Industria Textil e do Vestuário - Textile Industry - Ano XVI

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Investigações recentes dão conta que a libertação de microfibras de algodão, uma matéria-prima natural, pode ter efeitos negativos sobre o meio ambiente e a saúde humana, à semelhança do que acontece com os microplásticos.

[©Unsplash-Naja Bertolt Jensen]

Várias investigações estão a ser efetuadas em todo o mundo sobre a problemática da libertação de microfibras de algodão, adianta um artigo do Sourcing Journal, que cita vários estudos. Um deles, publicado no jornal Frontiers in Ecology and Evolution em 2019, recolheu 2.403 amostras de água de 37 localizações ao longo da costa da África Oriental, desde Lamu, no Quénia, até Zanzibar, na Tanzânia. 49% das microfibras encontradas nessas amostras eram de fibras naturais, sobretudo algodão.

Outro estudo realizado este ano, publicado pela Springer Open, submergiu molúsculos em água purificada e depois em água com 80 microfibras de poliéster ou 80 microfibras de algodão. Os bivalves expostos ao algodão evidenciaram uma diminuição de 18,7% da taxa de crescimento, enquanto nos que foram expostos a poliéster, a diminuição da taxa de crescimento foi quase o dobro (35,6%). A taxa de respiração dos molúsculos também foi afetada em ambas as situações.

De acordo com Britta Baechler, diretora associada de investigação de plásticos no oceano da Ocean Conservancy, as fibras naturais historicamente não foram contempladas nas investigações às microfibras porque os ensaios feitos para as fibras sintéticas muitas vezes eliminavam, não intencionalmente, as fibras naturais das amostras. «É possível que estas fibras estivessem presentes, mas não se percebeu isso porque a metodologia não permitia que estivessem presentes durante a fase de contagem», explica Britta Baechler. «Alguns dos métodos que usávamos destruíam as fibras naturais ou tornavam-nas indetetáveis», aponta.


[©Unsplash-Florian Olivo]

As fibras de algodão não são, por si só, tóxicas, mas o mesmo não se pode dizer dos aditivos que recebem. Um terço do peso de uma fibra de algodão é, muitas vezes, proveniente de tratamentos químicos para resistência às nódoas, retardamento da chama, repelência à água e antimicrobianos – tudo substâncias que são nocivas quando ingeridas. De igual forma, as fibras naturais retêm metais pesados e bactérias, também perigosos para os humanos, revela a diretora associada de investigação de plásticos no oceano da Ocean Conservancy. Mesmo lã lavável “pura” é frequentemente tratada com um revestimento plástico para preservar a fibra, acrescenta.

Outros químicos associados ao algodão incluem pesticidas, que são pulverizados nas plantações e podem não ser eliminados nos processos posteriores, aponta o artigo do Sourcing Journal.

Legislação pode ajudar

A ingestão de microfibras de todos os tipos ganhou relevância após o boom da indústria da moda entre 2000 e 2020, que passou de uma produção mundial de 58 milhões para 109 milhões de toneladas. A lavagem de uma carga de roupa numa máquina de lavar doméstica liberta 700 mil microfibras de todos os tipos no meio ambiente. Durante um ano, há a libertação de 500 mil toneladas de microfibras (que frequentemente inclui, erroneamente, algodão, embora o mesmo não seja contabilizado) ou, como ilustra o The New York Times, 18 a 24 sacos de compras por cada pé [medida equivalente a 30 centímetros] de linha costeira de todos os continentes com exceção da Antártida.

Embora não exista ainda uma investigação sólida sobre a poluição por microfibras de algodão, há já países que estão a lançar legislação específica. Por exemplo, foi aprovada em França uma lei que exige que todas as máquinas de lavar e de secar roupa tenham filtros para microfibras até 2025. O Reino Unido deverá seguir o mesmo caminho e, nos EUA, as autoridades da Califórnia estão a debater o mesmo assunto.

Uma ideia que Britta Baechler acredita ser a melhor a seguir, já que os consumidores facilmente se adaptam. «O que tem de bom a lei das máquinas de lavar é que não exige um novo comportamento. Nós já limpamos os filtros do cotão, por isso não temos de aprender uma forma completamente nova de lidar com a roupa para lavar», conclui.

https://www.portugaltextil.com/o-problema-das-microfibras-de-algodao/

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