Industria Textil e do Vestuário - Textile Industry - Ano XVI

Industria Textil e do Vestuário - Textile Industry - Ano XVI

O momento ‘arrepiante' em que este pai descobriu de onde vêm as roupas de seus filhos

roupas
A cada ano, 80 bilhões de peças de roupa são compradas no mundo inteiro.

Esta reportagem é parte da campanha “Reclaim” do HuffPost, um projeto em andamento que destaca o problema mundial do desperdício e como podemos começar a resolvê-lo.

Andrew Morgan nunca pensou duas vezes sobre os custos ocultos das roupas que comprou a vida toda.

cineasta e pai de quatro filhos sempre fez questão de comprar peças.... Depois de um ano, quando elas estavam gastas ou simplesmente arruinadas, ele ia de novo às compras.

Morgan admite que simplesmente não levava em conta a possibilidade de que suas escolhas nas lojas pudessem ter consequências indesejadas.

“Cresci como um produto do mundo moderno, e me ensinaram a não pensar muito sobre a origem das coisas”, disse Morgan ao The Huffington Post.

Tudo mudou em um dia de 2013, quando ele entrou num Starbucks de Culver City, na Califórnia. Esperando na fila, ele olhou para a prateleira onde estavam os jornais.

A quase 13 mil quilômetros dali, em Bangladesh, uma fábrica de roupas contratada por marcas ocidentais tinha desabado, causando a morte de mais de 1 100 pessoas.

A foto na primeira página do The New York Times mostrava dois meninos de idade próxima à dos seus filhos diante de uma parede com cartazes de pessoas desaparecidas.

“Aquilo mexeu comigo”, disse ele. “Foi uma sensação de arrepio, quando você percebe que é parte de algo sobre o que nunca tinha parado para pensar, que existem pessoas reais do outro lado.”

Morgan tinha concluído seu filme mais recente no dia anterior. Ele estava buscando um novo projeto. Assombrado pela imagem do colapso da fábrica, e chocado com sua cumplicidade no sistema que o tornou possível, ele começou a contatar pessoas de todo o mundo para se informar mais sobre a questão.

Ele queria descobrir o que estava acontecendo e o que estava em jogo. Acima de tudo, ele queria uma resposta: “Por que eu nunca tinha sido confrontado com essa história antes?”

No ano passado, Morgan lançou “The True Cost” (o custo real, em tradução livre), um documentário sobre as desastrosas consequências humanas e ambientais da indústria da moda, incluindo o desperdício assustador resultante de um setor cada vez mais focado em produzir roupas baratas, de baixa qualidade e descartáveis.

o cineasta andrew morgan
O cineasta Andrew Morgan em Shenzen, China, durante a produção de “The True Cost”, em meados de 2014.

moda é uma indústria global trilionária, e os motivos para o desperdício são variados e complexos. Mas, de qualquer ângulo que se olhe, a situação pode ser considerada crítica.

A cada ano, 80 bilhões de peças de roupa são compradas no mundo inteiro. Cerca de 15% do tecido é desperdiçado durante o processo de manufatura, antes de as roupas chegarem aos consumidores.

Nos Estados Unidos, onde 97% das roupas vendidas são produzidas no exterior, uma pessoa joga fora pelo menos 27 quilos de roupas por ano, segundo a Environmental Protection Agency, órgão do governo federal americano de proteção ao meio ambiente.

Outras estimativas colocam o número em 36 quilos. Desse total, 85% acaba em aterros, onde tecidos processados quimicamente podem contaminar os lençois freáticos se não houver cuidados especiais.

Em junho, o The Huffington Post lançou a “Reclaim”, uma campanha para conscientizar nossos leitores sobre o problema do desperdício nos Estados Unidos, começando pela comida.

Agora, estamos acrescentando o desperdício da moda a essa lista. Nos próximos meses, vamos explorar essa questão de vários ângulos. Vamos destacar os esforços de estilistas iniciantes e empresas estabelecidas para melhorar suas práticas e mostrar que impacto essas iniciativas têm sobre a crise global do desperdício da moda.

