Industria Textil e do Vestuário - Textile Industry - Ano XVI

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Colheita de algodão se inicia em junho | Revista Campo & Negócios

Júlio Cézar Busato, presidente da Associação Brasileira dos Produtores de Algodão, afirma que 85% da produção brasileira é certificada.


Júlio Cézar Busato presidente da Abrapa | Foto: Divulgação/Abrapa
Júlio Cézar Busato presidente da Abrapa | Foto: Divulgação/Abrapa

A família de Júlio Cézar Busato, de 59 anos, possuía uma propriedade de 80 hectares em Casca (RS), a 230 quilômetros de Porto Alegre, capital gaúcha. Em 1987, eles deixaram a terra no Rio Grande do Sul para desbravar o cerrado baiano. Hoje, o Grupo Busato tem cerca de mil funcionários, e, desde 1º de janeiro de 2021, o agricultor é presidente da Associação Brasileira dos Produtores de Algodão (Abrapa).

Ele assumiu o cargo depois de ter comandado a Associação Baiana de Produtores de Algodão entre 2017 e 2020. No último ano de seu mandato, o órgão recebeu o prêmio da Agência Nacional de Águas e Saneamento Básico, em razão do projeto Identificação, Proteção e Recuperação de Nascentes. Os 35 anos de prosperidade da família Busato se confundem com o progresso da região, que hoje gera empregos e apresenta um Índice de Desenvolvimento Humano entre os melhores da Bahia.

De acordo com o presidente da Abrapa, “o algodão é tão bom que ele está até no dinheiro, nas cédulas.” Os subprodutos fornecidos não são poucos. Além dos tecidos e dos pacotes vendidos em farmácias, a lista inclui insumos para a indústria de cosméticos, fabricação de ração animal e até mesmo o óleo usado pelo McDonald’s para fritar as batatas.

Em entrevista a Oeste, Busato relatou os cuidados do setor para com o meio ambiente no Brasil. Entre as iniciativas, está um programa de certificação pioneiro no mundo, iniciado há dez anos. Ele explicou que a cultura do algodão precisa ser rentável para todos os envolvidos na cadeia produtiva, além de preservar a natureza. Leia abaixo os melhores momentos.

1 — Recentemente, uma revista acusou o algodão brasileiro de estar envenenado por causa da quantidade de pesticidas usados na lavoura. Isso é verdade?

Não. Veneno é toda e qualquer substância que em determinada dose causa toxicidade aos seres vivos. Uma caixa inteira de remédio tomada de uma só vez vira um veneno. O que usamos na lavoura tratamos como defensivos agrícolas. Mas nós não fazemos uso de forma descontrolada e irresponsável. Hoje, o principal defensivo aplicado na lavoura é o Malation, o mesmo que é utilizado nas cidades em forma de fumaça para combater o mosquito da dengue. O sonho de todo produtor brasileiro é produzir algodão orgânico. Mas, infelizmente, isso é impossível com o nosso clima. Procuramos os produtos que agridem menos, e existe o manejo integrado de pragas. Coletas diárias de amostras das plantas são feitas para um agrônomo avaliar a necessidade de aplicação. É ele quem define, através de um receituário semelhante ao de um médico, o que precisa ser feito. Além disso, no país, qualquer defensivo utilizado precisa ser aprovado pela Agência Nacional de Vigilância Sanitária, pelo Instituto Brasileiro do Meio Ambiente e dos Recursos Naturais Renováveis e pelo Ministério da Agricultura.

A cultura do algodão tem de ser rentável para toda a cadeia produtiva

2 — Que tipo de rastreabilidade e controle existe hoje na cultura de algodão no Brasil?

Há 17 anos, criamos o sistema Abrapa de informação. Ele nos permite saber onde e por quem cada fardo de algodão brasileiro foi produzido, bem como em qual lugar ele foi beneficiado — o processo que separa a fibra do caroço. Dez anos atrás, nós criamos o Algodão ABR — programa Algodão Brasileiro Responsável. Para ter o selo, o produtor precisa cumprir 178 itens socioambientais. As exigências são econômicas, sociais e ambientais. A cultura do algodão tem de ser rentável para toda a cadeia produtiva. É preciso cumprir 100% da legislação trabalhista brasileira e todas as normas da Organização Internacional do Trabalho. Também é necessário atender a todo o Código Florestal Brasileiro. Como somos o único país com esse tipo de regramento, isso torna o ABR o mais completo programa de sustentabilidade do mundo.

3 — Qual a proporção da produção brasileira que é certificada no programa Algodão ABR?

Temos muito orgulho de dizer que, depois de um trabalho dos produtores que demandou tempo e muito investimento, hoje 85% de todo algodão brasileiro é certificado. Como criamos essa estrutura que rastreia todas as fases, desde o plantio, conseguimos fazer o Sou ABR. Por meio dele, os consumidores das marcas Reserva e Renner conseguem encontrar toda história do tecido de algodão usado na roupa. Do cultivo no campo, incluindo o nome da família produtora, até o beneficiamento, a fiação, a tecelagem e a confecção. Basta acessar o QR code na etiqueta. Tudo é registrado e certificado por um sistema de certificação eletrônica. Esse é o primeiro programa no mundo que traz isso de ponta a ponta. Em breve, outras marcas também devem aderir.

4 — O Brasil é exemplo em certificação da produção de algodão?

Sim. Nossos grandes concorrentes são os nossos colegas produtores norte-americanos, que lideram as exportações mundiais, enquanto o Brasil está na segunda posição. Depois vêm os australianos. Na verdade, os norte-americanos estão lançando um programa para certificação agora; e os australianos ainda não têm. E nós, brasileiros, já estamos com nosso sistema há dez anos, a gente saiu na frente e nos orgulhamos muito disso.

5 — O Brasil foi responsável por cerca de 10% de toda a produção mundial de algodão no ano passado e tem uma das maiores safras do planeta. Quanto tempo o Brasil levará para ser o maior produtor mundial de algodão?

Não dá para saber qual vai ser o exato comportamento do mercado. Mas dobramos a produção de algodão brasileiro nos últimos cinco anos. Se fizermos isso outra vez, estaremos em primeiro no mesmo período. Entretanto, para isso ocorrer, duas coisas são necessárias: rentabilidade da cultura, que depende de produtividade, custo e valor da pluma no mercado internacional, além da conquista de novos mercados. Para conseguir mais consumidores externos, a Abrapa fez o Sou de Algodão ABR e, na Ásia, o Cotton Brazil. Nós já nos tornamos os maiores produtores de café, açúcar, suco de laranja, carne e soja. E vamos nos tornar de algodão, e depois de milho. Temos terra, clima e gente para isso. Visitei todas as nove associações estaduais de produtores de algodão. Quando você chega à propriedade, quem está lá é a família: pai, mãe, filho, filha, genro, nora e, às vezes, até o neto. Todo mundo trabalhando para fazer um trabalho melhor que no dia anterior. É isso, associado ao clima e à terra, que vai nos levar ao primeiro lugar.

Artur Piva

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