Industria Textil e do Vestuário - Textile Industry - Ano XVI

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Mulheres ainda lutam por cargos de chefia na indústria da moda

Elas consomem roupas três vezes mais do que os homens, de acordo com o The NPD Group (empresa americana de estudos de mercado), e foram 85% das inscrições no Instituto de Tecnologia da Moda de Nova York, em 2016. Mas ainda assim, as mulheres representam apenas 14% da liderança de marcas de moda. Nomes femininos do mundo fashion que ocupam cargos de chefia no Brasil lamentam que, mesmo sendo maioria na indústria, são minoria em cargos de gestão, o que ainda gera comentários preconceituosos 

Além delas formarem boa parte das salas de aula, elas também são a maior parte de mão de obra da indústria. No Brasil, a última estimativa da Associação Brasileira da Indústria Têxtil e de Confecção (Abit) chegou a 64% de mão de obra feminina na indústria têxtil. 

A ONG Fashion Revolution Brasil, em parceria técnica com o Centro de Estudos em Sustentabilidade da Fundação Getúlio Vargas (FGVces) e apoio institucional da Associação Brasileira do Varejo Têxtil (ABVTEX) busca como grandes marcas da indústria divulgam publicamente suas informações. Na pesquisa, observa-se que apenas 30% das marcas analisadas publicam uma estratégia e metas quantitativas relacionadas ao empoderamento das mulheres. 

 

“É sempre um desafio liderar processos na condição de mulher”

 

A brasiliense Gioconda Bretas, jornalista e umas das proprietárias de uma  marca de moda sustentável analisa que o cenário no mundo fashion não está imune à discriminação. “As mulheres consomem 60% da produção dessa indústria. São mais de 80% da mão de obra desse mercado, porém estão na base da pirâmide de produção, ocupando os espaços de menor remuneração tanto na indústria quanto no varejo.” 

A sócia explica que no caso da empresa, que trabalha com produção sustentável e agênero, as discussões sobre padrões são  estruturantes. “Priorizamos produções de mulheres, promovemos debates sobre gênero e moda e procuramos enfrentar as diversas discriminações de gênero que existem hoje”, diz Gioconda. 

“É sempre um desafio liderar processos na condição de mulher porque, em geral, temos que trabalhar mais e provar mais que somos capazes de realizar o que propomos”. A proprietária diz que as mudanças são lentas, porém, hoje, há uma organização de ajuda e solidariedade nos mais diversos campos, inclusive na moda. “Há maior cumplicidade e reconhecimento entre mulheres, de que podemos muito mais quando damos as mãos umas para as outras. E isso acontece, principalmente, na produção slow fashion que é mais humana e colaborativa”, ressalta Gioconda. 

 

O caso Vogue 

Ex-editora-chefe da Vogue, atual diretora geral da Globo Condé Nast no Brasil e considerada umas das 500 personalidades mais influentes da moda mundial pelo site Business of Fashion (BoF) desde 2013. Daniela Falcão comenta sobre sua trajetória profissional e reflete sobre como é ser mulher e trabalhar em um cargo de chefia na indústria. 

“As pessoas esperam comportamentos masculinizados quando uma mulher está do outro lado da mesa” 

Nascida em Salvador e formada em j Brasília em 1992, Falcão relembra que nem sempre esteve no mundo da moda. A jornalista trabalhou em diversos veículos como Jornal de BrasíliaTPM e Folha de S. Paulo até chegar à Vogue Brasil, em 2005. “Eu fui aprendendo sobre moda aos poucos. Queriam que eu trouxesse mais clareza e serviço para a revista, tudo o que eu tinha aprendido no jornalismo”.

 


Daniela Falcão em evento de design no DF. Foto por Clara Lobo

 

Em um documentário dirigido por Maria Prata em 2017, a história de Daniela Falcão é contada desde o período em que ela foi diretora de redação até se tornar a diretora-geral da Vogue Brasil. Entretanto, além de ser conhecida por ser uma pessoa ativa e de grandes conquistas, a vida da CEO também é marcada por momentos de sofrimento e superação. Em fevereiro de 2015, durante a semana de moda de Milão, Daniela Falcão recebeu a notícia de que tinha sido diagnosticada com câncer de mama, mas a profissional conseguiu conciliar o tratamento médico e o trabalho. 

