Industria Textil e do Vestuário - Textile Industry - Ano XVI

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Marco Bizzarri aposentou a extravagância datada da grife e deu carta branca ao seu novo estilista


Marco Bizzarri, diretor-presidente da Gucci, assumiu o cargo há dez meses. ENLARGE
Marco Bizzarri, diretor-presidente da Gucci, assumiu o cargo há dez meses. PHOTO:GETTY IMAGES

No palco do festival de música Global Citizen, realizado em setembro no Central Park, em Nova York, Marco Bizzarri tirou um selfie diante de 60 mil pessoas e acenou para a filha de 14 anos na plateia.

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A desenvoltura natural sob os holofotes é uma das características de Bizzarri, que, como diretor-presidente da Gucci, está liderando a impressionante transformação da grife italiana. Há menos de um ano, parecia improvável que a Gucci, que não havia recuperado o brilho perdido com a saída do estilista Tom Ford, em 2004, viraria um dos nomes mais festejados do momento. Nos dez meses desde que Bizzarri tomou as rédeas, o executivo de 53 anos aposentou a extravagância datada da marca e adotou uma nova proposta “geek-chic” que está em astuta — ainda que estranha — sintonia com a cultura popular.

Bizzarri e suas decisões relâmpago estão por trás desde o visual poeta-em-residência introduzido pelo novo diretor criativo, Alessandro Michele, até a atitude mais amigável da marca com butiques independentes.

As primeiras coleções de Michele chegaram às araras há poucas semanas e os resultados financeiros do trimestre, para efeito de comparação, só serão divulgados em janeiro. Mas famosos como Julia Roberts e Harry Styles (da banda One Direction) vêm desfilando por aí de Gucci — e lojistas dizem que as vendas estão decolando. A procura pelo mocassim-pantufa com pelo de canguru, por exemplo, é tão grande que a Gucci já teve de encomendar novas remessas quatro vezes às fábricas.

Depois de uns dois anos sem vender sapatos e bolsas Gucci, a rede Bergdorf Goodman está trazendo-os de volta, diz Ana Maria Pimentel, diretora de moda para acessórios femininos da Neiman Marcus Group, dona da Bergdorf. “Está todo mundo perguntando quando vamos receber [a coleção]”, diz ela. “É muito raro uma marca ter uma ressurreição como essa.”

O estilo arrojado de Bizzarri é parte de uma nova impaciência em relação a resultados que vem provocando uma onda de mudanças no meio da moda. Nas últimas semanas, os estilistas Alber Elbaz e Raf Simons anunciaram que vão deixar a Lanvin e a Christian Dior,respectivamente. A Balenciaga contratou recentemente Demna Gvasalia — conhecido pelos jeans reconstruídos da Vetements — para substituir Alexander Wang. Cada uma dessas grifes busca produzir o tipo de furor que leva o consumidor jovem e aspiracional à seção de acessórios ou às prateleiras de cosméticos, onde as margens de lucro são maiores.

Durante muito tempo a Gucci apostou no visual fluido e sexy-hedonista criado por Tom Ford e reproduzido, com mais suavidade, pela estilista Frida Giannini. Ultimamente, no entanto, funcionários das lojas Gucci vêm aprendendo a exibir — e vender — um novo gênero de ternos andróginos e vestidos boêmios criados por Michele. A nova loja-conceito da Gucci — inaugurada em setembro em Milão — aposta em elementos surrealistas, como mãos articuladas carregadas de anéis criados por Michele (e inspirados nos que ele próprio usa).

o novo visual da grife na sua principal loja em Milão.ENLARGE
o novo visual da grife na sua principal loja em Milão. PHOTO: GUCCI

A reação do público à nova Gucci foi rápida. A impactante coleção “Cruzeiro”, de Michele, apresentada em junho em Nova York, foi vista cerca de 1,1 milhão de vezes no canal da grife no YouTube, comparado com raquíticas 98 mil visualizações geradas pelo último desfile de Giannini para a Gucci, no ano passado.

Como diretor-presidente, Bizzarri combina lances agressivamente rápidos com uma recusa em levar muito a sério o que faz. “Não estamos salvando vidas”, diz ele. “Estamos vendendo sonhos.”

Michele caiu nas graças de Bizzarri em janeiro. Ele não tinha sido cogitado para o cargo até que uma reunião de rotina virou uma discussão de quatro horas sobre o futuro da Gucci. “Não pensava em fazer dele o diretor criativo da Gucci. Queria conversar porque ele era o responsável pelas bolsas”, diz Bizzarri.

A Gucci vinha prejudicando os resultados da Kering, sua controladora. A receita da grife tinha caído por dois anos seguidos — em 2014, recuou 1,1%, para 3,5 bilhões de euros (US$ 3,8 bilhões) —, enquanto o mercado de moda de luxo, no geral, crescia a um ritmo saudável.

Na época, a ideia era que Giannini ficasse até fevereiro para apresentar suas últimas coleções masculinas e femininas. Em vez disso, Bizzarri lançou um desafio a Michele: perguntou se o estilista poderia mostrar sua primeira coleção masculina dali a cinco dias.

“Queria um diretor criativo louco o suficiente para dizer que sim, que podia fazer uma coleção em cinco dias”, diz Bizzarri, que queria colocar um produto novo nas lojas, com uma nova proposta, sem muita demora. Ele diz que talvez não tivesse contratado Michele se o estilista tivesse dito não.

Modelos caminham na passarela no encerramento do desfile da coleção primavera/verão da Gucci, na Semana da Moda de Milão, em setembro.ENLARGE
Modelos caminham na passarela no encerramento do desfile da coleção primavera/verão da Gucci, na Semana da Moda de Milão, em setembro. PHOTO:ALESSANDRO GAROFALO/REUTERS

Michele mostrou a coleção a Bizzarri um dia antes do desfile. “Eu disse, de propósito, que gostava dos visuais mais radicais”, diz Bizzarri. “E falei: ‘Alessandro, não fique no meio-termo.’”

A coleção de blusas masculinas e ternos de estampado extravagante teve uma fria recepção. Um mês depois, porém, a coleção feminina foi recebida com aplausos. Editores de moda e lojistas se ajustaram ao novo conceito.

Bizzarri deu ao estilista carta branca para expressar sua visão criativa. A disposição de Bizzarri para virar a Gucci do avesso atinge quase todas as áreas da empresa. Na tentativa de se aliar a gente que dita moda, a marca vem avisando varejistas independentes como Brian Bolke, da butique Forty Five Ten, em Dallas, que a Gucci vai dar a ela mais acesso a suas coleções — revertendo a tendência das grifes de alijar butiques multimarcas em favor de suas redes próprias de lojas.

Alto e com uma careca lustrosa, Bizzarri sobressai em qualquer ambiente. Ele teve passagens pelas grifes Stella McCartney e Bottega Veneta e, até recentemente, dirigia todas as marcas de luxo da Kering — exceto a Gucci, a maior de todas.

Isso posto, Bizzarri — chamado de “Bizza” (rima com pizza) pelos amigos — é discreto para o líder de uma grife de luxo, dobrando seus quase dois metros de altura para entrar no Smart que dirige por Milão.

“Quando você fala com ele, ele se inclina e ouve”, diz Natalie Massenet, ex-presidente do conselho da Net-a-Porter. Amigos sugerem que Bizzarri tem um lado rebelde. “Ele era louco de pedra”, diz

Massimo Bottura, que foi colega de Bizzarri no ensino médio e hoje é chef do triestrelado restaurante Osteria Francescana, em Módena, na Itália.

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