Industria Textil e do Vestuário - Textile Industry - Ano XVI

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O boom do couro de cogumelo e a promessa de sustentabilidade na moda

Inovações tecnológicas criam materiais que imitam couro (Foto: Ilustração Mariana Simonetti)

Inovações tecnológicas criam materiais que imitam couro (Foto: Ilustração Mariana Simonetti)


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No começo de março, uma notícia chocou uma indústria pautada pelo conformismo: a Hermès anunciou uma parceria com a startup californiana MycoWorks, envolvendo o Fine Mycelium – processo patenteado que amplifica a capacidade de parte das células da raiz dos cogumelos, chamadas de micélio, de se entrelaçarem entre si e com outros materiais, de forma a produzir um tecido que imita o couro animal. A ideia é usar a matéria-prima, batizada de Sylvania, para dar vida à nova versão da Victoria, clássica bolsa da grife, que deve chegar às lojas até o fim do ano.

Couro falso não é novidade no mercado, mas sua versão amplamente comercializada por anos era feita de plástico – componente que vai contra toda a linha de raciocínio de sustentabilidade, e que novos tecidos feitos de plantas seguem. Avanço sustentável é um assunto recorrente e crescente no mundo da moda, mas a realidade é que pouco ainda é feito, de fato, para minimizar o desperdício. A emissão de tóxicos no ambiente e a queima (literal) de estoque parado são algumas das práticas que tornam a indústria a segunda mais poluente do planeta. Mesmo que haja algumas inovações aceleradas pela pandemia, como pilotagem 3D e produção sob encomenda, pouco avanço havia sido feito por grandes players do mercado no ramo do couro animal. As tecnologias compostáveis e circulares que criam materiais à base de plantas são as novidades que lideram esse novo caminho sustentável.

A MycoWorks recebeu uma rodada de US$ 45 milhões e investimentos de nomes como Natalie Portman e John Legend. “A visão e os valores da Myco­Works são os mesmos da Hermès: uma fascinação por matéria-prima natural e sua transformação, e a busca pela excelência, com o objetivo de assegurar que os itens sejam empregados em seu melhor uso e sua longevidade maximizada”, diz Pierre-Alexis Dumas, diretor artístico da grife francesa, via comunicado. Apesar disso, a marca afirma que vai seguir usando couros polêmicos em seus produtos, como o de crocodilo.

INDÚSTRIA EM ASCENSÃO

Na onda do hype do veganismo, o interesse pelo couro plant based aumenta a passos acelerados. A Bolt Threads, fundada em 2009 por Dan Widmaier em Emeryville, também na Califórnia, é outra empresa que vem criando tecidos veganos partindo da biotecnologia. “Sabemos que nosso mundo é ambientalmente e economicamente restrito, e está se tornando cada vez mais com o crescimento da população”, reconhece Widmaier. Após o Microsilk, seda feita de teias de aranha (sem o uso de animais no desenvolvimento, apenas de seu DNA), a empresa recebeu um investimento de US$ 213 milhões e fechou parceria com a estilista inglesa Stella McCartney – outro nome importante em moda sustentável.

E aí veio o couro de cogumelos. “Quando criamos o Mylo, nós intencionalmente selecionamos o micélio, que é infinitamente renovável e abundante e cria um material lindo com toque menos sintético do que outros feitos com plantas”, explica Widmaier a Marie Claire. O primeiro passo é fazer a fina teia de micélio crescer e se entrelaçar. Em menos de duas semanas, em uma cama de serragem e material orgânico, e com temperatura e níveis de umidade controlados, as folhas resultantes são então processadas, curtidas, tingidas e gravadas com textura que imita o couro. “O Mylo pode competir com materiais sintéticos tanto em preço como em demanda da indústria, e é um substituto viável para o couro tradicional em forma e em funcionalidade”, completa Widmaier.

Apesar de ter sido apresentado ao mundo em 2018, o Mylo pretende chegar ao mercado de moda com força neste ano. Em 2020, nasceu o Mylo Consortium, composto de marcas como Adidas, Lululemon, Stella McCartney e o conglomerado Kering (dono de grifes como Gucci, Saint Laurent e Balenciaga). Juntos, eles investiram mais de sete dígitos na Bolt Threads. Stella foi a primeira do grupo a lançar peças usando o couro vegano da empresa, no final de março, dias após o anúncio da Hermès.

Tradição, atemporalidade e excelência são os alicerces das grandes marcas de luxo que hoje comandam o mercado, mas pequenas mudanças em um pensamento que por anos se mostrava imutável comprovam que a indústria caminha – ainda que a passos lentos – para um futuro mais sustentável. Criar materiais inovadores faz parte desse esforço e novas formas de fazer e pensar a moda devem transformá­­­­­­­­­-­la daqui para a frente. O couro de cogumelo é só o começo.

Giuliana Mesquita

https://revistamarieclaire.globo.com/Um-So-Planeta/noticia/2021/04/...

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