Industria Textil e do Vestuário - Textile Industry - Ano XVI

O homem hesita em Paris entre o chique supremo de Amiri e Sean Suen e o estilo futurista de Rick Owens

A Paris Fashion Week mais uma vez revelou coleções de tirar o fôlego para o outono-inverno 2024/25, na passada quinta-feira, 18 de janeiro. Em particular, o poderoso e fascinante desfile de Rick Owens e a inspiração no jazz ultraluxuoso de Mike Amiri, enquanto que o chinês Sean Suen reformulou o guarda-roupa masculino com propostas originais e de altíssima qualidade.

Rick Owens, outono-inverno 2024/25 - DR

Não houve nenhuma apresentação fantástica no Palais de Tokyo nesta estação para Rick Owens. O estilista americano acolheu na sua maison, na sua sede na Place du Palais-Bourbon, mesmo ao lado da Assembleia Nacional, um desfile de moda mais intimista, acompanhado pela melodia sombria e cativante Warszawa de David Bowie.

Os modelos esguios avançam hesitantes, o seu andar é impedido por botas de borracha volumosas e extremamente insufladas, fruto de uma colaboração com o designer australiano-sul-africano radicado em Londres, Straytukay. Tendo estes balões em forma de bala como sapatos, que por vezes os fixam com dificuldade ao chão, os corpos finos e esticados parecem flutuar, como se se movessem com dificuldade sobre a neve que caiu durante a noite ou em terreno desconhecido.

A silhueta é a de guerreiros galácticos encontrados em diferentes momentos do dia. Aparecem pela primeira vez com os seus equipamentos Grendizer acolchoados e protetores com enormes coletes acolchoados, casacos esculpidos com ombros grandes ou pontiagudos, projetando-se para cima ou para os lados, e blusões de couro volumosos. Como explica o designer na sua declaração de intenções, “as proporções são grotescas e desumanas numa reação gritante a alguns dos comportamentos humanos mais dececionantes que testemunharemos nas nossas vidas. Mas há uma esperança eterna, um sonho utópico de um lugar melhor.

Podemos sentir essa esperança quando o nosso herói da galáxia vindo do futuro tira a armadura e o peitoral, retornando das suas missões espaciais, para revelar um guarda-roupa muito mais aconchegante baseado em combinações confortáveis de lã, alpaca e caxemira reciclada, dos quais muitas vezes usam apenas a parte de baixo, deixando a parte de cima cair sobre as pernas, com as mangas compridas arrastando pelo chão. Algumas dessas peças loungewear trazem o logotipo da Porterville, em homenagem à cidade onde cresceu o estilista de origem mexicana, no sul da Califórnia.

Esse lado casulo está muito presente na coleção, que também oferece conjuntos de fatos de treino e sweatshirts, macacões em lã feltrada, malha desfiada ou pele com efeito de peluche, ou ainda capas de bola de pêlo comprido, enquanto edredons fofos envolvem o corpo como uma veste.

Amiri, outono-inverno 2024/25 - DR

Outra marca americana que desfilou em Paris neste terceiro dia parisiense foi a Amiri, lançada em 2014 pelo californiano Mike Amiri. Depois de estudar Direito e trabalhar para grupos de rock, para os quais criou trajes especiais de palco, lançou-se oferecendo jeans luxuosos e peças de couro altamente trabalhadas. Em apenas alguns anos, alcançou sucesso, especialmente com os rappers e músicos americanos mais populares, que são loucos pelas suas valiosas apostas.

Saia do jeans! Abram caminho para um guarda-roupa clássico, casual, super elegante, mas que permanece cool com o sempre toque levemente rock, mesmo que revelado com uma banda sonora de jazz. É tudo uma questão de materiais, entre a investigação e um toque artesanal, com tecidos luxuosos (caxemira, seda, mohair, cetim, couro). Um trabalho especial está a ser feito em texturas com efeitos de brilho incríveis nesta estação. Desde a T-shirt sem mangas vazada discretamente cintilante, que pode ser vista sob uma camisa de seda, até aos gorros de lã decorados com pedras preciosas, passando pelo delicado cardigan de mohair debruado com rubis... As roupas iluminam-se com mil luzes.

Casacos e camisas brilham, tecidos com fios dourados, revestidos de strass ou até bordados com pérolas. Assim como os casacos cruzados com finas riscas prateadas, como vestígios de chuva. Algumas fantasias são cobertas com hastes de prata. Os cristais estão por toda parte. Compõem principalmente alfinetes, que adornam gorros ou lapelas de coletes ou casacos de smoking em cetim.

O homem Amiri aprecia calças confortáveis, levemente largas, mas sempre chiques com a trança lateral. Com a camisa entreaberta por cima da T-shirt ou optando por um belo pólo colorido, veste com indiferença ricos casacos, deixando o lenço de franjas aparecer por cima da coxa, sem nunca esquecer a clutch como acessório discreto, mas essencial. O tema xadrez às vezes aparece, assim como o padrão leopardo. Para a noite, o nosso dândi faz de tudo vestindo um fraque cujas costas se estendem majestosamente até o chão numa longa cauda.

Sean Suen, outono-inverno 2024/25 - ph CC

Uma multidão compacta também compareceu ao desfile de moda de Sean Suen, que temporada após temporada ganha audiência. Além de alguns casacos com gola Mao, o estilista de Pequim, onde fundou a sua maison em 2012, afasta-se nesta estação do universo oriental onde costuma inspirar-se, para revisitar os códigos do vestuário masculino tradicional.

A gola de uma camisa valsa no ar, enquanto as roupas se repetem indefinidamente. Está tudo duplicado. O casaco do fato típico é ampliado em proporções oversized, fechando-se lateralmente para revelar o seu duplo. Um casaco chique em lã preciosa exibe uma segunda camada na frente feita de forro de cetim. Um blusão com bolsos cabe num casaco, enquanto outro duplicado fica pendurado no pescoço de outro casaco. Até as calças têm cintura dupla como um trompe-l'oeil, enquanto o cinto da pochette funciona como forro do cinto "real" da calça.

A cullotte samba-canção de lã grossa sobressai das calças de cintura alta presas por um par de suspensórios e combinadas com um colete. Em linha com o look de avô perfeito, muito popular no momento. O jovem imaginado por Sean Suen também interpreta o rebelde com looks mais ousados, calçando botas de cano alto e vestindo uma mini túnica de malha, revelando o traseiro.

Mas no final é o fato do pai que toma conta, muito mais elegante, com conjuntos de corte impecável feitos de belas lãs, sobretudos majestosos e gravatas inusitadas com orifícios, enquanto as peles são convidadas aqui e ali em acessórios para agasalhar as mãos e écharpes tipo jiboia.