Também vamos oferecer conselhos para reduzir o desperdício de roupas em nossas vidas e começar a conversa sobre o tema usando a hashtag #ReclaimFashion.

Os críticos da indústria da moda apontam a “fast fashion” (moda rápida) como uma das explicações para o desperdício. Marcas como H&M, Zara e Forever 21 não só têm resultados melhores que os concorrentes, mas também estão redefinindo os ciclos da moda, pois cada vez mais clientes esperam coleções de roupas novas e baratas.

Elizabeth L. Cline observa em seu livro Overdressed: The Shockingly High Cost of Cheap Fashion (bem vestida demais: o custo chocante da moda barata, em tradução livre) que carregamentos de novas peças chegam diariamente a lojas como Forever 21 e H&M.

A cada semana, 400 novos modelos estreiam na Topshop, a empresa com sede em Londres que tem mais de 500 lojas no mundo inteiro.

Quanto mais roupas baratas, mais se joga fora. “A relação entre fast fashion e o crescente desperdício de tecidos agora é inegável”, segundo o International Journal of Consumer Studies.

Ainda assim, na indústria da moda, um certo nível de desperdício sempre foi aceito como um custo de estar no negócio.

“Há desperdício em todas as etapas da cadeia de suprimentos têxtil”, diz Sass Brown, presidente interino da Escola de Arte e Design do Fashion Institute of Technology, em Nova York. “E parte do problema é que a cadeia de suprimentos da indústria têxtil é um pesadelo logístico.”

Com ciclos mais rápidos, temos mais moda descartável. Mas não temos ideia de onde tudo vai parar.

Os ativistas afirmam que a conscientização é muito maior em relação à comida do que à moda. Sabe-se que muita coisa é produzida na Ásia, claro. Até Donald Trump entende – mais ou menos.

Mas, como diz Brown, “o consumidor médio não tem ideia” do que acontece de verdade: os químicos nos tecidos que tocam nossa pele todos os dias, o desperdício, a poluição, as vidas das pessoas que produzem nossas roupas.

Se, como os maços de cigarro, as roupas tivessem avisos nos alertando para os riscos do consumo, diz Brown, “acabaríamos com a fast fashion num instante”.

A moda se apoia na ideia de obsolescência planejada. O que empolga numa nova peça é justamente saber que um dia ela vai sair de moda. Mas os críticos da fast fashion dizem que o ritmo frenético de hoje, além dos baixos preços, nos cegaram para as consequências de nossas compras. Do outro lado da equação, como mostra o filme de Morgan, existe uma imagem terrível de danos ambientais, desperdício e empregos que pagam pouco.

Tasha Lewis, professora assistente de administração de design de moda na Universidade Cornell, explica como a introdução de mais roupas em nossas vidas costuma gerar desperdícios no futuro.

“Temos esses ciclos mais rápidos”, diz Lewis.

Temos mais moda descartável. Mas não temos ideia de onde tudo isso vai parar. E muitos consumidores tendem a jogar essas roupas fora achando que ninguém mais quer vesti-las. Porque elas não foram feitas da melhor maneira.

O desmoronamento da fábrica Rana Plaza, em Bangladesh, além de outras tragédias semelhantes na mesma época, serviram como uma espécie de alerta para Morgan e para outros.

Para o deleite e alívio de ativistas que trabalharam anos para chamar atenção para o problema, essas questões finalmente estão recebendo o destaque merecido.

Além de The True Cost, que pode ser visto no Netflix, outro documentário será lançando este ano, Slowing Down Fast Fashion (desacelerando a moda rápida, em tradução livre) de autoria do músico britânico Alex James.

“É chocante como sabemos pouco sobre de que nossas roupas são feitas, de onde elas vêm ou quem as fez”, disse James à WWD.

O desperdício na moda também entrou para a conversa pública de outras maneiras. No ano passado, o programa Last Week Tonight, do comediante John Oliver, mirou a indústria da moda rápida. O Saturday Night Live alfinetou as roupas baratas e descartáveis da H&M. Da Lenny Letter, de Lena Dunham, à conta de Instagram de Anne Hathaway, celebridades dão dicas de como comprar de forma responsável num mundo dominado pela fast fashion.

