Industria Textil e do Vestuário - Textile Industry - Ano XVI

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Todo mês de janeiro eu distribuo prêmios pelos melhores exemplos de jargão profissional declamados durante o ano que se passou. O Prêmio Abobrinha de Ouro ficou tão popular que decidi introduzi-lo em um universo mais amplo. Portanto, estou criando um prêmio em julho que será concedido a um executivo-chefe pelos Serviços Relevantes Prestados à Conversa Fiada.

O vencedor precisa ser um grande empresário adepto da conversa fiada, do exagero e dos eufemismos, além de confuso e de transmitir emoções falsas. Acima de tudo, ele nunca deve usar uma palavra simples quando existe uma opção muito mais complicada.

Nos últimos meses, analisei ponderações feitas pelos executivos-chefes nos relatórios anuais de suas empresas, além de outros pronunciamentos públicos e, finalmente, cheguei a uma decisão. Houve um breve momento na semana passada em que balancei e considerei a possibilidade de dar o prêmio para Bob Diamond por seu anúncio de demissão, cheio de "classe mundial", "focado no cliente" e todo o falatório sobre sua "equipe administrativa extraordinariamente talentosa". Mas um bom jargão precisa ser obscuro e a mensagem de Diamond foi cristalina. Ela poderia ser resumida em três palavras: "Não é justo!".

Como o novo prêmio leva em conta a meritocracia e não o tempo de serviço - e não faz concessões à diversidade - o primeiro vencedor acabou sendo uma mulher. Ela é Angela Ahrendts, presidente-executiva da Burberry e uma lenda viva em capa de chuva. Suas palavras falam por si sós. Eis algumas delas, que estão no mais recente relatório anual da companhia. "No canal atacadista, a Burberry saiu de portas que não estavam alinhadas com o status da marca e investiu na apresentação por meio de variedades aprimoradas e imóveis personalizados como portas-chave".

Isso atende o critério mais importante para um jargão: ele é completamente impenetrável. Que portas são essas? Terá a Burberry adquirido materiais de construção da Travis Perkins? E o que são variedades aprimoradas? As outras palavras - canal, alinhadas, aprimoradas, chave -, são todas clichês, mas colocar tantas em um espaço tão pequeno requer uma grande habilidade. O relatório inteiro está cheio de expressões misteriosas: "experiência de marca sem costuras", "desfiles de moda digitais" e "presença de produtos sincronizada."

Igualmente misterioso é o que ela tem a dizer sobre comunicação e como ela vem estabelecendo "organismos administrativos que unem executivos experientes à próxima geração de talentos (um conselho dos sonhos)".

Está ela sugerindo que velhos e jovens dormem e sonham juntos? Certamente não.

Também me impressionou uma entrevista chapa-branca que Ahrendts concedeu recentemente à revista da empresa que faz relações públicas para a sua companhia, em que amplia sua ideia de "democratizar o luxo". Além disso, ela diz que tudo é trabalho em equipe e insiste na "remoção do ego" e na "neutralização dos egos."

Assim como as melhores besteiras, até existe uma boa intenção aqui, mas que acaba sendo uma visão parcial da realidade. Até onde me lembro, a Burberry fez o possível para acabar com os chamados "chavs" [jovens arruaceiros do Reino Unido], que estavam profundamente ligados aos seus tecidos axadrezados - o que não foi algo muito democrático. Isso pode envolver equipe, mas Ahrendts, por outro lado, embolsou 16 milhões de libras no ano passado, o que sugere a infiltração de um certo ego em algum ponto.

As únicas palavras fáceis envolviam a descrição de um serviço que não consegui entender. Ele permite a você desenhar sua própria capa de chuva supercara, que Ahrendts afirma oferecer "mais de 12 milhões de combinações e as características mais luxuosas". Levando em conta o quanto acho estressante escolher entre a cor preta e a azul, a ideia de 12 milhões de opções não me parece um progresso. Isso não é democracia, é loucura.

De certo modo, é estranho que o primeiro vencedor do meu novo prêmio seja uma pessoa muito bem-sucedida. Afinal, você pode pensar que pessoas malsucedidas falariam essas besteiras como um truque para ocultar suas falhas. Mas, como o setor de artigos de luxo se baseia em vender coisas a preços exorbitantes, faz sentido ter um linguajar tão inflado para acompanhar.

Há outra história, mais simples, que ela poderia ter contado no relatório: os lucros são altos porque um número inexplicavelmente grande de novos ricos da não muito democrática China acredita ser de bom senso gastar cinco mil libras em uma bolsa ou bem mais que mil libras em uma capa de chuva. Mas essa história não soa bem e é aí que entram os sonhos e os desfiles digitais. A chefe da Burberry juntou papo-furado com grife. Ela merece o meu prêmio.

Lucy Kellaway é colunista do "Financial Times". Sua coluna é publicada às segundas-feiras na editoria de Carreira

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Respostas a este tópico

Acredito que a mediocridade, se levada a serio, pode virar efetividade.

Não é perda de tempo escrever tudo o que esta ai em cima? Não temos outros objetivos maiores para analisar que perder tempo com o que alguem falou ou deixou de falar?

Cada qual em seu universo, fala o que quiser, e cada qual ouvinte, ouve e deleta o imponderave,inconcequente e mediocre.Vai restar alguma coisa boa. Minha avó, que viveu até os 98 anos, me dizia e a meus irmãos e primos, voces devem LER TUDO,TODOS LIVROS POSSIVEIS,TODAS REVISTAS POSSIVEIS, o que não agradar, releia, pois ainda assim deve ter algo de bom.Ela foi alfabetizada somente aos 65 anos.Isto é o imponderavel.

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