte deste artigo.

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A escassez de mão de obra na China vai dar um maior poder negocial à nova geração de operários do país. Mais uma questão a resolver pelos exportadores chineses, que estão cada vez mais a apostar no investimento no estrangeiro e na deslocalização para o interior do país para sobreviverem.
 

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Mudar ou morrer – Parte 2


Como resultado do abrandamento da economia mundial, da redução de encomendas do estrangeiro e aumento dos custos com as matérias-primas, os exportadores chineses estão a tentar adaptar-se à nova realidade, nomeadamente através da automatização da sua produção (ver Mudar ou morrer – Parte 1).

Para além do aumento dos custos com as matérias-primas, os salários estão igualmente a subir na China, fruto de um outro problema que a indústria enfrenta: a constante falta de mão de obra nos centros exportadores do país. Mesmo com os vizinhos de Chen Lifeng, da empresa Ningbo Tengsheng Garments, a fecharem as portas, os anúncios para contratar trabalhadores estão por todo o lado.

A falta de trabalhadores migrantes em Shaoxing, uma cidade mais pequena em Zhejiang, é de cerca de 150 mil e a falta na província do sul de Guangdong está estimada em 800 mil a um milhão, segundo uma notícia da revista oficial Outlook Weekly.

Esse é um grande contraste em relação ao que aconteceu após o colapso do Lehman Brothers em 2008, quando a quebra na procura mundial atirou cerca de 20 milhões de trabalhadores migrantes para o desemprego.

Os meios de comunicação estatais noticiaram que 21 províncias chinesas, regiões autónomas e municípios aumentaram os salários mínimos mensais em cerca de 22% no ano passado.

O número de trabalhadores chineses com idades entre os 15 e os 24 anos deverão cair em cerca de um terço nos próximos 12 anos, segundo a empresa de consultoria Dragonomics, sedeada em Pequim, dando ainda maior poder de negociação à próxima geração de jovens operários.

A falha laboral tem sido alvo de debate entre académicos sobre se o país está perto ou a cruzar o ponto de viragem de Lewis, uma teoria de que os salários num país em desenvolvimento começam a aumentar assim que há falta de mão de obra em excesso no trabalho rural.

Pouco mais de 51% dos 1,35 mil milhões de chineses da China continental viviam em cidades e vilas no final de 2011, indicou o governo, cruzando a marca de metade após três décadas de rápido crescimento na nação mais populosa do mundo.

Mais de uma década depois do governo ter lançado a sua campanha “Go West” para promover o investimento e o desenvolvimento da China pobre e rural, os trabalhadores migrantes podem cada vez mais encontrar trabalho perto das suas cidades-natal, ultrapassando os custos de viver nas cidades costeiras, onde estão instaladas as fábricas chinesas.

«Agora é mais fácil encontrar trabalho na minha cidade», explica Sun Tiantian, uma jovem de 19 anos de Henan, que trabalha na fábrica de Chen há três anos e só regressou após o Ano Novo Lunar, uma época de excelência para trocar de emprego, porque a irmã também trabalha na fábrica.

Esta mudança estrutural começou a equilibrar a distribuição de rendimentos entre os trabalhadores migrantes chineses, normalmente mal pagos, reduzindo um ponto essencial para a desestabilização social.

Ir para o interior, onde os custos salariais são normalmente um terço mais baixos do que nas áreas costeiras, pode ajudar a ganhar tempo para subir na cadeia de valor, atualizar a tecnologia e aumentar a produtividade.

O Haitong Food Group, um dos maiores processadores de alimentos da China, deslocalizou a sua principal base de produção de Ningbo para Hubei e Jiangsu e transferiu a sua sede de vendas para Xangai, indicou o diretor-geral Zhou Lequn. «Não é totalmente devido aos custos laborais. Queremos também ficar mais perto da fonte das matérias-primas», explica.

Os responsáveis pela governação da cidade de Ningbo revelaram novas iniciativas para lidar com a quebra das exportações, incluindo a organização de feiras domésticas e internacionais e ajuda às empresas para mudarem as suas unidades de produção para o interior ou até para o estrangeiro. «Os governos locais têm algumas preocupações de que a deslocalização das fábricas possa esvaziar as indústrias locais e erodir os impostos, mas têm de mudar a sua forma de pensar e ver os benefícios a longo prazo», considera Chen Weirong, um responsável do gabinete de comércio externo e sociedades económicas de Ningbo.

Cerca de 1.500 empresas de Ningbo investiram no estrangeiro, incluindo nos EUA e na Europa, revela Chen. Mas Ningbo, cidade que alberga o segundo maior porto da China, continua a ser um íman para os exportadores.

A perda de uma região é o ganho para outra. Henan está entre as províncias do interior a beneficiarem desta mudança industrial, já que atrai mais empresas de Zhejiang e Guangdong, indica Li Ke, vice-governador executivo de Henan. «As empresas nas áreas costeiras estão a mudar-se para o interior devido aos custos mais elevados e questões ambientais. Para Henan, a tendência é muito encorajadora», revela.

As exportações de Henan aumentaram 140% no primeiro trimestre em comparação com o ano anterior, segundo os dados da alfândega, acelerando em comparação com o aumento de 83% do ano passado devido a um influxo de investimento. O Foxconn Technology Group, que produz os iPhones da Apple, abriu uma nova fábrica em Henan.

As exportações de Chongqing cresceram 150% enquanto as vendas de Guangxi aumentaram 41,2% e as de Sichuan subiram 31,9%.

Em contrapartida, as exportações das províncias costeiras abrandaram: mais 6,1% em Zhejiang, mais 5,4% em Guangdong e mais 2,8% em Jiangsu. Guangdong mantém o primeiro lugar em volume de exportações, representando 28% do total da China.

Os centros comerciais iluminados e os restaurantes em Ningbo são prova do crescente consumo na China, que ajuda a afastar a economia de se centrar nas exportações e investimento. «Se der aos trabalhadores mais dinheiro, eles vão consumir mais. Toda a história de reequilíbrio está em ação», acredita Tim Condon, diretor de pesquisa na Ásia da ING, de Singapura.

Mas a questão crucial é se os exportadores chineses podem subir na cadeia de valor mundial, que é a chave para escapar à chamada «ratoeira de rendimentos médios», onde o rendimento per capita estagna. «A ratoeira dos rendimentos médios é um risco se os custos com salários aumentam e não podem ser absorvidos dentro do país», explica Fan Gang, presidente do Instituto Nacional de Pesquisa Económica – um think thank sedeado em Pequim.

Fan, um antigo conselheiro do banco central, enumera que tanto a Coreia do Sul como Taiwan conseguiram com sucesso subir a escada porque os seus produtores ultrapassaram o trabalho barato da China. «Talvez o interior da China tenha o mesmo papel a seguir e ajude a aumentar os salários em vez de ver as empresas a deslocalizarem para o Vietname, Indonésia ou Bangladesh», concluiu.

Fonte:|http://www.portugaltextil.com/tabid/63/xmmid/407/xmid/40873/xmview/...

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