Industria Textil e do Vestuário - Textile Industry - Ano XVI

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Nenhuma marca brasileira quis criar um vestido de gala para Fluvia Lacerda, modelo plus mais famosa do Brasil

Nenhuma marca brasileira quis criar um vestido de gala para Fluvia Lacerda, modelo plus mais famosa do Brasil

Sempre que vou a Minas Gerais – no caso, para cobrir o  Minas Trend, dou um jeito de passar numa fast fashion gringa que só vende a coleção plus lá em Beagá e em Campinas. Sai faceira com minhas sacolinhas e até comentei com o namorado: “Não acredito que achei sutiã, body e saia na mesma loja, sério”. Embora o pobre guri esteja superacostumado com minhas reclamações sobre a moda ser ainda tão excludente com quem veste mais do que 44, ele me perguntou: “Mas ué, não deveria ser sempre assim?”.

Óbvio que sim. A gente não deveria precisar entrar em tudo o que é loja e se contentar com o que cabe. Ainda mais em grandes magazines que costumam oferecer de tudo: da lingerie ao sapato. Mas não pra nós, gordas.

Não teve como deixar de lembrar desse diálogo quando, rolando o feed do meu Instagram, deparei com o comentário de Fluvia Lacerda  para uma seguidora. Fluvia contava que nenhuma marca, NENHUMINHA, quis criar um vestido para ela ir ao baile da amfAR, evento de gala cuja renda é revertida para pesquisas de combate a AIDS. Se você não conhece a Fluvia, eu explico: ela é apenas a modelo plus size mais famosa do Brasil, e uma das top do mundo também. Tem mais de 15 anos de carreira, já apareceu na Vogue Itália, lançou livro. Um currículo absurdo, que, olha, é mais do que o suficiente para que as marcas quisessem vesti-la. E não por caridade, viu? As grifes se digladiam para vestir as famosas neste tipo de evento porque é exposição massiva na certa: sai em Instagram com centenas de milhares de seguidores, em revista, em jornal, na TV. Todo mundo quer saber o que as celebs estão usando. Tem marcas que, inclusive, pagam as atrizes globais e blogueiras para vestir sua marca, sabia? Menos quando você é gorda.

Quando você é gorda, como Fluvia, as marcas somem. Eu não sei se é medo da cliente magra e esnobe ver que uma mulher gorda está usando a mesma grife que ela. Ou se é preguiça dos estilistas de criarem um vestido para uma mulher com curvas. Mas é fato que, nestas horas, todo mundo que sempre esteve ali babando o ovo da Fluvia sumiu. “No começo, as marcas mostraram-se super abertas e com aquele discurso de “nossa, amo muito o seu trabalho”. O tempo foi passando e nenhuma delas me respondeu mais”, contou Fluvia à revista Quem. A solução? Fluvia desenhou seu próprio vestido, que foi executado por Mario Catto e Malu Maya. Ela queria vestir uma grife brasileira, mas nenhuma grife brasileira quis vesti-la. É isso.


Nessas horas, eu fico pensando: se tá difícil pra Fluvia, imagina para nós? E se me convidam para um baile de gala (vai que, né?), vou fazer o quê? Negar o convite porque nenhuma marca da minha cidade faz roupa de festa para gorda? Se isso acontece no eixo Rio-SP, que tem muito mais opção, o que sobra para Porto Alegre? Isso é, sim, um puxãozinho de orelha: povo da moda da Capital, do Interior, da Região Metropolitana, vamos olhar com mais carinho para o público que veste mais do que 44? Nós também consumimos, temos poder aquisitivo e, tal qual vocês, gostamos de moda. E queremos nos vestir bem. Se não é para ser inclusivo – e isso não é obrigação de ninguém, ainda que devesse -, que seja pela grana que o público 44+ tem. A gente reclama de crise, mas que tal expandir o mercado para um nicho que está sedento por consumir melhor? Não custa lembrar: mais da metade da população brasileira está “acima do peso”. Reflitam!

Postado por Thamires Tancredi

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    “Não acredito que achei sutiã, body e saia na mesma loja, sério”. Embora o pobre guri esteja superacostumado com minhas reclamações sobre a moda ser ainda tão excludente com quem veste mais do que 44, ele me perguntou: “Mas ué, não deveria ser sempre assim?”.

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