O desafio da informação: como filtrar tendências de moda e mercado

[Romildo de Paula Leite]

 

Hoje, com a saturação de informações, a diversidade de necessidades e expectativas e o dinamismo de um mercado cada vez mais segmentado, torna-se mais difícil a decodificação de informações para um desenvolvimento contínuo e linear de coleções de moda. O cenário passou a ser complexo, por vezes indecifrável. Macro e microtendências, comportamento e consumo parecem proliferar, e com elas uma gama infinita de opções a ser exploradas.

Em contrapartida, encontramos diversas opções de conteúdos recheados de informações sobre tendências de moda e mercado, que auxiliam no desvendamento dos mistérios que envolvem os futuros desejos dos consumidores. Eles estão disponíveis em diversos formatos, como bureaux, portais, sites, blogs, boletins, cadernos de tendências, e tornam-se importantes ferramentas no auxílio ao desenvolvimento de coleções. Mas o que fazer com tantas referências? Como filtrar as tendências e saber qual delas conduzirá a empresa ao melhor caminho?

Precisamos estar cientes de que todos os caminhos são possíveis quando analisados de forma generalizada, mas, quando falamos do desenvolvimento de uma coleção específica, a decisão sobre o uso de informações deve ser pautada no DNA da empresa. Se questões como identidade e público-alvo não estiverem devidamente esclarecidas, a análise dessas informações sem o embasamento necessário passa a ser um tiro no escuro e pode gerar erros catastróficos.

Portanto, é preciso cautela ao utilizar essas ferramentas durante o processo de criação. Essas fontes de informação são de extrema importância, mas não podem ser utilizadas de forma isolada. São apenas uma vertente criativa e devem ser combinadas a diversos fatores que envolvem um projeto. A construção de um pensamento organizado é fundamental para que o processo criativo flua de maneira assertiva. Portanto, durante o desenvolvimento de uma coleção de moda, faz-se necessária não somente a gestão de recursos administrativos e financeiros, mas também a gestão de recursos criativos visando ao suporte do processo de criação, pensado de forma transversal entre moda e design, privilegiando aspectos visuais, funcionais e interativos, ou seja, a estética não funciona em nenhum momento de forma isolada, deve estar integrada a uma ampla e concisa estrutura de informações que envolvem usabilidade, funcionalidade, sintonia com o público-alvo e mercado, pensando desde a concepção até o uso e o descarte do produto.

Com um sistema abrangente capaz de descrever, organizar as etapas do processo de criação, guiar as decisões a ser tomadas, abraçando todos os aspectos envolvidos dentro e fora da empresa, é possível se aproximar do sucesso e assegurar a qualidade e a possibilidade de continuidade da produção. Isso já não acontece quando coleções são elaboradas apenas com base na análise empírica de macro e microtendências.

O desafio está em estimular a criatividade e ao mesmo tempo frisar a importância de focar e filtrar tendências que realmente podem atrair o público-alvo, dentro do posicionamento da empresa no mercado, e ainda focando em processos fabris adequados, pensando em logística, preços competitivos. Enfim, é preciso planejar e gerenciar riscos para que a criatividade não se perca em ideias meramente intuitivas. Desenvolver uma metodologia de trabalho de caráter multidisciplinar pode parecer uma tarefa árdua, mas é fundamental para que o processo possa ser reproduzido a cada desenvolvimento, e a partir daí sim o processo criativo será abastecido com pertinência de informações que poderão ser facilmente diagnosticadas e filtradas com o auxílio das variadas fontes disponíveis para análise e consulta.

 

Débora Catelani é designer, pós-graduada em moda: produto e comunicação pela Universidade Estadual de Londrina (PR), graduada em desenho industrial pela Universidade Norte do Paraná (Londrina, PR). Hoje atua no setor de design em atendimentos empresariais voltados para moda/vestuário na unidade Senai Francisco Matarazzo e na área de pesquisa e desenvolvimento do Senai Mix Design.

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