Industria Textil e do Vestuário - Textile Industry - Ano XVI

Industria Textil e do Vestuário - Textile Industry - Ano XVI

O fenômeno das 'farmetes' e 'antiquetes', mulheres adultas que colecionam vestidos.


Quando Schandra Julia Zmijeski, 40, aceitou apresentar seu closet à reportagem do TAB, adiantou que aquela era uma mina de ouro. "Deve ter o valor de um carro aqui dentro", garantiu. Apaixonada pela Farm, marca carioca conhecida pelas estampas vivas e pelo preço salgado de suas peças, a artesã mostrou um guarda-roupa 90% composto pela grife.

Ela não se lembra exatamente de quantas já comprou, mas, por guardar as etiquetas, supõe que tenham sido mais de 400. O valor de uma roupa nova pode variar de R$ 150 a R$ 800. Para Zmijeski, colecionar itens da marca é mais que um capricho: é sua forma de ser e estar no mundo.

Na varanda fresca de sua casa, com plantas por toda parte, a artesã fala da Farm como uma paixão de longa data. O cenário ao redor confirma o fascínio. Sobre a mesa, um crochê ainda na agulha remete ao artesanal, um dos alardeados conceitos da grife. Na parede, um jardim vertical imenso ecoa certa brasilidade, que tanto atrai as farmetes. Mesmo vivendo em Curitiba, a capital mais fria do país, ela veste cores fortes e tecidos leves.

A fã, que veste Farm há sete anos, dedica horas do seu dia selecionando peças, provando looks e gerindo comunidades de vendas. Em um dos grupos de WhatsApp que coordena, com mais de 200 mulheres curitibanas, elas indicam cupons, fazem negociações e trocam figurinhas, como a que leva a foto de um dos donos da marca. "Vocês querem 50%, né?", diz o meme. No mercado online de desapegos, é possível encontrar itens mais baratos, mas algumas se tornam raras, viram objeto de desejo e o produto fica ainda mais valorizado.

Theo Marques/UOL


CAÇA-GOLPISTA


Os desapegos acontecem em grupos locais e nacionais. A maior parte das trocas é feita com base na confiança. Mulheres que nunca se viram depositam o valor da roupa e aguardam o envio da peça pelo correio. Golpes acontecem — nesses casos, elas se unem.

"Uma vez, comprei um vestido de uma menina e ela me enviou uma caixa vazia, com um post-it de carinha feliz. Outras farmetes também foram vítimas. Todo mundo se reuniu, fizemos uma força-tarefa para encontrá-la e as advogadas do grupo ofereceram suporte. No fim, achamos a moça e a obrigamos a devolver tudo", lembra.

É para evitar esse tipo de problema que elas têm um esquema de recomendação. Assim que a compradora recebe um produto, diz no grupo que a vendedora é confiável. O mesmo acontece nos grupos de fãs da paulistana Antix, outra marca de roupas caras com milhares de fãs no Facebook.

Suas peças chamam a atenção pela estética romântica e vintage. Itens de novas coleções podem a chegar a R$ 500, mas seu mercado de desapegos também é movimentado. Um vestido que, na etiqueta, custaria R$ 400, pode ser encontrado em grupos do Facebook por R$ 100. Isso ajuda a explicar por que mulheres de diferentes classes sociais vêm aderindo à grife.



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FEMININO FLORAL


Por causa das estampas, as peças da Antix são muito associadas ao universo teen, mas seu público é majoritariamente adulto. Isso leva a marca a apostar em modelos menos "menininha" e tamanhos maiores. "Adolescentes, em geral, não consomem um produto com o preço da Antix. Nossas consumidoras são mulheres 'empoderadas' que não abrem mão da feminilidade", argumenta a fundadora, Patrícia Ju Hee Ha, 45.

Iara Taborda, 36, por exemplo, tinha 30 anos quando comprou seu primeiro vestido. A terapeuta ocupacional, que na época trabalhava com massoterapia, estava em transição de carreira. A Antix foi uma espécie de "divisor de águas" em sua trajetória. "Na faculdade, a marca virou meu símbolo. Todo mundo dizia: olha a menina dos vestidos fofos chegando. Hoje tenho 70 peças", conta.

Apesar de se identificar com a grife, a podóloga e estudante Lucimara da Silva Maia, 51, não conseguia usar as roupas. "Ia à loja com minha filha e ficava olhando a vitrine como um cachorrinho em frente a um forno de frango assado. Achava tudo lindo, mas não tinha meu número", lembra. Foi só quando a marca lançou novos tamanhos que ela conseguiu entrar para o rol das antiquetes.



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