Industria Textil e do Vestuário - Textile Industry - Ano XVI

Industria Textil e do Vestuário - Textile Industry - Ano XVI

Assim como muitos pais que trabalham, Frida Giannini e Patrizio di Marco, da Gucci, recentemente passaram uma manhã num quarto de hotel, em Beverly Hills, tentando fazer uma ligação via Skype para ver o bebê deles, que havia ficado com a avó em Roma. A transmissão congelou a imagem de Giannini e os pais se perguntaram se Greta, de nove meses de idade, estaria assustada com uma imagem possivelmente distorcida de sua mãe.

"Precisamos descobrir como usar o FaceTime", resmungou di Marco enquanto o casal se preparava para enfrentar um fim de semana movimentado, incluindo ir à estreia de um filme junto com Martin Scorsese e Leonardo DiCaprio e comandar um jantar de gala no Los Angeles County Museum of Art, com performance do cantor Sting para famosos como Warren Beatty, Amy Adams e Brian Grazer.

É crença comum que um casal cria um filho melhor se está junto. E é possível que juntos, Giannini, a diretora de criação de 41 anos, e di Marco, diretor-presidente de 51 anos, também estejam mais preparados para dirigir a Gucci do que estariam separadamente.

O mundo da moda exige uma intensa relação de trabalho entre as partes corporativa e de criação - e as discussões francas e sintonia que só amantes têm para fazer campanhas dentro e fora da empresa serviram bem a outras marcas: Miuccia Prada e Patrizio Bertelli, Valentino Garavani e Giancarlo Giammetti e Yves Saint Laurent e Pierre Bergé são alguns exemplos.

Apesar disso, a parceria Giannini- di Marco começou de maneira improvável. Di Marco estava confortável como diretor-presidente da Bottega Veneta quando François- Henri Pinault - diretorpresidente da Kering, detentora tanto da Gucci como da Bottega Veneta - lhe ofereceu o cargo mais alto da Gucci, em 2008. Di Marco considerava a Gucci, que estava à deriva após a saída de Domenico De Sole e Tom Ford, como um risco para sua carreira.

Di Marco descreveu num documento de 150 páginas sua estratégia de vida ou morte para a Gucci e a apresentou a Pinault durante uma reunião de três horas em Londres. Di Marco não estava satisfeito com os produtos cheios de logotipo da marca que via nas lojas. Além disso, a maior parte das coleções de Giannini, como a "Flora", que marcou o renascimento da estamparia, por exemplo, vendia bem no mercado, mas não conseguia impressionar os críticos de moda. "Sobrava apenas um ponto de interrogação", diz ele, "e esse ponto de interrogação era a Frida".

Giannini, que havia trabalhado na Fendi antes de entrar na Gucci em 2002 e assumir a direção criativa em 2006, ouviu rumores de que poderia perder o emprego. Ela diz que acreditou que sobreviveria porque Patrizio já era o quarto diretor-presidente da Gucci desde que havia começado a trabalhar lá.

Como dois leões medindo forças, eles se encontraram pela primeira vez em 10 de outubro de 2008, no antigo escritório de Giannini, em Florença. Di Marco, que tem mais de 1,80 metro de altura, foi levado a um sofá baixo, enquanto Giannini sentou- se numa cadeira mais alta.

"Pensei que era de propósito", diz ele, que pediu para que se sentassem em uma mesa.

"Estávamos nos estudando", diz Giannini. Di Marco concorda, "cheirando um ao outro.

Marcando o território um pouco. Nós tínhamos que chegar a uma conclusão".

Giannini escreveu um relatório espesso detalhando suas coleções, o que havia feito pela marca e seus motivos. Ele não esperava uma abordagem desse tipo vinda da divisão de criação. "Eu a chamo de a romana mais alemã que conheço", diz di Marco.

Giannini e di Marco passaram oito horas sem comer discutindo logotipos, produtos de luxo e a imagem da marca. Di Marco diz que percebeu que muito do que ela havia desenhado não ia parar nas lojas porque a marca estava dando prioridade aos produtos com logotipo. Ao fim da reunião não havia uma grande atração entre os dois, eles dizem, mas Giannini diz, com um sorriso, "Quando ele saiu da sala, eu pensei, ele é bem bonito".

As coisas pegaram fogo nove meses depois, em junho de 2009. Di Marco ligou para Pinault e pediu uma reunião em Paris. Pinault dá risada quando se lembra da conversa que se seguiu entre os três na capital francesa. Depois de contar sobre o relacionamento com Giannini, di Marco colocou seu cargo à disposição. Pinault descartou a oferta. "Minha primeira resposta, sabe qual foi? Trabalho com minha família há trinta anos.

Qual é o problema aqui?" Todo o bochicho sobre o romance entre Giannini e di Marco pode ter encoberto a notícia de uma mudança mais drástica na Gucci. Hoje, ao entrar em qualquer loja da marca, é possível notar a reencarnação das bolsas com alça de bambu, mocassins de todas as cores, uma abundância de roupas para usar de dia e até mesmo uma coleção infantil.

A montanha de produtos com o logotipo GG sumiu.

A marca que era chamativa deu meia volta ao se dedicar aos consumidores mais ricos, com foco na sensualidade e sua herança italiana. A estratégia gerou uma alta de 17,7% no lucro antes dos juros e impostos, para US$ 1,26 bilhão em 2012. Hoje, 72% da receita da Gucci vem de sapatos e produtos de couro, diz di Marco, comparado a 85% de produtos de tecido há alguns anos.

"O que tem sido feito por Patrizio e Frida é reequilibrar a Gucci", diz Pinault. É só o começo, ele admite, mas destaca: "A Gucci já está sendo vista como mais luxuosa do que era antes." Assim como fez com o início do seu relacionamento, o casal manteve a gravidez de Giannini em segredo até que um colega a confrontou no trabalho. Giannini havia esquecido que estava usando um microfone e o momento foi capturado inadvertidamente pelas câmeras do documentário "The Director - Uma Criadora na Gucci", produzido pelo ator James Franco, que é um modelo para a marca.

Devido às constantes viagens a trabalho, Giannini e di Marco passam apenas oito ou dez dias juntos por mês e acabam ligando para seus respectivos assistentes para marcar encontros. É possível imaginar que divergências ocorram entre dois profissionais de personalidade forte. Embora não sejam casados, os dois admitem que é difícil namorar um colega de trabalho.

Às vezes eles levam os problemas para casa, onde as discussões podem virar briga. "Ela é como um rio de palavras que demora três horas para passar", diz di Marco. Ele diz que a ouve e espera sua vez de falar. "E daí eu digo, 'OK, agora...' E ela diz, 'Não, não, estou muito cansada'."

Di Marco usa um anel de platina no mindinho, um presente de Giannini. Os olhos do executivo enchem d'água quando mostra a inscrição na parte interior, a data da reunião em que ela o relegou ao sofá: 10/10/2008


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Por Christina Binkley | The Wall Street Journal

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