Sempre que vou a Minas Gerais – no caso, para cobrir o Minas Trend, dou um jeito de passar numa fast fashion gringa que só vende a coleção plus lá em Beagá e em Campinas. Sai faceira com minhas sacolinhas e até comentei com o namorado: “Não acredito que achei sutiã, body e saia na mesma loja, sério”. Embora o pobre guri esteja superacostumado com minhas reclamações sobre a moda ser ainda tão excludente com quem veste mais do que 44, ele me perguntou: “Mas ué, não deveria ser sempre assim?”.
Óbvio que sim. A gente não deveria precisar entrar em tudo o que é loja e se contentar com o que cabe. Ainda mais em grandes magazines que costumam oferecer de tudo: da lingerie ao sapato. Mas não pra nós, gordas.
Não teve como deixar de lembrar desse diálogo quando, rolando o feed do meu Instagram, deparei com o comentário de Fluvia Lacerda para uma seguidora. Fluvia contava que nenhuma marca, NENHUMINHA, quis criar um vestido para ela ir ao baile da amfAR, evento de gala cuja renda é revertida para pesquisas de combate a AIDS. Se você não conhece a Fluvia, eu explico: ela é apenas a modelo plus size mais famosa do Brasil, e uma das top do mundo também. Tem mais de 15 anos de carreira, já apareceu na Vogue Itália, lançou livro. Um currículo absurdo, que, olha, é mais do que o suficiente para que as marcas quisessem vesti-la. E não por caridade, viu? As grifes se digladiam para vestir as famosas neste tipo de evento porque é exposição massiva na certa: sai em Instagram com centenas de milhares de seguidores, em revista, em jornal, na TV. Todo mundo quer saber o que as celebs estão usando. Tem marcas que, inclusive, pagam as atrizes globais e blogueiras para vestir sua marca, sabia? Menos quando você é gorda.
Quando você é gorda, como Fluvia, as marcas somem. Eu não sei se é medo da cliente magra e esnobe ver que uma mulher gorda está usando a mesma grife que ela. Ou se é preguiça dos estilistas de criarem um vestido para uma mulher com curvas. Mas é fato que, nestas horas, todo mundo que sempre esteve ali babando o ovo da Fluvia sumiu. “No começo, as marcas mostraram-se super abertas e com aquele discurso de “nossa, amo muito o seu trabalho”. O tempo foi passando e nenhuma delas me respondeu mais”, contou Fluvia à revista Quem. A solução? Fluvia desenhou seu próprio vestido, que foi executado por Mario Catto e Malu Maya. Ela queria vestir uma grife brasileira, mas nenhuma grife brasileira quis vesti-la. É isso.
Nessas horas, eu fico pensando: se tá difícil pra Fluvia, imagina para nós? E se me convidam para um baile de gala (vai que, né?), vou fazer o quê? Negar o convite porque nenhuma marca da minha cidade faz roupa de festa para gorda? Se isso acontece no eixo Rio-SP, que tem muito mais opção, o que sobra para Porto Alegre? Isso é, sim, um puxãozinho de orelha: povo da moda da Capital, do Interior, da Região Metropolitana, vamos olhar com mais carinho para o público que veste mais do que 44? Nós também consumimos, temos poder aquisitivo e, tal qual vocês, gostamos de moda. E queremos nos vestir bem. Se não é para ser inclusivo – e isso não é obrigação de ninguém, ainda que devesse -, que seja pela grana que o público 44+ tem. A gente reclama de crise, mas que tal expandir o mercado para um nicho que está sedento por consumir melhor? Não custa lembrar: mais da metade da população brasileira está “acima do peso”. Reflitam!
Postado por Thamires Tancredi
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“Não acredito que achei sutiã, body e saia na mesma loja, sério”. Embora o pobre guri esteja superacostumado com minhas reclamações sobre a moda ser ainda tão excludente com quem veste mais do que 44, ele me perguntou: “Mas ué, não deveria ser sempre assim?”.
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