 

The Glass Runway 

 

Em 2018, o Conselho de Designers da América (CFDA) e a revista Glamour realizaram o estudo The Glass Runway com o intuito de desenvolver soluções concretas para lidar com as desigualdades de gênero no mundo da moda. 

Ao todo, 191 marcas concordaram em participar e 535 profissionais do setor falaram sobre suas ambições, oportunidades e contratempos. Nas entrevistas, 100% das mulheres concordaram que há disparidade de gênero na indústria, comparado a menos de 50% dos homens entrevistados.

A pesquisa encontrou quatro fontes principais de desigualdade de gênero: falta de consciência e comprometimento, critérios ambíguos de sucesso, disparidade de patrocínio e orientação e restrições do equilíbrio entre vida profissional e pessoal.

De acordo com o The Glass Runway, a falta de consciência e comprometimento é dada devido ao grande número de mulheres que trabalham na moda e mascaram o problema de desigualdade de gênero para elas mesmas. O segundo critério que define a ambiguidade de sucesso é explicado pelo relato de homens que dizem serem promovidos sem pedir e têm duas vezes mais chances de solicitar uma promoção. 

O terceiro critério é formulado de acordo com os conselhos de carreira. Em todos os cargos, apenas 22% das mulheres relatam ter recebido conselhos para avançar em suas carreiras, contra 33% dos homens. No nível de vice-presidente, a diferença aumenta acentuadamente para 27% das mulheres contra 45% dos homens.

A avaliação das eventuais s restrições do equilíbrio entre vida profissional e pessoal é um dos critérios que define o estudo. Pelo menos 30% de mulheres (contra 7% de homens) relatam que ter filhos diminui a carreira e metade das vice-presidentes diz ter dificuldade em conciliar o trabalho e as responsabilidades de ser mãe. Apenas 45% das mulheres relataram que suas empresas pagaram licença de maternidade e apenas 24% disseram oferecer programas de flexibilidade no trabalho.

“É necessário mudar as estruturas de poder que fazem com que os homens sejam representados por uma ideia de força e liderança”

 

Doutoranda em política social e mestra em história, Marjorie Chaves percebe que ainda há uma cultura machista que impede com que grande parte das mulheres alcancem o topo das carreiras. “O aumento da força de trabalho feminina acompanha a intensa precarização das relações de trabalho, o que caracteriza o fenômeno denominado ‘feminização do trabalho’. O aumento do acesso ao trabalho pelas mulheres não significou maior equidade de participação”.

A pesquisadora reforça que as mulheres estudam mais do que os homens, porém continuam ganhando menos e são afastadas dos cargos de chefia. “É necessário mudar as estruturas de poder que fazem com que os homens sejam representados por uma ideia de força e liderança, enquanto recai sobre as mulheres o lugar da subalternidade que as fazem se sentir incapazes.”

 

Designers

 

Em 2015, o site Business of Fashion (BoF) revelou que entre 50 grandes marcas da moda, apenas 14% eram executadas por uma mulher. No ano seguinte, o site lançou uma pesquisa com 371 designers que lideravam 313 marcas presentes durantes as quatro semanas de moda. 

 

 

A pesquisa revelou que apenas 40,2% dos designers são do sexo feminino. Nova Iorque e Londres foram as cidades com a maior proporção de estilistas femininas, com mulheres representando 47,3% e 40,5%, respectivamente. 

 

“Ainda temos muito a fazer em prol da mulher” 

 

Ela é estilista mineira e dona da marca autoral PatBO desde 2012. Patricia Bonaldi entrou no mundo da moda quando ainda cursava direito e comenta que para pagar a faculdade abriu uma loja multimarcas. “Aos poucos percebi que as pessoas queriam o que eu estava usando e não o que estava nas araras. Logo, surgiu a encomenda do meu primeiro sob medida e desde então nunca mais parei.”

