Industria Textil e do Vestuário - Textile Industry - Ano XVI

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Mão de obra feminina é maioria nas oficinas de costura onde imigrantes são presas para o trabalho análogo à escravidão.

Bruno Santos/FolhapressDariele Santos (à esq.), do Instituto Alinha, ajudou Lidia Romero a formalizar oficina de costura e a receber preço justo

Empoderar costureiras é a saída, apontam especialistas em evento da série Diálogos Transformadores FOLHA

Na moda, questões de gênero, imigração e dignidade no trabalho estão amarradas no mesmo nó. “O fenômeno migratório em São Paulo tem rosto de mulher, a maior consumidora da moda e que está também na ponta da cadeia”, afirma Soledad Requena, coordenadora de migração e gênero do Cami (Centro de Apoio e Pastoral do Migrante).

Segundo o centro, há cerca de 300 mil bolivianos em situação de informalidade na Grande São Paulo. Números e realidade apresentados no “Diálogos Transformadores Trabalho e Imigração na Indústria da Moda”, debate realizado por Folha e Ashoka, com apoio do Instituto C&A.

Lídia Romero foi um dos casos inspiradores do encontro. Ela chegou ao Brasil em 2013, fugindo do desemprego da Bolívia. Trabalhava até 16 horas por dia junto com o marido em uma oficina de costura em São Paulo para ganhar R$ 700 no final do mês.

“E a pessoa não nos pagou por três meses”, conta.“É difícil sair [do trabalho análogo à escravidão]. Também estava errada de trabalhar nessas condições. Me pagavam R$ 6 por um vestido que custava R$ 150 na loja. Agora estão pagando de R$ 12 a R$ 17.”

A costureira hoje é dona da própria oficina. A mudança veio com a assessoria do Instituto Alinha, que trabalha com imigrantes em sua maioria e oferece cursos de empreendedorismo para a base da cadeia têxtil. “Encontramos pessoas que trabalham 16 horas diárias e ganham de R$ 2 a R$ 2,50 por peça costurada para várias marcas conhecidas”, diz Dariele Santos, cofundadora do Alinha.

De acordo a OIT (Organização Internacional do Trabalho), entre 85% e 90% da mão de obra do setor têxtil é feminina. “É preciso promover o empoderamento das mulheres”, diz Peter Poschen, representante do escritório brasileiro da organização.

“Trabalhar com dignidade é trabalhar menos horas e ter tempo para meus filhos. Ir a parque, cinema, coisas que antes não podia”, diz Romero, que ainda vê futuro na indústria da moda. “Espero que meus filhos sejam trabalhadores têxteis e que possam fazer a própria marca deles.”

Segundo o Ministério Público do Trabalho, foram registrados 41 inquéritos civis por trabalho análogo à escravidão na Grande São Paulo, em 2016. Destes, 13 eram relacionados à confecções. no entanto, podem precarizar ainda mais o trabalho nas oficinas de costura, na avaliação do jornalista Leonardo Sakamoto, fundador da ONG Repórter Brasil, um dos protagonistas do debate, que contou com a presença de 120 pessoas no Teatro Folha, em 28 de setembro.

“Mais de 70% dos casos de trabalho escravo na Bahia envolviam terceirização ilegal. A pobreza e a impunidade são a mãe do trabalho escravo e a terceirização é o pai.” Para ele, as novas regras de terceirização, que ditam os contratos da maioria dos costureiros no país, dificultariam a responsabilização da cadeia em casos flagrantes de condições sub-humanas de trabalho. A reforma também enfraquece os sindicatos, que poderiam ajudar na negociação com as marcas.

A opinião é compartilhada pela procuradora do trabalho Cristiane Lopes. “O Brasil infelizmente está optando por ‘bangladeshizar’ o direito do trabalho e nossas condições de proteção social”, diz em referência às más condições de trabalho do país asiático.

Já o presidente da ABVTex defende a reforma, que, segundo ele, ajudaria na formalização do setor ao modernizar as relações de trabalho e dar segurança jurídica para subcontratações, que já existem na indústria. Para Sakamoto as condições só irão melhorar com a valorização e melhor remuneração das costureiras: “Quer saber como você resolve a questão do trabalho escravo na cadeia têxtil? Pague melhor para ela”, diz apontando para Romero.

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