Industria Textil e do Vestuário - Textile Industry - Ano XVI

Industria Textil e do Vestuário - Textile Industry - Ano XVI

Durante a última edição do Fashion Revolution, realizada de maneira online, a designer e gestora estratégica de marcas Dávila Kess reuniu profissionais de várias partes do país na mesa redonda: “Panorama da Moda Nacional para um Mundo Doente”. A reflexão abordou o consumo contemporâneo e os possíveis caminhos pós-pandemia da Covid-19, o novo coronavírus.

A discussão contou com a presença de Priscila Locatelli, coordenadora de produto da marca Morena Rosa, Amanda Riquerme, coordenadora de desenvolvimento de produto, Betulla Pulzatto, consultora e especialista em visual merchandising, e Dani Ruano, curadora de eventos. A lista de participantes continua com estilista e consultora de moda Danúbia Girotto,  Ereany Refosco, fashion designer da empresa Refosco Uniformes, o consultor de moda Leandro Pires, Luciane Robic, diretora de marketing no IBModa – Instituto Brasileiro de Moda, o professor da área de moda Marcos Lima e a empresária Andreia Marinho.

Dávila iniciou a conversa dizendo que o futuro é uma “página em branco”, mas de acordo com o que estamos vivendo e sentindo podemos traçar algumas linhas para superar essa crise. Para Marcos Lima, a moda para o mundo de hoje vem pautada no “menos é mais”, onde as pessoas começam a perceber que não precisam de tanta roupa, não precisam consumir de forma desenfreada.

“Quero me cercar do que realmente é essencial para mim”, comentou o professor questionando ainda sobre a pandemia se estender por mais tempo. Se as pessoas não comprarem mais nada, para onde vai toda essa produção? É tempo de pensar nisso e ressignificar o modo de se vestir, se reeducar e reeducar nosso olhar.

Luciane acredita que a cultura da sustentabilidade tem que começar com pequenos hábitos e com a pandemia fomos obrigados a conviver com a escassez. É certo que haverá um impacto na economia mundial e esse comportamento já vinha sendo desenhado na moda. “Antes existia a importância da marca, da tal calça jeans e hoje, a nova geração busca por experiências e já aprendeu a conviver com pouco”, disse.

Com a redução do consumo, das viagens, é hora de pensar em consumir localmente. Além disso, a associação escola x empresa gerando mais conhecimento, pode ajudar a impulsionar a indústria e novos negócios. “Precisamos trabalhar uma geração nova que tem garra, energia, ideias diferentes e pensar também na sustentabilidade. Não acredito em desenvolvimento sem conhecimento”, apontou Luciane.

Porém, Luciane questiona se de fato é possível repensar a sustentabilidade com um preço interessante no custo final pois muitas pessoas se interessam por peças ecologicamente corretas, mas não conseguem comprar. Por isto, é preciso colaborar nesse processo.

“Se a gente quer um produto feito no Brasil, sustentável, com preço sedutor, tem que pensar nesse processo, no custo”, comentou a diretora de marketing, que ressaltou que este produto precisa ser mais competitivo e atrativo, valorizando a história e a cultura local.

Além disso, Luciane Robic afirmou que as fast fashions continuarão existindo, porém, seria interessante que pensassem em coleções sustentáveis maiores e não somente linhas cápsulas, ampliando esses produtos no mix dos grandes magazines. Em relação ao consumidor, a diretora acredita que as marcas devem ser sinceras, investindo na aproximação, na valorização das pequenas coisas.

Priscila Locatelli apontou o comportamento das marcas nesse momento que envolve toda uma cadeia e nos faz pensar como somos dependentes uns dos outros e não temos como prever sobre o impacto dessas indústrias paradas. “Quantas marcas vão deixar de produzir porque não conseguiram matéria-prima? E, quantas famílias serão prejudicadas?  Como se manter?”, afirmou a coordenadora de produto, citando que mais de 600 mil empresas (em diferentes segmentos) já decretaram falência.

É hora de questionar sobre o consumo mais consciente, como fazer a diferença e como se transformar investindo na sustentabilidade com propósito, experiência do produto. Ao trabalhar a performance das roupas, podem surgir diferentes opções como as peças para o home office, roupas confortáveis, coleções cápsulas, colecionáveis e com mais brilho.

São muitos caminhos, mas Priscila acredita muito na durabilidade e desaceleração do consumo. “Vai ser preciso criar etapas porque a grande massa vai demorar para acompanhar tudo isso. Então qual será o caminho que fará sentido para o novo consumidor? Como equilibrar isso na balança da economia?”, disse.

