Industria Textil e do Vestuário - Textile Industry - Ano XVI

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Saint Laurent com croqui de vestido premiado em 1953: grupo de privilegiados que viu seus símbolos serem apropriados por consumidores na feira livre do "fast-fashion" agora estão reagindo

Luís XIV, o Rei Sol, decidiu no fim do século XVII que a França seria a capital da elegância e da sofisticação. O ministro das Finanças Jean-Baptiste Colbert foi seu braço direito na empreitada que a historiadora americana Joan DeJean classifica como a "primeira grande operação de marketing da história em escala nacional".

O rei emprestou dinheiro para tornar viável o surgimento de fabricantes de plumas e seda e de novas categorias de artesãos, como as rendeiras, os sapateiros, bordadeiros, joalheiros. O "savoir-faire" do luxo francês foi forjado de uma vontade real.

A França não manda mais sozinha nessa seara, mas os séculos não arrefeceram o desejo de uma elite mundial por exclusividade. Não necessariamente por uma questão de status. Um vestido de alta-costura é hoje mais que um título da nobreza. A distinção pode ser entendida pela busca de identidade. "Há uma sensibilidade para o feito à mão, para o artesanal como uma expressão do individualismo", afirma o sociólogo Dario Caldas, pesquisador de tendências e diretor do Observatório de Sinais.

Para o grupo dos privilegiados que viu seus símbolos serem apropriados por consumidores na feira livre do "fast-fashion", o momento é de reação. "Esses magazines sapatearam sobre a ideia de exclusividade nas parcerias que fizeram com os criadores de moda. É natural que presenciemos uma certa elitização do mercado", diz Caldas.

O desejo de ter algo feito unicamente para si é o que se traduz como "sentimento de alta-costura". Mas o que mais chama a atenção nesse recente fôlego das "maisons" e ateliês é o interesse da juventude por essas peças sob medida. São as "novas-ricas novas" que decidiram ilustrar o "closet" com itens assinados e exclusivos. Na década de 1960, os jovens impuseram novos códigos sociais e a moda deixou de ser um privilégio da elite. Música e roupas eram seus signos de distinção, mas a bandeira era democrática. Já então se dizia que a alta-costura estava numa contagem regressiva, presa na mofolândia de madames desconectadas com o tempo e o espaço que morreriam junto com a técnica de "moulage".

Mas, pressionada por clientes abandonados ao senso comum do século XXI, a alta-costura tenta se tornar contemporânea, com mais apelo e fácil de ser digerida. "A 'haute couture' estava presa na camisa de força dos conceitos, isolada e inacessível. Mas criou canais de comunicação com membros da nova geração", diz Caldas.

Ser uma It Girl, categoria das moças reconhecidas por seu estilo único, exige hoje muito mais recursos e empenho do que há um ano, um mês ou um dia. O blogs de moda publicam exaustivamente fotos de como as pessoas se vestiram para este ou aquele evento. É a blitz da exclusividade. Por mais que as europeias - as "novas-pobres" - repitam roupa sem constrangimento, as novas-ricas emergentes não consideram essa hipótese, em especial em momentos glamourosos.

E reviver o glamour é um dos apelos da alta-costura. Menos pelo viés nostálgico do que pela negação da moda fugaz, sem compromisso ou emoção. É uma experiência que reduz as carências da alma passar por oito provas de roupas, sentindo os tecidos mais sedutores ao toque tomarem a forma do corpo enquanto costureiras se tornam quase melhores amigas por moldar a seda à cintura.

"Essa extrema atenção a si mesmo é a expressão de um elevado grau de civilidade, e as civilizações são frágeis", escreve Marie-Dominique Lelièvre, em "Saint Laurent, a Arte da Elegância". Ao fim dessa aventura de fazer barras, ajustes e recolher alfinetes, a nova cliente da alta-costura já pode ser um "post".

É evidente que há diversos caminhos para alcançar essa exclusividade. "As pessoas estão encontrando outras formas de ser únicas: desenvolvendo talentos, criando aventuras, escolhendo atitudes, cultivando saberes", diz um "paper" da Trendroom, empresa brasileira de pesquisas de tendências que representa aqui o escritório britânico Trendwatching.

A abundância de escolhas, seja de informação, roupas, produtos tecnológicos criou uma expectativa de controle e o consumidor quer se apropriar e moldar o que está ao redor, sejam os projetos de vida ou a moda. "Muitos desejam produtos e serviços exclusivos. Outros estão interessados em ser exclusivos pela forma de viver, independentemente dos acessórios que carregam", avalia a Trendroom.

Dá para ser exclusivo saltando de paraquedas, apadrinhando artistas, mantendo uma ONG ou estudando Shakespeare. Só é mais difícil tornar-se um "post".

Fonte:|http://www.valor.com.br/cultura/2534524/o-eterno-desejo-de-exclusiv...

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