Patricia reconhece que ainda há muito espaço a ser conquistado. “Apesar de nunca ter sofrido nenhum preconceito na moda, sabemos que essa é uma triste realidade. Ainda temos muito a ser feito em prol da mulher”, comenta a estilista.  

 


Patricia Bonaldi. Foto divulgação/Instagram

 

“Ser mulher não me coloca numa posição de fragilidade. Eu enfrento as mesmas dificuldades que qualquer empresário no Brasil”, percebe a designer. Hoje, Patricia comanda uma empresa com mais de 300 funcionários e está envolvida em todos os processos. Para as mulheres que desejam seguir carreira na moda ela ressalta que é necessário  conhecer o público alvo. “Ouse, crie um DNA sólido. Pense sempre no seu cliente e não na concorrência. Prepare-se para os desafios e para se reinventar sempre”, aconselha.

 

Maternidade x Chefia

A pesquisadora Marjorie Chaves confirma o mito de que a maternidade é um obstáculo para que mulheres alcancem cargos de chefia. “O trabalho reprodutivo realizado no espaço privado não é contabilizado em termos de uso do tempo, resultando na sobreposição das tarefas do trabalho remunerado e do trabalho doméstico no cotidiano das trabalhadoras: a dupla jornada.”

De acordo com a historiadora, o contexto da maternidade dificulta que mulheres sejam cotadas para ocuparem espaços de poder. “Podemos dizer que a mesma sociedade que valoriza a maternidade como uma “dádiva” própria das mulheres, ao mesmo tempo as pune por isso”. Ela considera que a realidade de competitividade no mundo do trabalho torna incompatível a relação entre essas duas: as mulheres somente podem ocupar o espaço público se outras mulheres assegurarem as tarefas domésticas e de cuidado”. 

 

Divisão sexual do trabalho

A disparidade de gênero na indústria pode ser entendida por fatores históricos e culturais. 

“Em sociedades patriarcais como a nossa, mulheres exercendo ocupações consideradas próprias do feminino têm seu trabalho naturalizado como uma espécie de ‘dom’, uma aptidão para trabalho doméstico e de cuidados em um cenário de servidão e silêncio”, discorre a especialista. 

Já quando os homens ocupam profissões consideradas femininas, eles entram com status superior. “Seu trabalho é valorizado a tal ponto que se estabelece uma hierarquia com as mulheres na mesma atividade. Eles são comumente cotados para serem a lideranças desses espaços, de modo a invisibilizar as competências das mulheres.”

Marjorie Nogueira finaliza a reflexão com a ideia de dois princípios organizadores: o princípio da separação, em que se supõe que há ocupações/profissões para homens e para mulheres; e o princípio da hierarquização que, por sua vez, supõe que o trabalho dos homens tem mais valor que o trabalho das mulheres.

http://www.agenciadenoticias.uniceub.br/mulheres-ainda-lutam-por-ca...

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Você conhece alguém que respondeu pesquisa sobre eleições? Parece que esta pesquisa também é assim. Estou no mercado de moda há exatos 50 anos e, nas primeiras empresas em que atuei, as executivas eram a própria fundadora, mas mulheres poderosas, plenipotenciárias. Ainda na década de 70, tive diretoras superintendentes contratadas, trabalhando junto com o casal acionista. E assim perdurou. Desde lá, uma característica comum: Essas mulheres eram casadas ou namoravam homens fracos, sem expressão, que viviam a sombra delas, alguns até usufruindo dessa posição, sequer tinham um emprego. Eram e são empresas verticalizadas no sul do Brasil. Nos últimos 22 anos, onde atuo como consultor em gestão, a maioria das empresas são geridas por mulheres, havidas por obterem conhecimento aplicável a seus negócios, sempre conseguem resultados melhores que os gestores homens. Gostaria de saber por onde andaram os pesquisadores.

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