Aos 64 anos, o estilista americano Tommy Hilfiger tem a aparência e disposição de um homem de, no máximo, 50 anos. Ele fala com FORBES Brasil sentado em um sofá do Hotel Fasano, em São Paulo, elegantemente vestido com um suéter marinho de sua marca (o que não causa surpresa, já que a cor é uma de suas favoritas), enquanto bebe uma água sem gás italiana. Recém-desembarcado no Brasil, em um voo comercial, sua pele lisa e iluminada não denuncia qualquer sinal de cansaço. Descansado e bem-humorado, ele foge do estereótipo de estilista famoso.
Ao contrário de parte do universo da moda que costuma recepcionar terceiros com um olhar (crítico) de cima para baixo, Hilfiger levanta-se imediatamente para cumprimentar e dá um sorriso. “O mundo da moda é complexo e extremamente competitivo, com diferentes personalidades, marcas e movimentos artísticos. Tem gente comercial, gente apaixonada e gente esnobe. Muitas vivem em um universo de luxo, à parte, raro. Minha posição é diferente da dos outros. Desde o começo, tento construir um mundo mais democrático e aberto em uma marca premium. Meu desejo é fazer com que as pessoas se sintam bem”, explica o americano que se tornou um dos estilistas mais bem-sucedidos das últimas três décadas.
São tantas lojas que levam seu nome — mais de 1.400 em 90 países — que sua rápida vinda ao Brasil gerou comentários surpreendentes nas redes sociais. “Mas ele existe mesmo?”, “Achei que fosse mito” ou ainda “Então ele é real? Pensei que fosse um nome inventado”, reagiram alguns internautas. Sua determinação para criar uma marca própria, o olhar apurado de estilista e o tino comercial transformaram-no em um homem globalmente famoso, amigo de várias celebridades e muito, mas muito rico. Hoje, ele é dono de quatro belíssimas residências (Nova York, Miami, Connecticut e Caribe) e de carros que, vira e mexe, aparecem como os mais caros, belos e desejados em matérias de revistas americanas como a FORBES. “Também tenho uma coleção substancial de arte. Tenho obsessão por arte contemporânea e obras de Andy Warhol, Jean-Michel Basquiat, Keith Haring, Damien Hirst, Tracey Emin, entre outros”, conta.
Nascido em Elmira, nos arredores de Nova York, Hilfiger começou a trilhar sua carreira no mundo da moda a partir da compra de calças jeans e boca de sino, que mais tarde estilizava. Aos 18 anos e com US$ 150 no bolso, abriu a primeira loja chamada People’s Place, em sua cidade natal. Mas com a queda do comércio local e um furacão que destruiu suas instalações, perdeu tudo aos 25 anos. Determinado, ambicioso e extremamente otimista, não se deixou abalar. Até porque seu lema de vida é “o melhor ainda está por vir”.
Com seu talento transparecendo, recebeu convites para trabalhar como assistente de grandes estilistas como Perry Ellis e Calvin Klein. Mesmo sem dinheiro, recusou. “Como resultado da experiência em minha loja, passei a entender o que os clientes queriam, em quais cores, cortes e tecidos.”
Sua inspiração, explica, vem das palavras fame, fashion (moda), art (arte), music (música) e entertainment (entretenimento). “A música e a cultura pop são duas de suas grandes inspirações para mim”, explica o estilista reconhecidamente apaixonado pelas cores azul, vermelho e branco. Um aspecto interessante diante de um mundo que parece ter se rendido à ditadura do preto. “Eu gosto de preto, mas há tantos estilistas usando essa cor… Eu simplesmente não sinto que o preto é tudo. Utilizo esse recurso quando ele se faz necessário. Para muitas marcas, o preto é a cor número um. Para nós, é uma escapatória de vez em quando”, afirma o nome que se tornou referência do estilo preppy americano (de colégio preparatório).
Foi assim que Hilfiger tornou-se símbolo do genuíno estilo de vida americano. Sua proposta sempre foi desenhar roupas clássicas sem ser, necessariamente, tradicionais. “A moda está sempre mudando, mas eu sou mais clássico. Só que eu não quero vestir clássicos normais assim como meus consumidores. Eles demandam roupas que sejam clássicas e descoladas ao mesmo tempo, com qualidade e que também se ajustem bem ao corpo”, explica.
E foi assim, sempre com os olhos e ouvidos abertos ao mundo da música e do entretenimento, que ele caiu nas graças de estrelas como Britney Spears, Beyoncé, Bruce Springsteen e Jennifer Lopez. “Se você reparar, verá que a maior parte das revistas usa poucas modelos. Elas têm preferido as celebridades, que fazem parte da cultura pop. Esta, por sua vez, tem um grande efeito sobre a indústria de moda e também sobre o meu negócio.” Em 2003, o estilista transformou o astro do rock britânico David Bowie (e sua mulher) em garotos-propaganda de uma de suas linhas de roupas.
Essa e outras histórias serão detalhadas na biografia que Tommy deverá lançar no próximo outono americano, retratando desde sua infância até os bastidores no mundo da moda. Suas vendas já somam mais de US$ 6,4 bilhões e vêm dos mercados americano, europeu e asiático. Os números tendem a crescer. “Vivemos em um mundo casual, no qual a moda também se tornará cada vez mais casual. Há uma demanda por roupas confortáveis, mas também divertidas e estilosas. Quem usa terno hoje? Olhe para as empresas de tecnologia e internet que estão transformando o mundo. Antigamente, as pessoas se vestiam bem para ir ao aeroporto. Hoje, você percebe que elas buscam conforto para viajar.” Ele também defende o uso da moda como transformadora de aspectos sociais e diz apoiar projetos voltados a crianças e ao tratamento de doenças como o câncer de mama, por exemplo.
Para quem tinha curiosidade, Hilfiger não deve aderir ao fenômeno das fast-fashions. “Elas basicamente copiam o que veem por aí e oferecem por um preço muito baixo.” Quando pergunto se ele pensa em fazer alguma parceria como fez a parisiense Balmain com a rede sueca H&M, é taxativo: “Temos muito trabalho para fazer em cima da marca Tommy Hilfiger, que cresce muito no mundo e expande suas linhas. Estou sem tempo para isso.”
A resposta não deixa de ser verdadeira. Como diretor de criação da marca desde que a vendeu, em 2006, por US$ 1,6 bilhão para o fundo Apax Partners, ele trabalha 12 horas por dia e participa de dezenas de reuniões — para definir detalhes do próximo relógio de sua grife e até campanhas publicitárias. Foi assim que ele criou uma verdadeira máquina de vendas. Em 2010, a PVH Corp., que é dona da Calvin Klein, arrematou a Tommy Hilfiger Corporation por US$ 3 bilhões. Pergunto se a venda de sua empresa foi um momento traumático. “Não, não foi uma decisão difícil porque sou da crença de que é preciso seguir em frente. E a venda foi pensando na expansão da marca. A partir daí, pude focar no negócio da moda, no marketing e nos desfiles”, conta. “Finanças não são o meu negócio favorito, mas estou sempre muito up-to-date em relação aos números”, garante o estilista com tino para businessman.
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Foto : Letícia Moreira
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