O momento é de trabalhar com os estoques parados, investir no relacionamento com os clientes, além de começar a pensar na mudança do ciclo das coleções que também vai ser impactado. Seguindo este pensamento, Dani Ruano destacou a mudança no comportamento das pessoas e eventos como as grandes semanas de moda que estão se tornando digitais e como tudo isso irá influenciar o mercado.

“É hora de pensar no que realmente a gente precisa, e o Covid-19 está aí empurrando essa tendência que a gente vem ouvindo há mais de dez anos”, afirma Dani.

Já Betulla acredita que a maioria dos brasileiros vai começar a olhar a etiqueta do “feito no Brasil”, valorizando a moda nacional. A população sempre carregou o orgulho de ser brasileiro, mas isto não acontece na moda.

O antes omnichannel é agora o onechannel, onde o digital é a única opção, por isso, a profissional está treinando os lojistas para esse momento e, não necessariamente para vender o seu produto, mas oferecer ajuda, calor humano. O que para ela antes era um segmento frio e rápido, torna-se quente, com história, seguindo o slowfashion.

Porém, o país ainda não estava preparado para o e-commerce, tem muita gente que tem medo que as compras não cheguem ou de passar seus dados. “Vamos reformular e desenvolver estratégias para vender serviço, relacionamento, experiência. Antes nós vendíamos o produto para depois poder se relacionar e, agora acontece o contrário”, afirmou Betulla.

A empresária Andreia Marinho, que mantém loja própria no Rio de Janeiro, concordou com Betulla e apontou que é importante cativar o cliente antes da venda. Durante a crise, ao invés de se vitimizar e encontrar mil desculpas para não oferecer seu produto, é preciso mudar porque não dá para agir da mesma forma e uma ação é certa: muito mais gente estará conectado.

O consultor de moda Leandro Lima, que trabalha com o segundo maior polo de confecção do Brasil em Goiás, lembrou que as marcas precisam seguir um novo posicionamento. Porém, quando se fala em sustentabilidade, os empresários têm um pouco de resistência, por isso é necessário falar em conscientização, com um novo olhar sobre o assunto. “Espero que sejamos mais sustentáveis a longo prazo”, comentou.

Ereany Refosco, que mantém uma empresa de uniformes no Sul do Brasil, diz que o papel do designer hoje é se reinventar, reduzir coleções, produzir outras opções e estreitar relacionamentos. A empresária já produziu máscaras e acaba de criar coleções de aventais para a família que passou a cozinhar mais em casa. “Vão surgir novos valores e percepções para um mundo novo, devemos pensar mais em qualidade e também tornar o mundo melhor”, ressaltou.

Levando como pauta a moda com propósito, Danúbia Girotto indicou um outro olhar para nosso guarda-roupa, além das marcas produzirem menos com maior qualidade. Atualmente, a consultora acredita que alguns consumidores estão comprando compulsivamente pela ansiedade, seja comida, medicamentos ou roupas. Mas, há também lojas e marcas totalmente paradas.

Neste sentido, Amanda Riquerme que sempre valorizou a customização do jeanswear com muito brilho em peças carregadas de alegria, luxo e criatividade diz que está auxiliando seus clientes, a maioria pequenos e médios, a levantar todos os dados da empresa, desde o comercial para seguir o melhor caminho para enxugar custos nesse período.

A consultora acha importante também treinar os representantes porque muitas vezes não conhece o produto que está oferecendo e seu valor agregado. Amanda afirmou que suas criações seguem o upcycling onde pesquisa tecidos, aviamentos, muitas vezes parados nas fábricas, reutilizando tecidos oferecendo uma peça diferenciada e sustentável, sempre pensando no lado comercial, que é o preço.

Pós-Covid-19

Para o retorno pós pandemia, Betulla sugere algumas dicas: invista no visual merchandising, na venda assistida, experiência no PDV (Ponto de venda), entretenimento, higienização das lojas incluindo as roupas e provadores, distanciamento social com um número menor de pessoas no local. “A equipe deve estar preparada para ser mais psicólogo do que vendedor porque as pessoas vão sentir necessidade de espairecer, de bater papo”, afirmou.

A consultora e especialista se diz otimista quando as lojas reabrirem já que para ela, as mulheres, principalmente, gostam de passear e fazer compras como uma terapia para o bem-estar e o comércio tem esse papel de trazer beleza, cores e alegria.

Fonte: Vanessa de Castro 

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Parabéns pela seleção. Excelente e oportuna reportagem

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