Industria Textil e do Vestuário - Textile Industry - Ano XVI

Industria Textil e do Vestuário - Textile Industry - Ano XVI

Aumentar o tempo de vida e pensar no produto da conceção ao descarte fazem parte das premissas do ecodesign, uma área onde o passaporte digital do produto (PDP) poderá dar uma ajuda.

Dividido em dois painéis na iTechStyle Summit, o tema do ecodesign foi inicialmente abordado por Cecilia Tall, diretora do programa RE:Source do RISE – Research Institutes of Sweden, que começou por enumerar os objetivos do ecodesign, que incluem expandir o tempo de vida dos produtos têxteis, tornar os artigos mais reparáveis, reutilizáveis e recicláveis, aumentar o conteúdo de fibras recicladas, reduzir ou eliminar substâncias nocivas nos produtos, aumentar a responsabilidade social e minimizar o impacto ambiental e climático na produção de têxteis. «Se conseguirmos acrescentar valor, podemos reduzir a compra de novos produtos», destacou.

Já Silvia Gambi, do Polo Universitario di Prato, centrou-se nos resíduos têxteis – que na UE27, em 2020, estavam estimados entre 7 e 7,5 milhões de toneladas, um valor que deverá crescer para 8,5 a 9 milhões de toneladas em 2030 –, em especial os pós-industriais, que representaram em 2020 cerca de 0,5 milhões de toneladas. A utilização destes últimos, contudo, está dependente da certificação e do rastreamento dos mesmos. Para o futuro, Silvia Gambi apontou como principais desafios mapear os resíduos têxteis pós-industriais, para perceber em que fase dos processos são criados, estimular modelos de reciclagem de fibras, pesquisar tecnologias que permitem mapear e rastrear estes materiais e abrir o mercado europeu a subprodutos têxteis.

Claudia Castelli, diretora do programa de I&D, e Loris Maestri, do Radici Innova, o centro de inovação do grupo italiano Radici, abordaram o papel das fibras sintéticas no ecodesign, nomeadamente as versões mais sustentáveis deste tipo de fibra, assim como os esforços que estão a fazer para «replicar a qualidade e a performance de vários materiais num único». A empresa está ainda a desenvolver um sistema de reciclagem para misturas poliamida/elastano.

Stephan Veri, da Euromaterials, encerrou este painel com a apresentação do projeto Circtex, voltado para a produção de vestuário de trabalho reciclável, produzido em poliéster e cosido com linhas que se degradam com microondas, permitindo a reciclagem termomecânica. «Confirmamos que podemos fechar o ciclo no vestuário de trabalho e podemos fechar o ciclo sem sair da Europa a nível industrial», resumiu Stephan Veri.

Informação precisa-se

No segundo painel, que juntou a questão do ecodesign com o passaporte digital do produto, Miguel Sá, do CITEVE, salientou a importância deste documento para a economia circular. «A economia circular está um pouco bloqueada porque não há dados para apoiar a cadeia de aprovisionamento», indicou. «Com o passaporte digital do produto, a informação vai fluir facilmente e permitir a reutilização, a reparação e a reciclagem», acredita.

Num trabalho realizado com outras entidades no âmbito do projeto STVGo Digital, o CITEVE desenvolveu uma proposta para os dados que podem constar deste passaporte digital do produto, onde através de um código QR é possível saber não só os fornecedores envolvidos na produção do artigo, mas também a composição e a classificação ambiental do produto (numa escala semelhante à que é atualmente usada, por exemplo, para os eletrodomésticos). «Podemos ter informação detalhada sobre o consumo de água, produtos químicos usados e pegada de carbono», acrescentou Miguel Sá, assim como «informação de preservação e manutenção do produto, complementar à etiqueta física».


Miguel Sá [©CITEVE]

Para além do consumidor poder fazer escolhas mais informadas, o passaporte digital do produto pode contribuir também para a reciclagem no fim de vida do produto, já que desta forma as empresas de separação e reciclagem «podem ver a informação e ver qual é o melhor método de reciclagem», referiu Miguel Sá.

Mas acima de tudo, para que seja eficiente, salientou o responsável do CITEVE, «os consumidores têm de confiar nos dados do passaporte digital do produto, porque se não confiarem na informação, este vai perder valor». Há ainda desafios na implementação relacionados com o custo adicional, a gestão dos dados recolhidos, o mapeamento da cadeia de aprovisionamento e a uniformização da comunicação junto dos fornecedores.

Já Claudia Morea, da Università degli Studi di Firenze, centrou-se na integração do passaporte digital do produto em gémeos digitais, um projeto pensado para «compreender como podemos ajudar as pequenas e médias empresas a fazer a transição [para a sustentabilidade e o digital]».

A investigação permitiu criar uma espécie de bússola, com o gémeo digital no centro, o ciclo de vida à volta e depois as tecnologias e serviços que podem ser usados nas várias fases do produto e para diferentes intervenientes, do designer ao consumidor final, passando pelos fornecedores. «Percebemos que são todas praticamente o mesmo tipo de tecnologia. Por exemplo, se usarmos blockchain para fazer a rastreabilidade, podemos pôr esses dados no passaporte digital do produto, partilhá-los com os compradores e com os consumidores finais», exemplificou, dando conta que os próximos passos passam por aperfeiçoar a plataforma e os serviços que podem ser disponibilizados para lançar um piloto que possa ser testado pelas empresas.

arla Fité Galan, da Universitat Politècnica de Catalunya, apresentou o projeto TRICK, que pretende criar um standard para a indústria para a rastreabilidade através de tecnologia blockchain, enquanto Dieter Stellmach, do DITF, focou a sua apresentação na criação de ferramentas para a avaliação da circularidade de materiais têxteis, que resulta do trabalho feito no âmbito do projeto TRICK.

https://portugaltextil.com/o-papel-do-ecodesign-e-do-pdp/

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