Industria Textil e do Vestuário - Textile Industry - Ano XVI

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'O carnaval é a alta-costura do povo', diz estilista Jean-Paul Gaultier

Francês falou com exclusividade sobre a experiência fantasias para uma ala da Portela.

Jean-Paul Gaultier Foto: Julien Hekimian / Getty ImagesJean-Paul Gaultier Foto: Julien Hekimian / Getty Images

Um dos mais consagrados estilistas do mundo e eterno “enfant terrible” da moda por causa das inúmeras vezes em que rompeu tabus e convenções sociais, Jean-Paul Gaultier estava entusiasmado coma ideia de debutar na maior passarela de sua carreira: o Sambódromo. Convidado para assinar as fantasias de uma ala no desfile da Portela, o francês, de 66 anos, veio ao Rio em outubro do ano passado para conhecer o barracão e se familiarizar mais com o enredo, uma homenagem a Clara Nunes e ao bairro de Madureira. A primeira parceira de uma maison de moda europeia com uma escola de samba traria ainda uma cereja no bolo: a participação do próprio Gaultier no desfile. No entanto, pouco antes das festas de fim de ano, o estilista começou a sentir uma febre intensa.

—Não me sentia exatamente mal, mas tinha a tal febre e uma grande falta de apetite e do paladar. Achei que se tratava de uma gripe, mas, quando fui ao médico, ele me internou imediatamente: era um problema no estômago. Fiquei duas semanas no hospital, recuperando-me da cirurgia — conta ele, com exclusividade a ELA. — O médico me proibiu de pegar o avião por pelo menos três meses, e aqui estou eu, triste de não poder participar do carnaval.

Do leito, no entanto, ele continuou a dar instruções a sua equipe sobre dois desfiles: o da Portela e o de sua própria marca, que apresentou em janeiro em Paris a coleção de alta-costura verão 2019, com o tema do mar.

Na Portela, em outubro, ao lado da rainha de bateria da escola, Bianca Monteiro Foto: Ricardo Lima
Na Portela, em outubro, ao lado da rainha de bateria da escola, Bianca Monteiro Foto: Ricardo Lima

— É até uma coincidência que eu tivesse pensado nessa coleção tantos meses atrás, e a Portela homenageasse Clara Nunes, que cantou Iemanjá, a rainha do mar — diz ele, em clara afinidade com o enredo. — É uma honra e é uma grande responsabilidade trabalhar numa ala de uma escola de samba tão tradicional e querida pelos cariocas, em conjunto com (a carnavalesca) Rosa Magalhães, uma artista excepcional.

Portela e Gaultier tudo a ver. Ambas as grifes têm as cores azul e branca como símbolo; no caso do estilista, pelas roupas listradas de marinheiro que ele transformou em fetiche e com que vestiu diversas celebridades, como Madonna, para quem ele também criou o inesquecível sutiã em formato de cone. A diva do pop, aliás, gravou em vídeo uma participação para o espetáculo “Fashion Freak Show”, que conta a trajetória do estilista em formato de teatro de revista. O musical, um estrondoso sucesso, fica em cartaz até o dia 21 de abril no Folies Bergère, em Paris, quatro meses a mais do plano inicial.

Em 2016, Gaultier comemorou quatro décadas de seu primeiro desfile, com uma monumental exposição de moda que correu o mundo. Dois anos antes, ele decidira interromper sua linha de prêt-à-porter para se dedicar exclusivamente a sua linha perfumes, entre os quais figuram Le Mâle (até hoje entre os dez mais vendidos <QL>do mundo) e o recente Scandal, e à alta-costura, com modelos feitos à mão e sob medida para suas clientes.

— Antes, o que interessava às pessoas eram as roupas criativas e que propunham uma mudança na sociedade. Desde então, todo mundo começou a copiar os outros, o que nunca me interessou. Eu sempre fui pela singularidade, pela afirmação do indivíduo. E é algo que na alta-costura ainda pode ser feito — explica ele.

O sutiã de Madonna na turnê Blonde Ambition, uma das criações mais populares de Gaultier Foto: The LIFE Picture Collection/Gett
O sutiã de Madonna na turnê Blonde Ambition, uma das criações mais populares de Gaultier Foto: The LIFE Picture Collection/Gett

Confira a seguir a entrevista com o estilista:

O GLOBO: Está decepcionado por não estar presente no desfile?

Jean-Paul Gaultier: Evidentemente, ainda mais no carnaval, uma festa de que eu gosto tanto e da qual, este ano, vou participar de verdade, com as fantasias na Portela, uma escola tão tradicional. Minha equipe estará presente, mas estou acompanhando as provas por fotos, fazendoas retificações necessárias.

Então você tem acompanhado a realização das fantasias?

Claro, é uma responsabilidade imensa. Eu jamais deixaria de acompanhar tudo, nos mínimos detalhes. Mesmo do hospital, eu monitorava. Trabalhei intensamente na peça (“Fashion Freak Show”) durante quase três anos, cuidando do figurino à iluminação. Depois, tive a turnê de promoção, com entrevistas emrádios, TVs, jornais, revistas. E, logo depois da estreia, viajei ao Rio. Talvez tenha forçado um pouco a barra com a saúde. A idade traz aquela vozinha que nos diz para diminuir o ritmo, mas eu nunca dou bola para ela.

Como foi sua visita ao barracão, em outubro?

Eu fui muito bem recebido, não só do ponto de vista da festa, com as mulheres lindas que dançaram para nós, como pelo acolhimento da equipe da (carnavalesca) Rosa Magalhães, uma grande artista, que nos foi explicando o enredo. Ali, eu me dei conta de que eles já estavam muito avançados na concepção das alas e dos carros, então tive que adaptar minhas ideias. Inicialmente, eu queria reproduzir um desfile de moda, daí precisei fazer algumas mudanças para que a ala que estou vestindo se combine ao carro que vem atrás.

Bruno Astuto

https://oglobo.globo.com/ela/gente/o-carnaval-a-alta-costura-do-pov...

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