Industria Textil e do Vestuário - Textile Industry - Ano XVI

My Basic: Uma produção sem sintético poliéster

Nada de plástico! My Basic completa dez anos eliminando pela primeira vez o sintético poliéster de suas peças. alternativa passa pelo foco em fibras naturais e recicladas.

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Em uma das cenas mais famosas do filme Embalos de sábado à noite, de 1978, John Travolta se consagra como ídolo da discoteca dançando a bordo de um terno branco que não amassava nem restringia seus movimentos. A mágica acontecia graças ao poliéster, a fibra inventada no início da década de 1940 por dois químicos ingleses que ganhou força pela equação custo-benefício na reconstrução econômica após a Segunda Guerra Mundial e chegou ao estrelato como sinônimo de matéria-prima urbana e moderna porque faz as roupas durarem mais tempo enquanto requer menos água, energia e calor para lavar.

Hoje, entretanto, sabe-se que a fibra sintética fabricada a partir do petróleo é uma das grandes vilãs na indústria da moda. Amplamente utilizada no mundo todo, especialmente pelo fast fashion, libera pequenos pedaços chamados microplásticos e nanoplásticos a cada lavagem. Esses resíduos vão parar em rios e mares, intoxicando peixes e crustáceos. Avanços na indústria têxtil até resultaram em biopoliésteres e poliésteres reciclados, cuja produção e utilização ainda não são significativos. Carolina Pucci, diretora criativa da My Basic, conta que não é tão simples virar as costas para essa matéria-prima, mas que o esforço vale a pena.

A experiência virou realidade na última coleção de verão. “Foi um grande quebra-cabeça”, conta Carolina, que focou apenas em fibras naturais – linho, modal, liocel e viscose certificada. O resultado deu tão certo que virou um marco na comemoração dos dez anos da grife, que possui certificação do Sistema B, como é conhecido o articulador na América Latina do movimento global de Empresas B, movimento criado em 2006 nos Estados Unidos com o objetivo de redefinir sucesso na economia para que sejam considerados não apenas o êxito financeiro, como também o bem-estar da sociedade e do planeta.

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A diretora criativa reconhece que as temperaturas altas da temporada do sol facilitam o processo de levar para as araras peças mais leves, ao contrário do que pede o inverno. Para o deste ano, que já está em produção, a saída está sendo a utilização do poliéster reciclado Ecosimple, produzido com restos de tecidos e garrafas PET. “Não passamos uma temporada sem dar passos, sem evoluir”, afirma ela, que tem priorizado, além de fibras naturais, as biodegradáveis e alternativas focadas em processos não poluentes. Para essa coleção, também está sendo preparado o lançamento de uma linha de camisetas e moletons tingida apenas com pigmentos naturais.

Carolina explica que a busca por processos que provoquem menos impacto ambiental surgiu quando estava estruturando o business, que nasceu focado em roupas atemporais que já eram a base do seu guarda-roupa. “Não somos 100% sustentáveis, a gestão dos resíduos têxteis, por exemplo, ainda é um gargalo, apesar de conseguirmos reaproveitar boa parte deles. Mas buscamos ser o mais sustentável possível”, comenta. Já a reciclagem de embalagens conta com o selo EuReciclo de compensação de 200% do volume de lixo produzido.

Esse processo, continua Carolina, também passa pela revisão dos lucros. “A nossa margem é duas vezes menor do que a prática do mercado, porém faz todo sentido para nós”, revela. Essa equação está diretamente ligada ao valor pago pela confecção das peças, feitas apenas em pequenas oficinas que também passam por rastreabilidade das etapas e grupos produtivos como dos projetos Ecotece e Eu Visto o Bem, que foi interrompido durante a pandemia. “É um movimento lindo, que atua na ressocialização de detentas e ex-detentas do sistema prisional de São Paulo. Está nos nossos planos retomar em breve.”

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