Ex-viciados em compras agora curados falam de consumo consciente no YouTube –chamados de “haulternatives".

Mais concretamente, empresas e estilistas estão experimentando com programas de devolução e outras maneiras de dar sobrevida às roupas. Cidades estão criando programas de reciclagem que facilitam a vida de quem quer doar peças usadas.

Companhias de fast fashion estão tentando reduzir o desperdício, com graus variados de comprometimento e sucesso, dizem os ativistas. A H&M, por exemplo, fala de várias iniciativas de sustentabilidade, da campanha de redução de desperdício World Recycle Week à coleção anual Conscious Exclusive, composta por peças ecologicamente corretas.

“Nossa ambição é uma abordagem circular em relação à produção e ao uso de nossas roupas, para usar apenas materiais reciclados ou obtidos de maneira sustentável, além de implementar apenas energias renováveis em nossa cadeia de valor”, disse um porta-voz da H&M ao The Huffington Post. “Para atingir esse objetivo, sabemos que precisamos de inovação.”

O porta-voz citou o prêmio anual da empresa que incentiva os participantes a reinventar a indústria da moda. Ele também mencionou um compromisso recente de desenvolver tecnologias de reciclagem.

Igualmente, Forever 21 e Zara listam suas políticas de sustentabilidade, mas não responderam a pedidos de entrevista.

Cline, a autora de Overdressed, disse ao The Huffington Post que agora está trabalhando em um documentário sobre o desperdício de roupas e outros impactos da moda rápida.

Ela também trabalha com roupas de segunda mão, o que a faz entender melhor o problema. Cline se diz impressionada com o número de roupas doadas e se pergunta onde é que elas vão parar.

Enquanto isso, as marcas de fast fashion continuam produzindo mais e mais e mais – “muito mais que o necessário”, diz Cline, “ou do que poderia ser usado até o fim da sua vida útil”.

Mas ela vê pelo menos uma razão para ser otimista. A ideia de que a moda possa ser mais sustentável e cuidadosa ainda não chegou ao mainstream, afirma ela. “Mas pelo menos a conversa está acontecendo.”

Este artigo foi originalmente publicado pelo HuffPost US e traduzido do inglês

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Prezado Romildo, bom dia.

Vamos parar com essas matérias progressistas, que em si não tem o intuito de melhorar as condições de trabalho de ninguém, mas dar prerrogativa a sindicatos e outros interesses pouco escusos, como reserva de mercado a grandes corporações amealhadas ao poder?

Bangladesh, Índia, Vietnã e outros países SÃO pobres. Logo, como querem que tenham ambientes já estruturados como em países europeus ou EUA? Esse arrepio as condições precárias só existe por causa justamente das gerações passadas que sofreram para conquistar um patamar de salubridade ideal. Porém essa maior exigência traduz maiores custos e uma migração da mão de obra exclusivamente braçal naquela mais intelectual (vide o espantado - um cineasta).

Esses povos também querem crescer e prosperar, mas é um caminho longo e árduo, no qual é impossível pular. Caso a regulamentação forçada de condições pari passu as do mundo desenvolvido, a pressão sobre quem emprega será tão grande que a competitividade acaba, logo as vendas, e por conseguinte o emprego.

"Oras, mas é emprego sub humano". Sob o ponto de vista de um sujeito que nasceu em berço esplêndido sim. Só que ele se esquece que essa maravilha não surgiu do nada. Seus avós e bisavós deram o sangue e a vida para que seus descendentes não sofressem tanto. 

Qual a solução para esse impasse, portanto? Cada um fazer a sua parte. Desenvolver métodos de produção automatizada, programas e aplicativos logísticos que otimizem as linhas de produção, criar cursos on e off line para que pessoas de todas as partes do mundo possam se desenvolver e prosperar de maneira mais sadia. É o único caminho natural. O resto é populismo de esquerda.

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