Nascida em 1931 após um decreto do então presidente interino Getúlio Vargas, a Federação das Indústrias do Estado de São Paulo (Fiesp) sempre esteve atrelada aos meandros políticos e econômicos do País. Cresceu com o choque de consumo após duas guerras mundiais, perdeu espaço na ditadura militar e, desde a redemocratização, se manteve relevante com exposição de dados econômicos, pautas sociais e influência no resultado de eleições e processos de impeachment. Em boa parte destas nove décadas, a Fiesp unificou o discurso dos empresários. Mas, nos últimos anos, encontrar esse coro uníssono se tornou mais difícil. Rupturas entre os membros, objetivos distintos e pautas separadas se tornaram visíveis na entidade. Agora, sob comando de Josué Gomes da Silva, ela pode retomar a sintonia que outrora deu à Fiesp status de quarto poder.
Em uma eleição sem concorrentes, na segunda-feira (5), Gomes da Silva obteve 97% dos votos. Se o resultado sugere unanimidade, na prática não é bem assim. O novo presidente assume a maior federação do Brasil após 17 anos sob comando de Paulo Skaf, que sofria críticas de setores se sentiram “deixados de lado” na agenda da Fiesp, principalmente depois de o presidente concorrer a cargos públicos. Filiado ao PSB e MDB, Skaf disputou duas eleições ao governo de São Paulo. “Isso aumenta a responsabilidade, pois suceder Paulo Skaf é um desafio enorme, especialmente neste momento em que, pela primeira vez em décadas, a indústria de transformação apresentou participação no PIB um pouco inferior à do setor agropecuário”, afirmou Gomes da Silva.
Quatro presidentes de empresas associadas à Fiesp confirmaram à reportagem que há uma expectativa grande com a mudança, principalmente pelo passado conciliador do presidente eleito. “Apesar de ser apadrinhado de Skaf, o Josué caminha sozinho”, afirmou o presidente de uma empresa química. Outro empresário, do ramo têxtil, disse que a agenda anterior de Paulo Skaf “deixou de lado as reais demandas dos empresários.” Com Josué, haveria mais chances de consenso. “Ele se mostrou aberto ao diálogo com todos os setores.”
MINEIRO EM SÃO PAULO Mineiro que mora em São Paulo há mais de três décadas, Josué Gomes da Silva é filho de José Alencar (1931-2011), que foi vice-presidente de Lula por oito anos. Como Skaf, ele também tentou a política. Concorreu ao Senado pelo MDB de Minas Gerais em 2014, mas não foi eleito. Antes da Fiesp, presidiu a Associação Brasileira da Indústria Têxtil e Confecção (Abit) e o Instituto de Estudos para o Desenvolvimento Industrial (Iedi). Como empresário, comanda desde os anos 1990 a Coteminas, maior fabricante de itens de cama, mesa e banho nas Américas e dona de marcas como Artex e Santista. São 15 fábricas no Brasil, cinco nos EUA, uma na Argentina e uma no México. Bem relacionado, o executivo recebeu doações da família Gerdau Johannpeter (R$ 240 mil), de Benjamin Steinbruch (R$ 100 mil), e do falecido Jacks Rabinovich (R$ 100 mil), do grupo Vicunha, para sua campanha ao Senado. A doação foi legal já que na época pessoas jurídicas podiam contribuir com campanhas. Em 2014, Josué apareceu ao lado do ex-presidente Lula, durante a campanha de reeleição da Dilma. Em 2018, tanto Ciro Gomes (PDT) quanto Geraldo Alckmin (PSDB) cogitaram convidar Josué para seguir os passos do pai. Nenhuma das conversas prosperou..
VELHO-NOVO Com todas essas inclinações políticas, o industrial tem potencial para ocupar, além da cadeira na Fiesp, um espaço vago de empresários na nova cena política. Seria uma forma de a Federação manter seu papel proeminente nos rumos do País. Em 2015, Skaf foi uma das principais vozes contra Dilma ao engrossar o coro pelo impeachment. Na figura de um enorme pato erguido na paulista em 2015 (e depois um sapo verde em 2018), a Fiesp adotou uma postura mais combativa e escrachada no diálogo político.
Apesar da grande exposição, a forma como a entidade se posicionou não foi aprovada por todos os associados. Isso ficou perceptível na segunda-feira (5), na eleição para a presidência do Centro das Indústrias do Estado de São Paulo (Ciesp). A chapa do executivo do setor têxtil Rafael Cervone (apoiado por Skaf) foi eleita com 1.147 votos. José Ricardo Roriz, presidente da Associação Brasileira da Indústria do Plástico (Abiplast), teve 680 votos. Cervone admitiu que a relação com os asssociados não está das melhores, mas haverá esforço para reverter isso. “O diálogo dependerá de como se comportar a oposição. Foi muito difícil esse período”, afirmou. “Nós conversamos com toda a base industrial e assim seguirá.”
UMA CRIAÇÃO DE MATARAZZO
Embora tenha o papel de unir empresários, a Fiesp nasceu de uma cisão. Seu primeiro presidente, Francisco Matarazzo, criou a entidade ao notar o enfraquecimento da Associação Comercial de São Paulo (ACSP), após seu então presidente, José Carlos de Macedo Soares, ter sido acusado de participar da tentativa de revolução de 1924. Ele foi punido com o exílio. Com os empresários desarticulados, o Matarazzo — com Jorge Street e Roberto Simonsen — viu sua chance. “Vamos elevar a competitividade das indústrias no Brasil, diminuir os custos de produção e conter a desindustrialização”, dizia o cartaz distribuído para as mais 4 mil indústrias interessadas em fazer parte desta nova organização patronal.
Luis Carlos Montevão, professor de história do Brasil da Universidade Federal do Estado de São Paulo (Unifesp) conta que a Fiesp nasceu da mistura de golpe e oportunismo, já que o setor respondia por 40% do PIB após a segunda guerra mundial e mesmo assim não tinha grande influência política. “Até que Getúlio Vargas viu no chão das fábricas um grande eleitorado e nos industriais um grande financiador.” Foi como juntar a fome a vontade de comer. Ao aproveitar o populismo de Vargas, e mais adiante a megalomania de Juscelino Kubitschek, os industriais ganharam voz pela Fiesp.
Em 1964, com o golpe militar, a Fiesp precisou se adaptar, e deu tão certo que em 1978, quando o Geisel anunciou a reabertura política, muitos industriais entraram em grupos ultrarradicais, como o Tradição, Família e Propriedade (TFP). De dentro da Fiesp, o empresário Nadir Figueiredo – que desde os anos 1960 tinha forte influência na escolha dos presidentes – defendia a manutenção dos militares no Poder. Mas era jogo perdido. Com a reabertura, a Fiesp, cuja sede é conhecida como “Pirâmide da Paulista”, se alinhou aos presidentes civis. Em tempos bicudos, ela tenta uma nova virada para se adequar à realidade.
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Sem embargo, não seria melhor ao Dr. Josué se dedicar mais às suas empresas? Estamos vivendo dias difíceis para todas Empresas Têxteis. Gostaria de crer que as dele fossem exceções! Será?
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